BIATRIZ
Eu já ia entrando com as compras quando ouvi dona Fabiana brigando com a filha. Alguma coisa me dizia que era por minha causa.
- Quer dizer que eu não posso falar com ela só porque, talvez, ela goste de meninas? O que isso tem a ver, mamãe? Ainda outro dia a senhora estava dizendo que isso era normal, quer dizer que é normal quando é com os filhos dos outros...
- Marina, eu não disse isso. Você está gritando comigo, está?
― Desculpe, mamãe... é que eu não entendo. A senhora, que é minha mãe, está me julgando só porque me viu conversando com a vizinha, imagina o resto do mundo ― eu ouvia ela dizer, mas percebi na voz trêmula que ela também estava chorando.Dona Fabiana tentou contornar a situação explicando os motivos de ter feito tal comentário, que se a gente fosse amiga, ela estaria por perto para acabar o falatório, essas coisas que mãe sempre fala. A princesinha mais gata que eu já conheci parecia uma gata selvagem, jogou a sacola com o bolo longe. Quando correu para dentro de casa chorando, se arrependeu e pegou a sacola de volta. Eu também entrei e fui para a cozinha guardar as coisas. A campainha tocou e, quando fui atender, minha mãe já estava abrindo a porta.
- Olha só, quem é vivo sempre aparece. Entra. O que foi? Você está com uma cara... - Ela pegou dona Fabiana pela mão e a fez se sentar no sofá que tinha ali perto da janela que dava para o jardim de inverno.
- Discuti com a Marina por besteira e ela se zangou. Eu fiz minha filha chorar, Lu. Pela primeira vez, ela ficou chateada comigo e me culpa não sei nem de quê - dona Fabiana desabafava com minha mãe.
Momentos antes, minha mãe havia recebido um telefonema da mais recente namorada e jurado que já estava chegando no local de encontro, no entanto agora parecia que tinha se esquecido do encontro.- Fique calma, filhas são assim mesmo. Diferente de filhos homens, as meninas têm os nervos à flor da pele e explodem por tudo, principalmente ela, que está entrando na adolescência, cheia de porquês e se achando a dona da verdade. Se ela tiver esse gênio horrível da mãe, eu tenho pena de você, minha amiga - minha mãe falava e a ligação de amizade das duas era linda de se ver.
- Eu não sou geniosa, Lu. É exagero seu - dona Fabiana falava, fingindo estar zangada com minha mãe.
Subi as escadas sem fazer barulho para não atrapalhar a conversa delas, que estavam sentadas lado a lado, dona Fabiana escorando a cabeça no ombro da minha mãe, que aproveitava para fazer carinho em seus cabelos e cheirar discretamente as pontas. A conversa fluía entre as duas, tive pena do encontro dela, que ia ficar esperando até cansar, pois, se eu conhecia bem minha mãe, ela só iria sair daquele sofá com a amiga quando fosse a hora de dormir.Entrei no quarto e escancarei a janela. Com sorte eu a veria do outro lado, como sempre. Marina ficava atrás da cortina ou janela pensando que eu não estava vendo. Fiquei ali por um bom tempo, olhando, mas ela não apareceu. Peguei meu violão e fui tocar uma música nova que estava aprendendo. Fiquei por ali, tocando e pensando na morena linda e cheia de atitude que morava em frente, nem percebi quando adormeci com o violão ainda em mãos. Senti alguém tirar o violão da minha barriga e automaticamente tentei segurar.
- Mania que você tem de dormir com esse violão na mão. - Minha mãe o guardou no pedestal no canto ao lado da minha guitarra.
- O que aconteceu com você e a Marina? Ou melhor, o que vocês conversaram? - Estranhei minha mãe me questionar, ela nunca fez semelhante coisa desde o dia em que me assumi.
- Nada demais. Fomos à padaria e voltamos conversando, então eu pedi para que ela me levasse na quadra à noite. Qual o problema, mãe? ― Sentei num canto da cama, ouvindo o que viria a sequir.
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🏳️🌈Marina Ama Biatriz (Meu primeiro amo)r Vol. 01 ( Romance Lésbico)
RomanceSINOPSE Marina tem tem 15 anos faltando 4 meses para completar 16 é uma garota como outra qualquer. Negra assumida tem orgulho da cor, de uma família numerosa e cheia de amor, como toda adolescente é cheia de sonhos, e...