CAPÍTULO 20 CIÚMES

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Contém cenas de assédio

Os dias passaram voando e, a cada dia, eu sentia que estava mais apaixonada. Vivia nas nuvens com todas as emoções antes desconhecidas e que agora me afogavam em um oceano nada calmo, porém não me sentia totalmente feliz. Ao contrário, passei a me sentir uma pessoa covarde e dissimulada, capaz de mentir, fingir e negar o que não dava para esconder. Eu não tinha coragem de dizer para minha mãe. Quando ela me abraçava ou subia e entrava no meu quarto para me desejar boa noite, aquilo me dilacerava e, em muitas vezes quando ela saía, eu chorava.

- O que foi, amor? Estou notando você triste, disseram alguma coisa pra você lá na sua casa? - Bia me encarava com o cenho franzido e o olhar cheio de perguntas, em busca de resposta no meu semblante enquanto mordiscava o canto dos lábios, gesto esse involuntário que me fazia ter vontade de chupá-los vorazmente a cada vez que fazia isso.

Ela sentou ao meu lado, colocando o skate com as rodas para cima do seu lado, e me entregou o picolé que trouxe junto. Sentou e abriu o seu, amassando a embalagem em uma bolinha, fazendo um arremesso para a lixeira ali perto e errando.

- Não, é que eu não gosto de esconder o que está acontecendo da minha mãe. Minhas amigas sabem, a metade dos meus irmãos sabem, só a pobre da minha mãe não sabe. Ela não merece isso. ― Rasguei a embalagem do meu e coloquei de lado. Puxei minhas pernas e dobrei, abraçando meus joelhos.

― Eu sei como é, já passei por isso, se bem que comigo foi mais fácil porque minhas mães também são lésbicas, mas para eu me aceitar foi complicado.

― Eu me sinto mal de esconder ou fingir. Não é justo com você, não é justo comigo nem é justo com a mamãe. Eu não estou fazendo nada demais, que culpa eu tenho de amar assim? Eu não pedi isso, eu só me apaixonei por você. Eu queria tanto ter coragem de chegar para minha mãe e contar tudo, mas eu travo, já fui três vezes para perto dela, só nos duas, mas, na hora, eu invento outra história e fico com raiva de mim mesma por ser tão covarde - acabei confessando minha frustração, eu queria ser mais forte.

- Do que você tem medo, amor? Dela não te aceitar ou que ela proíba a gente de se ver? - Eu me aconcheguei entre as pernas de Bia, que estava escorada em um batente da escada em frente à quadra. Não éramos as únicas nessa posição, a maioria das garotas sentavam dessa forma com as amigas e também tinha vários casais de namorados.

- Tenho medo de ver no olhar dela a decepção que eu vou causar. Ela sempre falou em príncipes, rapazes loucos por mim e eu louca por eles, nunca falou numa princesa de olho verde. - Levei suas mãos até minha boca e beijei.

- Se você achar melhor, eu peço a minha mãe para chamar a sua e conversarmos. Aí eu conto a verdade. Minha mãe também tem certeza que não somos só amigas.

- Não, minha vida, esse é um assunto que eu tenho que resolver sozinha. É a minha vida. Estou com medo de abrir a porta e caminhar para o desconhecido, mas vou ter que atravessar, não dá para voltar. Obrigada, assim mesmo. ― O tempo estava passando e a cada dia eu sentia a necessidade de falar tudo, só ainda não sabia como. Eu me aconcheguei em suas pernas.

― Marina, eu contei para Geruza, que está terminando advocacia, para me prevenir contra as coisas que seu pai possa fazer com a gente. ― Pulei, ficando sentada de frente para Bia.

― E o que ela falou? ― Meu coração quase saiu da caixa e ficou aos pulos. Medo era uma palavra doce para definir o que eu estava sentindo.

― Além de passar meia hora passando sermão, entre outras coisas, falou que ele pode proibir da gente de se ver, te levando para morar em outra cidade, na casa de um parente ou num colégio interno ― foi o que ela disse.

🏳️🌈Marina Ama Biatriz (Meu primeiro amo)r Vol. 01 ( Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora