CAPÍTULO 14

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Rodamos um bom tempo com todo mundo gritando para meu irmão a cada vez que passávamos em frente a uma sorveteria ou pizzaria. Matias olhava para Bia pelo espelho retrovisor interno em uma cumplicidade só deles. Eu sou curiosa, não me aguentei e falei, tocando minha coxa na dela:
― O que está pegando? Por que vocês dois estão com essas caras como se estivessem tramando algo? ― Eu estava com cólicas de tanta ansiedade de saber o que eles escondiam.
― Surpresa. Quando chegar lá, todos vão ver, só mais um pouco ― foi tudo que ela falou e permaneceu o resto da viagem com aquele ar de mistério. Evitava me olhar, como se o simples fato de olhar em meus olhos a obrigasse a me contar o que estava escondendo. Depois de rodarmos mais um pouco, quando Matias já estava próximo à CE 040, ele pegou a Washington Soares. Mais à frente, procurou um local para estacionar. Quando nós avistamos onde tínhamos ido parar, a gritaria foi geral.
― Meninas, vamos passar a tarde e uma parte da noite aqui, no Universal Parks ― meu irmão falava com um sorriso que deixava os dentes brancos perfeitos à mostra.
― Já viu o tamanho da fila só para comprar os ingressos? ― Apontei a fila com gente de todas as idades, sem conseguir negar a felicidade estampada no meu rosto.
― Você está falando desses aqui? ― Matias exibia os ingressos de entradas. Quando todo mundo correu para pegar o seu, ele explicou: ― Calma que eu não sou tão bonzinho assim. Com exceção da minha irmãzinha e da Rosy, o restante pode fazendo a transferência de 50 paus para minha conta. A chave do Pix é o número do meu celular.
Lara tirou o celular de dentro de um saco plástico da bolsinha colorida presa ao cinto e repassou o dinheiro. Bethânia, assim que a mensagem chegou no celular do meu irmão, estirou a mão pedindo os passaportes. Logo em seguida olhou para Bia.
― E tu, bonitinha, não vai passar o Pix? ― Bethânia segurava as carteirinhas que Lara passava para suas mãos, esperando Bia responder.
― Eu comprei todos os passaportes em um pacote, só tirei o meu e repassei o restante para o Matias. É ele que vai me pagar no final das contas — respondeu Bia.
― E por que não entregou a cada uma? — Lara ajeitava a bolsinha no lugar, impaciente porque não estava dando certo.
― Porque a promoção era: se comprar no site seis, era cobrado o preço de meia entrada, ou seja, saía a cinquenta paus cada, mas só vendia se todos fossem meias ou noventa na unidade. Aqui no Parks, na hora, está a 120 mangos e não tem meia ― Biatriz respondeu.
As meninas pareciam ter entendido o motivo de estarem pagando agora. Eu, da minha parte, achei super inteligente o que ela fez. Economizou alguns trocados para gastar com comidas, e vou te contar, nesses locais, é tudo caro pela hora da morte.

Com os ingressos na mão, pegamos uma fila que dobrava o quarteirão. Novamente, Bia e eu ficamos bem juntinhas. Na hora de passar pela catraca, Biatriz pediu o meu passaporte e entregou ao rapaz que verificava se os ingressos eram verdadeiros. Parecia que existia uma quadrilha de falsários especializados em fraudar ingressos de grandes eventos.
           — Duas meias, por favor. Aqui estão as carteirinhas. — Bia mostrou duas carteiras de estudantes.
― Hei, como conseguiu minha carteirinha? — Pequei de volta quando o rapaz devolveu e guardei.
― Bethânia pediu que eu te entregasse a carteirinha que você deixou com ela no último jogo.
― Falando em jogo, o treinador estava lá em casa. Vamos disputar um campeonato em outro bairro, quer ir com a gente? ― fiz a pergunta de uma vez antes de travar com vergonha.
― Claro que vou, mas como vou explicar a minha presença junto a vocês? Eu nem jogo no time e, depois, todo mundo sabe que gosto de garotas. Não cai bem para você me levar contigo. ― Ela estava meio pensativa. Eu concordava, claro, que se me vissem com ela num jogo do qual ela não participava, iam falar mesmo. O problema era que eu não dava a mínima para falatórios.
― Eu não estou te levando, estou te convidando. Quem vai te levar é o ônibus, e você vai com a gente, com suas amigas. Qual o problema? ― Ela ficou me olhando com aqueles olhos lindos, talvez se perguntando se valeria a pena. Se ela soubesse o que eu sentia, talvez não tivesse dúvidas, mas a forma como ela falou não era bem o que eu esperava.
― Beleza, me dá um toque do dia e da hora que eu vou. ― Não notei muito entusiasmo da parte dela e, mesmo que eu quisesse muito, não ia insistir, mas o clima mudou.
Será que eu tinha dito alguma coisa que deixou ela chateada? Repensei todas as palavras da última frase e não achei nada que ofendesse, mas ela tinha mudado do nada, então a culpa era minha.
Eu não sabia o que tinha feito, mas não podia deixar esse clima aumentar mais ainda, quebrando uma amizade linda que estava nascendo entre nós. Talvez por isso eu fiz o que fiz no momento em que Bia se debruçava com a vara de pescar e jogava dentro do que foi montado para ser o mar, dentro cheio de brindes. Ela tentava pescar o urso marrom de pelúcia.
― Vai ter que fazer melhor do que isso. Além do ursinho, eu também quero aquelas pulseiras. ― Apontei para um par de pulseiras baratas. O olhar com que Bia me encarou tinha tudo menos raiva ou frieza, seus olhos eram só malícia quando ergueu a plaquinha com o nome do brinquedo.
― O que eu ganho com isso? ― ela sussurrou no meu ouvido e um fogo subiu no meio de minhas pernas e se espalhou por todo canto. Fui rápida na resposta:
― Um abraço e um beijo no rosto. ― Eu sabia que estava pisando em brasas e provavelmente ia me queimar, mas estava louca para que isso acontecesse.
― Prefiro um abraço e um selinho ― ela falou, olhando direto para minha boca enquanto recebia o urso e colocava entre as pernas.
Ajeitando novamente a vara, jogou no mar artificial. Minhas pernas estavam como uma geleia e eu não tirava o olhar do anzol, ora torcendo para ela pegar a prenda, ora querendo que ela errasse. Quando levantou o anzol, não veio nada pendurado. Ela me olhou, passando para os meus braços o bichinho de pelúcia.
― Salva pelo gongo. E eu perdi um selinho seu. É uma pena — comentou.
Bia me olhava, esperando que eu desse uma resposta, mas como eu não sabia o que dizer, peguei o urso e, antes que ela saísse, aproximei-me depressa, dei um beijo no rosto dela e me afastei com o coração aos pulos.
Ao longe, ainda pude ouvir a gargalhada estrondosa que ela deu, chamando a atenção das pessoas que passavam por ali. Cheguei próximo a Rosely e cruzei meu braço no dela. Quando Bia chegou próximo, ainda com aquele sorriso no rosto, Rosely me puxou num canto e segredou:
― Cuidado, Marina, a Bia é um caminhão de emoções e sentimentos desconhecidos por você, que é uma menina pura. Cuidado para não se afogar, minha amiga. ― Eu sentia a preocupação na voz da minha best friend, mas eu já tinha me afogado e não queria voltar à segurança da praia, queria mais era que essa onda me levasse para caminhos desconhecidos.
― Vou tomar cuidado, se bem que já estou me afogando e adorando tudo ― respondi.
Rosy me olhou com os olhos espantados, mas não deu tempo de perguntar mais nada, meu querido irmão a abraçou e levou a garota para a fila da roda gigante enquanto ela caminhava e olhava para trás cheia de perguntas que eu tinha certeza de que não deixaria passar de hoje.
― Marina, por favor, não me convide para brincar na montanha-russa, viking ou no loop que eu não vou nem morta. Me pelo de medo de altura. O máximo que suporto é montanha-russa, a menos que queria que eu jogue o almoço em cima dessa roupa linda. ― Achei que Bia estava de brincadeira, mas a sua mão fria dizia muita coisa.
— Eu adoro todos eles, mas tudo bem, não vou forçar a barra. Podemos ir no samba ou no trem fantasma. Pronto, vamos no carrinho de bate-bate. O que não vai faltar é diversão.
E realmente não faltou. O que faltava mesmo era paciência para enfrentar as filas que se formavam em qualquer brinquedo para onde a gente ia. Já tínhamos ido em quatro dos vários brinquedos e estávamos na fila da roda gigante. As cadeiras eram para quatro pessoas.
Na hora de subir, Bia segurou na minha mão e subimos. Não sei de onde surgiram as duas garotas que entraram junto conosco. Uma delas empurrou a outra, que caiu em cima de mim, me obrigando a sentar no canto. A outra veio e sentou ao meu lado e a pobre Bia ficou no meio das duas. No momento em que foi pedir para trocar de lugar, o rapaz mandou que sentasse e travou nossa cadeira.
― Eu morro de medo, amiga, de andar nesse brinquedo. Você também tem medo? ― Pois a garota estava cheia de intimidades comigo, como se fôssemos vizinhas. ― A minha amiga ali ainda é mais medrosa do que eu, a gente só vem por causa da adrenalina — continuou ela.
Nisso, a roda chegou ao ponto mais alto e parou. Uma das garotas agarrou meu braço e a outra, por azar, agarrou a Bia, que, quando olhei, estava mais verde que limão.
― Amiga, teu namorado está passando mal, olha — disse a menina ao meu lado.
Olhei e realmente ela estava passando mal. O corpo balançava, parecia que ia desmaiar, seus olhos se fechavam e abriam e o semblante era de quem estava apavorada. Caí toda em cima da garota metida e segurei nas mãos da Bia, que estavam frias como gelo.
― Abra os olhos, olhe pra mim. Não durma. Você precisa se segurar, eu vou pedir ao homem para parar. Me ajudem aqui, as duas, passem o braço em sua cintura e não deixem “ele” cair. ― Eu estava ficando com medo de ela cair. Uma queda daquela altura seria fatal.
Quando a roda gigante se aproximou do chão, gritamos pedindo para parar, mas ela passou tão velozmente que o funcionário achou que estávamos gostando e aumentou a velocidade. Bia continuava querendo desmaiar, as lesadas segurando-a e eu segurando em sua mão e a todo momento conversando. Foi então que me lembrei do meu celular e, com todo cuidado, morrendo de medo de ele cair e se espatifar lá embaixo, liguei para meu irmão. Quando ele atendeu, eu desabei a chorar.
― Matias, a Bia está passando mal... está quase desmaiada. Não sei. Pede pro homem parar a roda gigante, ela está muito rápida.
Guardei o celular e fiquei segurando a mão da Bia. A garota metida, vendo meu desespero, fazia de tudo para liberar espaço. Só então ela e a amiga perceberam que não estavam com medo. Quando a roda gigante se aproximou do chão novamente, minha família quase toda estava lá embaixo.
Marcos e Marcelo tinham ido buscar Virginia e todos estavam lá. Quando tiramos Bia da cadeira, ela saiu nos braços do Marcelo, meu irmão mais velho. Sentamos todos no chão mesmo e uma multidão de curiosos ficou ali por perto. Marcos ofereceu um pouco do líquido que ele trazia no bolso da calça. No momento, eu não quis nem saber o que era. Quando a bebida chegou à garganta da Bia, teve o efeito necessário. Bia levantou e, meio trôpega, correu, se escorou num pé de arvore — o Parks todo era dentro de um bosque — e vomitou aos montes. Passou a mão na boca e me olhou, meio envergonhada.
― Agora imagina se a gente tivesse ido na montanha-russa — ela comentou.
Foi Marcos quem respondeu:
― Ao invés de vomitar, você teria se cagado toda.









🏳️🌈Marina Ama Biatriz (Meu primeiro amo)r Vol. 01 ( Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora