CAPÍTULO 03

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                       A quadra estava lotada, era sempre assim em dias de jogo das meninas. Mesmo as meninas ainda não jogando lá essas coisas, o motivo era o time estar sempre desfalcado. Toda vez que um pai machista descobria que a filha estava jogando futebol, tirava a garota, que muitas vezes era até proibida de andar com a turma. Mesmo assim, sempre havia uma boa plateia. Quase todos os garotos do bairro vinham, alguns para paquerar, outros para se exibir e outros pelo futebol mesmo.
Fui chegando de mansinho e deitando a bike no meio fio e ali mesmo me sentei. O jogo já estava no finalzinho do primeiro tempo e, na defesa, posição em que eu costumava jogar, havia uma novata. A menina que morava na rua debaixo estava se saindo muito bem, diga-se de passagem, mas meu santo não bateu com o dela. Tinha uma coisa nela que não me deixava à vontade. Nem adianta me dizer que estava com ciúmes por que ela está jogando no meu lugar que não era verdade, eu só não sabia o que era, aliás, eu também não sabia muita coisa na minha vida.
                       

                   Quando o juiz apitou o fim do primeiro tempo, todos correram para o bar do seu João, que ficava em frente à quadra, na pracinha. Todo mundo aguardava ansiosamente o momento em que Glaucia, Betânia e Lara, que eram as únicas acima de dezoito anos, fossem comprar a cerveja. Nessa hora era um derramamento de água infernal. Todas do time esvaziavam as garrafinhas d’água para encher quando o trio voltasse e colocavam as garrafas em cima da mesa aguardando o líquido proibido.

                     Certa vez, quando fui beber, não gostei nem um pouco do sabor amargo, embora o cheiro fosse bom. Nunca mais tentei beber aquilo, gostava mesmo era de Coca-Cola bem geladinha com rodelas de limão e gelo, isso sim eu bebia até estufar a barriga. Seu João, o dono da mercearia, não vendia para menores. A pessoa podia até beber, mas que a garrafa não fosse entregue pelas suas mãos. Quando perguntavam, ele sempre falava: “Rapaz, afinal, o que são três cervejas para vinte e uma meninas explodindo adrenalina pelos poros? Isso não dá nem meio copo para cada uma. Essa meninada aí toda tem mais de quinze anos e garanto que, em festas de família, elas bebem mais do que isso”.

— Marina, chega aqui — chamou o treinador do outro lado do balcão, secando o rosto em uma toalha laranja, cor do nosso time.

— Diz aí, treinador. ― Coloquei meu refrigerante em cima da mesa próxima enquanto esperava ouvir o que ele tinha a dizer.

— O desgraçado do Madureira tá vindo pra cima da gente com garra, querendo mandar a gente pra casa mais cedo. A Ana Clara tá dando conta do recado do jogo duro e ela tem mais tempo com bola do que você. Vou colocar ela no segundo tempo e vou te deixar de molho no banco. Caso ela fique cansada, você entra, tudo bem?

― Ele derramou uma garrafinha de água na cabeça, molhando tudo próximo. Fui obrigada a pular rapidamente para trás, se não meus tênis brancos ficariam enlameados.

― Para mim, está de boa. Se o senhor acha que é melhor, vou ficar no banco assistindo. Qualquer coisa, estou aqui.

― Eu tinha certeza de que não era tão boa quanto a outra menina e, se eu quisesse que meu time ganhasse das cretinas que jogavam no Madureira, o melhor era ficar no banco.
Para ser sincera, eu não era louca por bola como minhas amigas. Gostava sim da adrenalina, usava o jogo como um meio de me manter em forma e, no meio da galera, tinha a chance de conhecer alguém que pudesse me interessar. Adorava a sensação de pertencer a um grupo, os passeios aos locais onde o time ia jogar, as vezes em que viajava no final de semana para outra cidade sem pai, mãe ou irmãos, bastando que os pais assinassem uma autorização e pronto. Amava me sentir livre, ser qualquer coisa longe da minha família.

🏳️🌈Marina Ama Biatriz (Meu primeiro amo)r Vol. 01 ( Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora