CAPITULO 19 CINEMA NO SHOPING

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Dias depois

               Com o passar dos dias, ficou cada vez mais difícil contar a verdade para minha mãe e, na mesma proporção, ficar distante de Biatriz era impossível. Com o início das aulas e ela estudando no mesmo colégio, pensávamos que íamos ter mais tempo para ficar juntas, mas foi um engano. O terceiro ano do Segundo Grau era todo separado do restante dos alunos; para eles, tinha um andar inteiro com seu próprio refeitório, laboratórios químicos e de redação. A Bia entrava às 7h da manhã e saía às 18 horas. Tudo era feito no colégio, os horários de intervalo eram diferentes dos da turma do segundo ano, que era a minha turma. Somente à noite estávamos juntas fisicamente, uma vez que passávamos todas as folgas no celular. Quase nunca tínhamos chance de ficar a sós, sempre tinha um irmão ou amigo. Trocar carinho só escondido na hora de se despedir em frente ao portão.

Tudo isso eu tinha consciência de que chateava a Biatriz, ela nunca teve que se esconder de nada ou ficar escondida como se estivesse fazendo algo errado e, mesmo sabendo que ela estava do meu lado, eu sabia que não era assim que ela queria estar comigo. Meu pai, a cada dia que passava, ficava mais desconfiado. Deixei de ser a garota que vivia grudada nos livros para ser a garota grudada no celular. Músicas românticas passaram a ser a minha trilha sonora preferida.

O sábado amanheceu radiante e, aos sábados, meu pai passava o dia em casa fazendo churrasco com os amigos do trabalho e, aos domingos, ele participava de jogos e campeonatos também com os amigos no clube, só chegava à noite e muitas vezes a gente nem via a hora que ele chegava. Aos finais de semana, a parte do lazer da casa não era nossa, a não ser quando um dos meus irmãos avisava que ia usar a piscina. Aí, sim, a farra era toda nossa.

Minha mãe proibiu que qualquer um dos amigos do meu pai tivesse acesso à casa desde o dia em que ela percebeu um deles, já meio alto de cerveja, ficar olhando para mim e ficar sorrindo para ela a cada vez que passava.

Quando um dos amigos perguntava pela patroa, ele sempre respondia: “está lá dentro, cuidando das crianças”. Mentira, mamãe se recusava a participar. Logo hoje seria um dia em que eu não poderia ver Biatriz, a não ser à noite na quadra, o que ia demorar muito. Por isso, recorri a minha amiga Rosely, que agora passou a ser a namorada oficial do meu irmão.

— Rosely, minha cunhadinha linda ― comecei adulando.

— Qual o jogo, Marina? Desembucha logo. ― Ouvi um barulho de secador, o que significava que ela estava se produzindo para sair mais tarde com meu irmão. Eu não poderia perder essa chance.

— Que é isso, cunhada? Assim me magoa. Será que eu não posso elogiar minha best friend e cunhada do coração? — já fui logo apelando.

— Poder, pode, mas por enquanto você só tem a mim de cunhada, já que seus irmãos são tudo uns galinhas. O que você quer, cunhadinha dissimulada? ― Ela ria do outro lado da linha.

— Olha, hoje é sábado, tem uma tarde linda. As meninas querem ir passear no shopping e ver filmes. Convida o Matias, aí eu me ofereço para ir também. Por favor, faz isso — eu pedi com a voz mais doce do mundo.

― Beleza, mas por que não pode ir só com as meninas?

― Por que a Bia vai e sabe como meu pai é, vai querer a relação de todas e, quando souber que a Bethânia vai com a Lara, ele vai fazer questão de abrir o portão para ver se a Bia saiu de casa e não vai deixar eu ir, mas, se o Matias for, ele não tem como dizer não.

― O lance de vocês é sério mesmo? ― Rosely perguntou como se já soubesse a resposta. Eu me senti como se alguém me puxasse para fora de mim. Não sei descrever a sensação que estava sentindo com a pergunta, era um turbilhão de coisas que me assustava, me dava vergonha, medo de ser apontada. O certo a dizer é medo de ser diferente das outras pessoas, mas, acima de tudo, me dava forças para querer ser eu mesma e resolvi dizer a verdade:

🏳️🌈Marina Ama Biatriz (Meu primeiro amo)r Vol. 01 ( Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora