Adeus Simon

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Semanas se passaram, e os dois pequenos conseguiram se acostumar com a perda dos avós. A mãe ainda estava de luto, mas conseguia fazer as tarefas do dia a dia. Eles voltaram a ser uma família feliz.

Mas não por muito tempo.

Numa bela tarde, os dois irmãos estavam brincando de jogar bola. Eles estavam brincando na calçada, já que a rua deles era muito movimentada. Estavam felizes, brincando normalmente, até que a bola escapa e para no meio da rua.

- Deixa que eu pego! - falou a menina toda sorridente.

Pobrezinha, ela mal sabia o que iria acontecer. Mas seu irmão sim.

A menina foi até a rua, e pegou a bola. Mas no exato momento em que seus dedos pegavam o objeto, aparecera um carro a toda a velocidade.

- Baixinha, NÃO! - gritou o irmão desesperado.

E no último segundo, o menino empurrou a irmã, e foi atropelado em seu lugar.

A menininha não acreditara no que acabou de presenciar. Ficou pálida, e abraçava a bola com toda a força que podia, enquanto olhava o corpo inerte do irmão. Então deu um grito, o maior de já dera na vida. Seus pais sairam da casa na maior velocidade, assustados com o grito da filha, e presenciaram a cena. A mãe caiu de joelhos, e explodiu em lágrimas, já não bastava perder os próprios pais, tinha que perder o filho. O pai deles correu para dentro, e ligou para uma ambulância.
Voltou para fora e pegou a filha no colo, e tampou seus olhos.

- Filha, eu sinto tanto que você tenha presenciado isso... -e foi a vez do pai começar a chorar.

O desgraçado do motorista tinha fugido, com medo do que iria acontecer. A garotinha voltou a realidade depois do choque:

- Era pra ter sido eu... - falou ao pai.

- Filha, não diga isso... - respondeu o pai, engolindo o choro.

- ERA PRA TER SIDO EU! - berrou a filha, tentando falar no meio das lágrimas. - SE EU NÃO TIVESSE DEIXADO ESSA BOLA ESTÚPIDA SAIR DA CALÇADA, O SIMON AINDA ESTARIA VIVO...!

A mãe, ao ouvir essas palavras, berrou ainda mais em choro. Depois de alguns minutos, a ambulância chegou, e levou o menino às pressas ao hospital, onde constataram o óbvio. Simon havia morrido. Não conseguiu sobreviver ao impacto. A mulher acabou desmaiando, não conseguia acreditar naquilo, e foi levada até um leito pra descançar. Pai e filha não trocaram mais nenhuma palavra, estavam se contentando com o silêncio e os abraços. O choque era muito grande. A menina tinha acabado de perder uma das pessoas que mais amava na vida, aquele que sempre a apoiava em tudo, que sempre a defendia... E presenciou isso. Era o suficiente para estragar uma vida inteira. Acabou dormindo nos braços do pai. As imagens da fatalidade passavam pela sua cabeça durante o sono. Chegou a acreditar que tudo aquilo era um pesadelo e que logo iria acabar...

Mas quando acordou numa ala hospitalar, com sua mãe e seu pai, e sem seu irmão, percebeu que tudo era real. Nunca mais veria Simon denovo. Nunca mais falaria com ele, nunca mais brincaria com ele. Nunca mais irritariam os vizinhos juntos, tocando as campainhas e jogando ovo em seus carros. Perdera ele, para sempre.

A família voltara para casa, mais vazia do que nunca. A menina foi direto para o quarto do irmão, e admirou umas das últimas coisas que teria dele. Acabou achando em cima da mesa um colar de cordão, que ele costumava usar. Pelo visto, ele tinha acabado esquecendo de colocar, depois que tomou banho. Ela riu desse pensamento, era tão a cara dele fazer isso... Acabou ficando com o colar, e não o tirou mais. Era um colar simples, que tinha uma pena negra como pingente. Essa pena era estranhamente familiar... Era como se ela fosse uma parte de Simon.

A menina acabou se mudando para o quarto do irmão, e não saiu de lá até seu funeral. Todos os parentes amavam muito Simon, já que ele sempre fora carinhoso e bondoso com todos, mesmo sendo uma criança. Sempre ajudava todos quando podia, ele tinha um coração de ouro. Muitos de seus amigos estavam lá, em prantos, e lamentando a perda de seu amigo querido, e principalmente, dando seus pêsames a menina. Eles tinham noção do quanto Simon amava a irmã, e a protegia a qualquer custo. Quando o caixão foi abaixado na terra e enterrado, ela não tinha nenhuma força para continuar. Não sabia como iria seguir, sem ele ao seu lado.

E permaneceu melancólica pelos próximos 15 anos. Foi quando a menina, ou melhor, Katie Guardian, encontrou uma solução para todo o sofrimento que ela não tinha superado.

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