Mundo dos vivos - dia 3 (parte 2)

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Continuando...

Katie P.O.V

Meu coração está acelerado. Não sei o que pensar. Uma aparição inesperada da minha tia...? Do completo nada...? Algo grave deve estar ocorrendo...

- Quem é essa...? - Valkyon susurra, enquanto vemos Katherine abraçar meu pai, e eles indo para a cozinha.

- É a minha única tia... É incrivelmente raro ela vir nos visitar... Bem, visitar meus pais... Tia Katherine é nômade, nunca têm uma moradia certa, e, quanto mais exótica e escondida for sua nova morada, melhor... Ela é um doce, queria ter convivido com ela por mais tempo... - engulo em seco - Tenho medo do motivo de sua visita...

Fico quieta, aguardando qualquer palavra vinda de um dos dois. Mas nada. Eles ficam apenas se encarando, e Tia Katherine abre a boca diversas vezes, mas as palavras nunca saíam de seus lábios.

Até que conseguiu.

- Thomas... E-Eu sinto tanto...

Suas palavras dilaceraram meu coração, que foi mais destruído ainda com a reação de meu pai: ele abraçou a irmã, desesperado, e caiu em prantos. Meu pai nunca chorava. NUNCA.

Titia ajudou meu pai a se sentar num banco, e passou uma mão confortadora nas costas do irmão.

- Como aconteceu...? - Tia Kath lhe pergunta.

- E-Ela finalmente quis sair de casa em anos... Jannet não quis me dizer o porquê. E-Então... - as palavras custam a sair da boca de meu pai, por causa de seus soluços incessantes. - Parece que ela foi capturada por bandidos...

- Meu senhor! - Tia Kath diz, indignada e enormemente triste.

Meu pai lhe lança um olhar perdido.

- E-Eu a encontrei, no meio do bosque, perto de vários cogumelos dilacerados... Jannet foi cruelmente baleada. Chamei ambulâncias e a polícia... Mas não chegaram a tempo...

Minha tia fica sem palavras.

- Jannet era uma mulher estraordinária... Eu sei o quanto você a amava...

- O que eu vou fazer... Sem ela...? - meu pai diz, entre soluços.

- K-Katie...? - Valkyon me chama, com a voz cheia de pesar. Acho que ele ligou os pontos de tudo, como eu...

Estou pálida e gelada, com os olhos marejando. Pareço um cadáver. Minha mãe morreu. Foi assassinada. Cruelmente. E eu não estava aqui para ajudá-la.

Sinto vontade de gritar, de quebrar algo, de ir atrás dos bandidos e matá-los. Mas nada a traria de volta... Nada...

- Uma coisa que n-não entendi... - meu pai fala.

- O quê? - Tia Kath responde.

- Foram suas últimas palavras...

Levanto minha cabeça. Nem percebi que estava abaixada.

- Quais foram...?

- "Eu te amo Tom, e, se algum dia, você conseguir se lembrar..." - ele dá uma pausa para recuperar o fôlego. - "Diga a Katie que a amo também."

Meu coração foi pisado. Atropelado. Baleado. Eu sentia todas as dores que meu irmão e minha mãe provavelmente sentiram em suas mortes. Ela se lembrava de mim. ELA SE LEMBRAVA DE MIM. E eu? O que fiz? Os abandonei, pensando que saí de suas memórias para sempre. Me sinto asquerosa, culpada. Se a teoria de Valkyon estiver certa, se minha mãe é... foi uma aengel, ela saberia de Eldarya, e foi até o círculo de cogumelos, provavelmente para me procurar. Saiu de casa, após quinze anos escondida, por mim. POR AMOR A MIM.

- Mas... Quem raios é Katie?

- Essa é a pergunta que me fiz o tempo todo... - papai admite a irmã.

Era demais. Demais para suportar. Eu não consigo nem respirar direito agora. A única possível pessoa que se lembrava de mim, estava morta. E eu nem me despedi...

- A cerimônia foi linda... - minha tia diz, tentando reconfortar meu pai.

- Nunca mais quero voltar a um cemitério. NUNCA. Primeiro, foram meus sogros, depois meu próprio filho, e agora, o amor da minha vida... Se você for a próxima... Eu...

- Não fale isso Thomas! - Tia Kath o corta - Eu não irei morrer da noite para o dia. Eu não vou te abandonar tão facilmente assim...

Eles se abraçaram. Me lembrei do velório de meus avós. Simon me abraçou da mesma maneira, nós dois repartindo a mesma dor... 

Dessa vez, não tenho ninguém para repatir essa dor. Não irei incomodar Valkyon com isso, e Leiftan...

Leiftan...

Ele também está morto. Eu enterrei esse fato nas profundezas dos meus pensamentos. Agora o luto veio com força total. Todos que eu amo, morrem. Absolutamente todos. Sou uma espécie de maldição... Quando entro na vida de alguém, a Morte virá, na certa...

Parece que meu último resquício de família foi para o jardim dos fundos. Sem pensar duas vezes, começo a correr. Saio da casa, deixando Valkyon. Corro para o bosque, chorando. Não paro de correr, até que chego no lugar onde minha mãe perdera a vida. No lugar onde eu a abandonei...

Caio de joelhos, sem forças. Deixo as lágrimas rolarem, esperando que algo acontecesse.

- Mamãe, desculpe... Desculpe... Eu também te amo... Mamãe... - falo, soluçando.

E fico repetindo durante uns minutos, até que Valkyon consegue me encontrar, carregando todas as coisas que pegamos da casa. Ele deixa tudo na grama, e se ajoelha ao meu lado, me abraçando.

Não sei mais o que fazer, realmente, não sei...

Continua...

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