Prólogo

514 30 32
                                    



Meu maior questionamento nos últimos dias é: por que as pessoas choram?

Digo, que tipo de sistema é esse que reage da mesma forma quando morre uma pessoa importante, quando nasce alguém amado ou quando você corta cebola?

Penso nisso enquanto outra lágrima atravessa minha bochecha e escorre pelo meu pescoço. Mas as minhas lágrimas não são de alegria, muito menos de cebolas sendo cortadas. Essas lágrimas que se juntam com outras mais em meu colo são consequências desse sentimento arrasador, que me mutila por dentro e transborda pelos olhos.

Ele é tão forte que me tira o ar, tão real que não me deixa esquecer por um segundo, tão prolongado que parece mais um filme dramático de longa duração daqueles que arrancam lágrimas infinitas. Eu não sem nem nomeá-lo, tristeza não parece o suficiente.

Levanto e vou até a janela, contemplando o tempo cinza e as folhas secas do outono enquanto a chuva vem se aproximando. Vejo pessoas correndo dos primeiros pingos que se manifestam, cruzo os braços apertando meu casaco contra meu corpo na falha tentativa de aliviar o frio, que não tinha nada a ver com o tempo lá fora, mas sim com o que tenho aqui dentro, na alma. Ou com a falta do que eu costumava ter.

Solto um longo suspiro e volto para a cama. Tenho que enviar meus últimos trabalhos do semestre, mas insisto em continuar tentando buscar uma explicação para isso que está dentro de mim, na esperança de qualquer coisa sólida surja e eu tenha a que me agarrar. Encaro a frente, no escuro do quarto esperando pelo alívio. Mas ele não vem. Ninguém vem. Eu estou sozinha, completamente sozinha.

O toque da campainha me desperta dos pensamentos, mas ignoro e volto a atenção para a tela do notebook. Meus pensamentos somem como uma nuvem de fumaça após um sopro. Encaro com orgulho o anexo do meu trabalho recém terminado e abro um leve sorriso.

— Que seja — respirei fundo e cliquei.

Enviei o último trabalho do semestre. Enfim livre por alguns dias. 

A campainha tocou novamente, agora junto do meu celular que berrava perdido em algum canto do quarto. Levanto e caminho sem ânimo pela a casa que um dia foi testemunha de uma felicidade invejável.

Ao chegar na porta da frente, espio pelo olho mágico para ver de quem se tratava. Pergunta que eu já deveria saber a resposta.

— Felix! — finjo surpresa ao abrir a porta.

— Está sozinha? — entrou varrendo a sala com os olhos.

— Sim? — faço a pergunta de forma retórica — Com quem mais estaria?

— Sua namorada, talvez. — disse confiante.

— Você sabe que Emi e eu terminamos faz quase três meses. — sentei no braço do sofá, acompanhando Felix com o olhar.

— A secretária do seu chefe então. — palpitou e ficou próximo a mim, ainda em pé.

— Elisa? — a incredulidade se fez presente no meu tom — Ela é uma gracinha mas não quero nada fora do profissional.

— Você não quer nada com ninguém, Cosima. — bufou desistindo de me provocar e seguiu para a cozinha.

— O que você quer aqui? — perguntei o seguindo e parei no batente da porta.

— Vim te buscar — informou decidido fechando a geladeira.

— Para? — indaguei desconfiada observando ele abrir os armários.

— Te levar para casa. — informou, virando-se ainda a tempo de me ver revirando os olhos. — Você precisa fazer umas compras. — bateu a última porta e me olhou.

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora