Electric Lady

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"Você está alcançando meu coração rapidamente
Você está procurando por algo
Que é exatamente como se comporta a eletricidade
Agora preciso disso em algum lugar
As outras não duram
Espere um minuto, sinto que estou sendo cobrado
Eu devia saber o quanto você brilha no escuro
Você se acende enquanto te toco com as faíscas" Justin Timberlake - Electric Lady



O toque do celular saiu em um eco abafado de dentro da bolsa. Esticando-me na cama para apanhá-la, deparei-me com o alarme anunciando o horário de outra dose da medicação que Dra. Vivian havia prescrito novamente, assegurando-se que eles me auxiliariam a estabilizar as reações emocionais. Busquei minhas roupas íntimas pelo carpete em torno da cama e as vesti enquanto caminhava rumo à cozinha em passos preguiçosos e lentos. Desorientada pela escuridão, abri a janela do cômodo. Com a luz do sol atingindo boa parte do apartamento, encorajei-me a encontrar a caixa de remédios entre a desordem da gaveta do armário. Junto dela, a receita médica detalhada.

Antipsicótico, moderador de humor e antidepressivo. Companheiros para toda a minha vida, aparentemente. Desdenhosa, retirei-os das cartelas e juntei-os em minha palma fechada. Na porta da geladeira, busquei uma garrafinha d'água. Fitei os três comprimidos antes de engoli-los. Embora acostumada com sua presença desde minha adolescência, nunca conseguia ingeri-los sem sentir a íntima impressão de incapacidade. Afinal, era para aquilo que eles serviam. Para me lembrar de que não era capaz de me controlar e ser independente de mim mesma.

— O que está tomando?

— Vitaminas. –virei-me para trás, visualizando a silhueta de Tom surgindo ao corredor do banheiro. Ao encarar seus olhos, repreendi-me por ter que mentir. Seu cenho se franziu com evidente questionamento. E sorri internamente, feliz em constatar sua percepção aguçada. — Posso te oferecer alguma coisa para comer? Beber?

— Não sei se minha nutricionista está disposta a abrir exceções para congelados em minha dieta. –estreitou as órbitas coloridas para mim, arqueando ligeiramente as sobrancelhas. — Estou em um programa de alimentação para manter a massa corporal para The Night Manager.

— Sorte a sua que eu tenho alimentos de verdade por aqui. –gracejei. Deixando o copo sobre a pia, comecei a pensar em algum prato rápido para se preparar.

— Oh não, Amélia! –postulou. — Não tenha esse trabalho. Por favor.

— É uma falta de educação negar minha boa vontade de fazer um lanche para você. –censurei-o. — E, aliás, estou disposta a preparar algo brasileiro para você comer.

— Brasileiro? –replicou com um tom interessado. Meus lábios se esticaram em um sorriso involuntário.

— E não se iluda ao pensar que irei dizer o que é. –com todos os ingredientes que precisava em mãos, coloquei-os enfileirados próximo ao fogão. Tom pousou o olhar em meus movimentos, provavelmente atento em identificar qualquer coisa que o pudesse dar alguma dica sobre o prato.

— Você guarda mistérios demais. –reclamou. Antes que pudesse sorrir de sua postura, Shakespeare aproximou-se rapidamente e rodeou meu corpo, buscando se sentar sobre o balcão de minha cozinha em uma posição irritantemente planejada. Aconchegado ao meu lado, cruzou os braços em frente ao corpo, como uma criança birrenta.

— Luke tem razão, você é um falso adulto.

— Esse falso adulto está muito satisfeito com a visão que está tendo agora. –semicerrou os olhos, encarando-me com os lábios entre os dentes.

— Se algum dia eu conhecer sua digníssima mãe, relatarei a ela sobre sua personalidade depravada, Hiddleston.

— Você está cozinhando com roupas íntimas e é minha mãe quem deseja relatar? –indignou-se. — Eu deveria relatar você.

Lanterna dos AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora