Evitiamoci

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"Evitando-me não vai sofrer, evitando
Me evitando você vai entender nos salvar
Evitando não perdeu.
Eu faço isso com você
Eu aprendi a crescer
Eu levo minha liberdade
Eu não tenho medo de assumir riscos
E, em seguida, perder
E eu sei que o tempo vai esperar." Marco Mengoni - EVITIAMOCI




O peso do trabalho de segunda-feira me transformou em uma pessoa bem rancorosa ao meio-dia. Sentada à mesa desde as oito da manhã e ingerindo copos e mais copos do café fervoroso da boa e velha máquina do corredor, busquei completar meu último livro da lista dada no mês e, ao finalizá-lo, fugi alguns minutos para o meu próprio documento quase abandonado no Word. Os parágrafos aleatórios e descrições frequentemente alteradas à mercê de meu humor instável tornavam-no algo menos palpável que a estúpida ideia de escrevê-lo com tantos dilemas acrescentados à minha vida. Dali eu percebia que, mesmo tendo em mente boa parte do roteiro, minha mente não era capaz de desenvolver as falas sem que meu constante badalar de preocupações intervissem nos personagens e os transformassem em mim. Muitos personagens e todos iguais em pensamento. Aquilo realmente não iria ir para lugar algum.

O ponteiro grande do relógio atingiu a marca doze de forma irritantemente lenta. Apesar de estar inerte o bastante para permanecer sentada e imóvel em minha pequena e desarrumada mesa, o estômago, por outro lado, me gritava socorro. Seguindo os demais funcionários, trouxe à mão minha bolsa desgastada e prossegui o fluxo de pessoas apressadas entre o labirinto de paredes de vidro esfumaçado e os corredores mediamente largos do nosso andar. Em um certo ponto, bem próximo ao elevador, todos se encontraram. E ali eu notava o quão grande era aquela empresa. E como dava trabalho. Já me parecia não ser vaga o suficiente para tantos empregados. Realmente era hora de mudar alguma coisa quanto à concentração de tantos no prédio central. Jaime tinha que dividi-los entre as filiais.

Ao abrir de portas do elevador, tive de me esgueirar diante do pequeno formigueiro que se formava à entrada principal da editora. Sem ânimo para investigar a razão de tanta euforia, segui em frente o quanto podia, torcendo para que ninguém se chocasse contra mim. Antes mesmo de alcançar a porta giratória meus olhos se focaram em uma imagem não muito comum no meu dia-a-dia. Encostada à lataria de um BMW, Olívia, acompanhada de um homem desconhecido, acenava para mim com a mão esquerda, chamando-me com um sorriso animador estampado no belo rosto. Enganando meu mau-humor com sua simpatia, virei-me em sua direção e desisti de correr para meu almoço. Sabia que sua presença significava alguma coisa importante. E não estaria ali caso contrário. Apreensiva por más notícias apressei os passos pela calçada movimentada e tomei marcha ao seu encontro, sendo recebida por um amistoso abraço acalentador. Estava ligeiramente gélida, embora o dia estivesse em um clima ameno.

— O que faz aqui, Olívia? –perguntei entre o abraço, afagando o cabelo caído em suas costas.

— Estivemos à procura de Jaime, mas ninguém na editora sabe informar onde ele está... -seus olhos não se ergueram para o acompanhante. — Esse é meu namorado, Vincenzo. Ele é um grande... parceiro de negócios de Jaime e chegou à Londres hoje pela manhã. Temos assuntos urgentes a tratar com ele e realmente necessitamos nos falar.

Ele estendeu sua mão para mim, cumprimentando. Apertei-a.

— Prazer em conhecê-la. –retrucou.

— O mesmo. –franzi o cenho, analisando seu rosto. Algo nele me era bem familiar. — Já tentaram ligar para o celular dele?

— Não está atendendo. Presumi que estivesse ocupado com alguma coisa e não pôde ouvir o chamado. –Vincenzo respondeu em um curto espaço de tempo.

Lanterna dos AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora