"Fazer ou morrer, você nunca me tornará
Porque o mundo nunca pegará meu coração
Vá e tente, você nunca me romperá
Queremos isso tudo, queremos interpretar esse papel
Não irei explicar ou pedir desculpas
Estou desenvergonhado, mostrarei minha cicatriz
Dê um viva por todos os destruídos
Escute aqui, porque é quem nós somos
Sou apenas um homem, não sou um herói
Apenas um garoto, que teve que cantar esta música
Sou apenas um homem, não sou um herói" My Chemical Romance - Welcome to the Black Parade.
Tom friccionou as mãos pelo rosto em ação involuntária para limpar algo invisível, mas que o incomodava mesmo assim. Era um típico movimento que normalmente as pessoas faziam quando encaravam uma situação realmente estressante e frustrante. Era o gesto para indicar exaustão. Em contrapartida, acolhi meus dedos no tecido maleável de minhas roupas para evitar o impulso que me pedia para puxar os cabelos, o que certamente soaria os alarmes de minha psiquiatra quanto à minha Tricotilomania.
Eu me sentia como o maior e mais perdido ser humano que algum dia habitara a superfície do planeta. A presença de Hiddleston, que inicialmente me auxiliara como um bálsamo reconfortador, agora havia se tornado mais um fardo que eu deveria carregar. O fardo de induzi-lo a ouvir tragédias de vida que colocariam qualquer pessoa saudável em um índice de depressão preocupante em poucos minutos. Estava ciente de que Tom decidira adentrar aquele consultório por vontade própria, mas também me era imaginável que ele não aguardava ter que ouvir histórias que se postas em um papel, seria um roteiro de um filme de Robert DeNiro com direito à trilha sonora instrumentada por um violino junto ao sotaque forte da Sicília. Nesse caso, Roma.
Também tinha conhecimento que eu analisava as reações diversas de Shakespeare como modo de fuga para não avaliar as minhas. Eu ponderava sobre a consequência que aquela sessão psiquiátrica traria para Tom, sem dedicar-me um olhar pessoal e ponderar o que ela causaria a mim. Rolei minhas pupilas através da arquitetura modesta do consultório, procurando entreter minha mente inquieta com um pouco de deleite visual, contudo, ao fazê-lo, a voz contida de Dra. Vivian aprofundando o estado hipnótico de Jay para obrigá-lo a recompor seu controle emocional pós-Catarina me trazia de volta à realidade.
— Preciso que você respire fundo, permita que sua musculatura retorne ao estado anterior para que sua mente receba a mensagem para que se relaxe, novamente. Respire, expire... –ela lecionava, passivamente, inabalável. Jaime engoliu em seco, remexendo-se ainda em rebeldia. — Respire, querido.
— Ele é incapaz de obedecer até hipnotizado. Alguém deveria estudar esse cara –Hiddleston comentou entredentes, olhando-me de esguelha. Torci os lábios. Você está tentando quebrar a tensão do ambiente, inglesinho?
— A agitação faz parte do DNA italiano. Deveriam estudar o país inteiro. –retruquei num sussurro, fazendo-lhe rir discretamente. — Você está bem, Shakes?
Ele piscou sequencialmente.
— Sou eu quem deveria perguntar isso a você... –dissipou.
— Eu já tenho alguma experiência com o procedimento. –gesticulei, embora repassasse incerteza. — Mesmo que cada hipnose seja muito diferente da outra. Novas revelações, sempre.
Nós nos entreolhamos por poucos segundos, antecipando o movimento mútuo de estendermos a atenção para Vivian e Martini. Ele, enfim obedecendo as sugestões da doutora, começara a respirar profundamente. Ainda acomodada no carpete, Bruna assistia à cena com atenção quase sagrada, certificando-se em auxiliar a psiquiatra em tempo que eu recuperava minha segurança para prosseguir.
Dra. Vivian permanecia com sua crítica missão de guiar o subconsciente de Jaime através das complicadas variáveis que ele apresentava. Dizia-lhe para colocar a dor física em segundo plano, de alguma forma direcionando seu desconforto com os recentes pontos e seus hematomas para que não comprometesse a linha tênue de sua hipnose. Fui incapaz de não imaginar a resposta ácida que ele teria na ponta da língua se realmente estivesse acordado.
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...