Learn to Fly

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"Estou procurando no céu algo para me salvar
Procurando por um sinal de vida
Procurando por algo que possa me ajudar a acender o brilho
Estou procurando por complicações
Procuro, porque estou cansado de mentir
Farei meu próprio caminho pra casa quando aprender a voar alto" Foo Fighters - Learn to Fly.




Os murmúrios dificultosos irrompiam de suas bocas os nomes dos acusados pelo assassinato de minha irmã; uma lista com pessoas cujas não me surpreenderam. A cada sílaba falada, um impulso atingia meu pulso e o fazia querer alcançar a arma em meu coldre e poupar o trabalho do atirador externo, formando eu mesmo o buraco em suas testas. Uma fagulha de insegurança flamejava ao fundo de seus olhos inquietos, esses tão acostumados à frieza em situações semelhantes. Uma coisa era certa: eles ainda ocultavam nomes. E apenas uma alternativa me vinha à cabeça em tempo que os encarava com repugnância.

Somente duas classes de pessoas eram protegidas por um mafioso em casos de extrema tortura. Sua família e a família para qual trabalhavam.

No caso do sequestro de Catarina, lembrava-me bem, apenas as maiores famílias da Cosa Nostra estavam envolvidas. Briga de cachorro grande. Os aliados do capo. Os capangas que ali atuaram sequer tinham permissão para tocar em minha irmã sem iniciarem uma guerra. Ou seja, aqueles filhos da puta não protegiam a bunda de seus familiares.

Eles protegiam os nomes de seus chefes, a minha família.

— Algum Valachi estava envolvido? –questionei, interrompendo Mateus. Suas pálpebras tornaram-se pesadas, indicando receio.

— Por que os Valachi estariam envolvidos no sequestro e assassinato de um membro da própria família? –fugiu.

— Porque os Valachi não são confiáveis. Lembrem-se do grande Joe, obstinado, o maior nome de nossa árvore genealógica? Nos entregou ao FBI, se tornou informante e até inspiração principal para o filme 'The Valachi Papers'. Não foi por causa dele que a família começou a ruir e ser descartada do círculo de amizades da organização? Não foi ele quem obstruiu e quebrou todos os juramentos da Cosa Nostra, expôs os nomes de nossos líderes e fez com que a nossa casa chegasse ao fundo do poço? –retorqui, calcorreando paulatinamente ao encontro de seus corpos paralisados sob a mira vermelha. Em proximidade, notei o suor que brotavam-lhe os pescoços e têmporas, desafiando o clima gélido da sala privada. A respiração curta, rarefeita, quase torturante, tocava-me o rosto com desespero. Era uma visão de satisfação indescritível.

— Você poderia matá-los com as próprias mãos. –Michael sugeriu, ao canto do cômodo. Seu semblante atiçado e perturbado parecia-me, pela primeira vez, realmente interessado em participar sem me interromper. — Eu não acredito que esses merdinhas são parte da máfia. Estão suando como porcos em celeiros. Até mesmo você quando pirralho era menos frouxo.

— Joe Valachi destruiu a reputação do sobrenome. Por isso nenhum outro sequer pensou na possibilidade de traição. –argumentou Mateus, com desgosto. — Ninguém da família participou do homicídio da sua irmãzinha. Relembre-se, primeiramente, que ela foi sequestrada por membros rivais para atingir seu pai e desmoronar o mínimo de prestígio que nos restava.

— E como rivais, certamente ofereceriam a algum Valachi a chance de trair meu pai, juntar-se a eles e tomar o poder da família. –refleti, montando simultaneamente um catálogo de suspeitos em minha mente.

— Ninguém se colocaria em risco para sequestrar Catarina. Ela sequer era uma filha legítima de Alero. –o outro desdenhou.

— Não ouse falar o nome dela com esse desprezo. –rosnei.

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