"E eu não posso te ver agora
Porque meu coração não aguenta isso
Não posso ficar com você agora
Porque eu sei que você não é mais minha
Eu não posso vê-la
Me dói termos que terminar
Eu pensei que conhecia seu coração tão bem
Nós somos estranhos que vivemos em lugares diferentes, nós vivemos separados
Minha melhor amiga se foi e o meu mundo foi rasgado
Nós nunca vamos compartilhar um nome nunca seremos um
Mas sempre vou me lembrar os anos que passamos apaixonados
Eu ainda penso em você
Eu rezo para que você esteja segura, ainda sinto sua falta
Isso tem que ser desta forma porque eu não sou certo para você
E é por isso que o amor é o culpado" Joel & Luke - Love's to Blame
Retornei a Tambourine Mountain de ônibus, aportando diante do endereço enviado por Illya como nosso ponto de encontro. Me espantei por se tratar de um bar de fachada antiga, com dezenas de motos enfileiradas juntamente a alguns homens e mulheres trajados em preto, ostentando barbas enormes e se aconchegando em grupos, compartilhando um baseado. Talvez você queira agradecer por estar usando sua camisa de banda de metal sinfônico e coturnos, Amélia. Eles serviram para algo. Disfarce. Acima de minha cabeça, uma placa envelhecida com letras em neon piscava em curto circuito o nome do estabelecimento.
Hellhouse. Definitivamente um mau presságio.
A briga com Shakespeare anestesiara a maior parte de minhas emoções, induzindo-me a pairar entre o modo automático e os ocasionais choros indesejados, os quais preferiria ocultar. Do caminho de Gold Coast até a pequena cidade, havia dado dois ataques de pânico, uma crise de choro e uma enorme vontade de retornar a Tom. Após tudo isso, apenas sobrara o vazio, uma sensação de anestesia geral em que nada mais parecia real.
Num súbito de encorajamento, adentrei o bar e tive de torcer o nariz pelo cheiro forte de álcool que me arrebatou; andei entre as mesas vazias, observando atentamente algumas garrafas de vodca caídas sobre suas superfícies, denunciando-me de onde provinha o odor forte da bebida. As paredes, encobertas por pôsteres autografados de incontáveis grupos musicais de rock clássico dividiam espaço com fotografias em preto e branco, motocicletas e alguns integrantes de gangues de estrada. Contive um riso, sentindo-me erroneamente acolhida entre aquela selvageria. Sobrepondo o ressoar de Johnny Cash, cantarolando Hurt com sua icônica voz rouca e entristecida fazendo-me encolher diante de sua letra depressiva, uma polifonia de gritos de incentivo me atraiu para os fundos do bar, onde, causando-me um choque de susto, havia um ringue. O esvoaçar de um cabelo acinzentado de um dos lutadores em um golpe duro contra o oponente me fez suspirar em descrença.
Por que eu sempre fico com o Clube da Luta?
Encostei-me uma coluna de concreto, assistindo o momento de violência em tempo que prendia meu fôlego involuntariamente, inerte no toque vermelho do sangue em seus punhos. Porra, Illya era implacável. Vê-lo se desvencilhar dos ataques do adversário e se mover rapidamente, acertando a palma da mão aberta em pontos específicos, retardando-o, fez-me perceber que ele não fora treinado em kickboxing ou quaisquer outras lutas que já vira Jay utilizar. Raramente usando socos, ele parecia se divertir no ringue. Em um ato momentâneo, seu par de olhos verdes me focalizaram na multidão e, sustentando um riso torto, enlaçou o pescoço do outro homem e puxou-o para baixo ao encontro de seu joelho, nocauteando-o com facilidade. Os espectadores vibraram. O 'juiz' se debruçou, checando o pulso do adversário caído e num aceno positivo, confirmou que respirava. Alguns Hells Angels grunhiram em frustração.
Illya pulou sobre as cordas do espaço de luta, recebendo um punhado de dinheiro em suas mãos manchadas em vermelho. Cruzei os braços, fitando-o caminhar até mim com seus longos cabelos sem cor grudados em suor, presos em uma trança mal feita.
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...