"Pelo amor que eu vou fazer, eu vou para inferno
Sendo carregada pelo diabo
Você pode ouvir os sinos do casamento
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Pelas vidas que eu tomei, eu vou para o inferno
Pelos votos que eu quebrei, eu vou para o inferno
Pelo jeito que eu machuco enquanto levanto a minha saia
Estou sentada em um trono
Enquanto eles estão sendo enterrados na sujeira
Pelo homem que eu odeio, eu vou para o inferno
Sendo carregada pelo diabo
Você pode ouvir os sinos do casamento" The Pretty Reckless - Going to Hell
Meu pedido vagou pelo ambiente, sem rumo. Aparentemente os ouvidos de Jaime se recusaram a me ouvir e compreender-me bem. Seu semblante que antes se mostrava duvidoso e curioso transformou-se severamente em uma feição de incredulidade e mau humor. Sequer houve tempo para que eu pudesse avaliar o que fazer em seguida, uma vez que meu estômago se retorcera em completa ação ao seu rosto. Meu conhecimento proporcionou que eu soubesse que ele teria exatamente aquela resposta a minha ação, mas bem ao fundo minha expectativa alimentada pela casualidade de encontrá-lo com tendências a aceitar minha última loucura perpetuou a minha ilusão.
— Você perdeu a porra do juízo? –inquiriu bravamente. Oscilei meu campo de visão para o chão salpicado de chuva que trouxera.
— Acho que acabei de retomar o meu juízo. –murmurei em voz alta, procurando manter minha firmeza. — Foi tão difícil conseguir encontrar minhas necessidades debaixo de tanta lamúria, Jay. Mas eu consegui enxergá-las. Por isso estou aqui.
— Por que escolheu vir até aqui? Por que optou pela masmorra após tanto tempo? –suas perguntas aleatórias alcançavam-me com nuances carregadas de irritação, transferindo o sussurrar usual de sua voz por um rosnado ameaçador.
Porque esse é o único lugar em que você também se permite ser alcançado ao fundo. Porque eu quero descarregar minhas emoções em sua frente. Porque eu quero que as suas emoções também sejam despejadas sobre mim, ao menos por uma última vez. Meu inconsciente gritou aos prantos em minha cabeça.
— Eu não sei se suporto mais sentir essa carga emotiva sozinha. –balbuciei embargada. — Estou exausta. Não tenho mais forças físicas ou mentais para fingir que estou me saindo bem, que seu distanciamento não me afeta ou... coragem para continuar com essa autossabotagem que coloca em risco toda a luta que eu travei quando fui internada.
— E supõe que eu tenha condições para ajudá-la a lidar com esses sentimentos, Amélia? –cuspiu com evidente fadiga. — Eu neguei transparecer muito de mim para mantê-la forte após sua recaída, repassei uma imagem fria e controlada para mostrá-la que eu estou aguentando o que está acontecendo durante todo esse maldito ano, mas tal como você, estou acabado.
— Então não se camufle por trás de suas máscaras. –sussurrei em um quase implorar, prendendo em minha garganta um solavanco que ameaçava irromper. — Vamos parar de nos enganar, por favor. Deixe-me retribuir o esforço que fez comigo.
— Não preciso de você. E não vou colocá-la junto de meus demônios. –soprou, atingindo-me rispidamente. — Pare de tentar me acessar, Amélia. Não deixarei você entrar.
— Sente raiva de mim? Foi porque eu me apaixonei por outro enquanto você me tratava com indiferença? Você esconde que sente raiva de mim e por essa razão me rejeita?
— Não me importa com quantos fode.
— Me apaixonei. –enfatizei. — Você me entregou embrulhada em um laço vermelho para ele. Sempre soube e nada fez.
— Cale a boca! –exclamou, amargo. — Eu não a entreguei! Você foi por conta própria!
Prendi meu ciclo respiratório, assimilando sua declaração cuspida. Meu corpo gélido e abatido que se recusara a tremer de frio por todos os minutos em que enfrentou a chuva e o excruciante inverno de Londres deixou-se desfalecer em sequenciais espasmos internos, cobrindo cada célula com um manto intransponível de mágoa.
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...