Runaway

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"Vamos fugir para esse dia, não preciso de ninguém ao nosso redor.
Quando tudo no amor fica muito complicado, basta apenas um dia para mudar isso.
O que tenho a dizer não pode esperar, tudo que eu preciso é de um dia,
Então vamos fugir.
Vamos fugir, apenas para o dia.
Fugir
Garota, você tem sido tão esforçada, passando noites sozinha sem reclamar
Mas eu vou chegar até você e eu hoje prometo não vou mantê-la esperando." Bruno Mars - Runaway



Guardei meus medicamentos em minha bolsa com relutância, dedicando alguns longos segundos encarando-os com desavença. Dra. Vivian conseguira minha alta para dois dias após sua visita, contanto, em troca, requisitou várias coisas que definitivamente não estavam factíveis como minhas primeiras ações fora do hospital. Apoiei o pé sobre o colchão da cama e amarrei o cadarço de meu tênis, agradecendo mentalmente a personalidade invasiva do homem desaparecido que se deu o trabalho de ir ao meu apartamento e trazido algumas peças de roupas para mim enquanto me mantinha inconsciente. Pus a mochila com meus pertences em minhas costas, apertando as alças para que se acomodassem melhor em volta de meus ombros. Em minha mão esquerda sustentava uma lista de sugestões que Vivian enviara junto com meus medicamentos, uma página inteira de tópicos enumerados com coisas aleatórias que ela acreditava que iria fazer bem a mim.

'Volte com seus antigos hábitos' jazia em negrito como primeiro tópico. 'Dança contemporânea, hip-hop, dança de salão, qualquer uma que você já praticou e ainda pode praticar. Apenas se mova', ela escrevera com caneta de tinta vermelha como observação. 'Evite permanecer em casa por muito tempo sozinha. Procure exercitar seus gostos em um território fora do raio de sua vizinhança', pedia depois. 'Se aventure. Com segurança.', 'Tente coisas novas. Aumente sua capacidade de enfrentar coisas que você repudia', em tinta vermelha, novamente. A lista era um pouco longa demais para se discutir em uma ligação e clamar por um acordo mais leve para mim, portanto somente aceitei-a de bom grado e a dobrei, guardando no bolso traseiro da calça. Tudo bem, eu posso fazer o que ela está solicitando. Nada que eu já não tenha enfrentado. Dançar não é um problema. Com todos os meus pertences devidamente guardados e com as observações médicas feitas, abandonei meu quarto com preguiça. E isso se intensificou quando percebi que não conhecia muito bem as instalações do hospital em especial, pois não conseguia me relembrar se já estivera nele em algum dia de minha vida. Não era o hospital da bebedeira normal. Atravessando corredores e parando desnecessariamente em placas para me guiar, alcancei a saída após minutos intermináveis. Todo aquele lugar continha um cheiro assustadoramente desinfetado.

Julian me contatou com uma mensagem poucas horas atrás, dizendo que estaria no estacionamento para me levar até meu apartamento que, infelizmente, ficava muito distante do local. O fato de eu ter aceitado sua carona não era meramente gentileza e agradecimento por não ter que me arranjar em um táxi, mas, internamente, de questioná-lo sobre o seu irmão. Era uma insistência teimosa que eu sabia que iria me incomodar pelo resto dos dias, porém entendia-me muito bem para saber que enquanto não tivesse alguma informação definitiva, não conseguiria me concentrar em nada mais.

Porque, obviamente eu já não andava me concentrando em nada mais desde que enviara a maldita mensagem para Tom. E sua resposta também não poderia ser mais inusitada.

"Hell, yeah! Você me fez engasgar com uma sopa de tomate. Agora todos estão me encarando como se isso fosse ilegal. Obrigado. AVISO PRÉVIO, AMÉLIA! DEPOIS EU SOU O IMPULSIVO!" — T.H.

"Prometo responder à altura. Você não pode simplesmente balançar sua bunda em um clube, desmaiar e acordar e depois ter a grande ideia de admitir que também está apaixonada por mim, puta merda. Eles ainda estão olhando pra mim. Ainda há sopa de tomate no meu queixo." — T.H.

Lanterna dos AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora