"Não sei o que seus nomes estão
Onde você está indo e onde você esteve
Todos os dias é difícil de dizer, que estamos fazendo
O que estava fazendo o que para quem, quem está chamando a jogar
Eu amo o jeito que você deslize
Eu gosto do jeito que as garotas trabalham fora
E fazer uma parceria
Verifique que a parceria
Eu vou, você vai
Ela vai, nós vamos
Duas acima" AC/DC - Two's Up
O homem intrigado permanecia encostado no batente da alta janela de seu apartamento, fitando pacientemente a visão periférica da cidade como se de certa forma, pudesse encontrar as respostas que tanto buscava entre as linhas no horizonte do céu avermelhado do pôr-do-sol...
Não, não era aquilo.
...as respostas às perguntas e inquietações que o alarmavam desde o último encontro com a mulher.
— Que merda...
Bocejei. As ideias e diálogos do meu livro certamente não sairiam enquanto minha cabeça estivesse focada em Lincolnshire. Arqueei minhas costas e movi meu pescoço para poupá-lo de um torcicolo por continuar na mesma posição por tantas horas, oscilando apenas entre a tela do computador e o relógio no alto da parede.
Ele percebeu, então, por apenas alguns segundos que não havia deixado de pensar nela. Em seus olhos tristonhos, em suas bochechas fundas, em seus lábios que o causavam uma estranha vontade de beijá-la.
— Definitivamente não.
Trícia, notando minha inquietação, arrastou sua cadeira de rodinhas até mim e esticou os braços sobre a mesa desarrumada em minha frente. Ajeitou seus óculos bem acima do nariz e inclinou-se sobre a tela de meu computador, analisando o que havia escrito.
— Então é um romance.
— Se tornou um romance. –corrigi. — Decidi que meus personagens se encaixam melhor em um romance mela-cueca do que mais uma ficção.
— Já decidiu o nome dos personagens?
— Infelizmente não. –crispei os lábios, lembrando-me deste pequeno detalhe. Trícia uniu suas sobrancelhas no centro da testa ao franzi-la exageradamente.
— Como pode escrever sem saber o nome deles?
— Às vezes consigo escrever melhor sem estar presa a um nome. Posso dá-los a personalidade que escolhi para cada um deles sem pensar se ela faz jus ou não ao nome chamado. Por exemplo, o nome Trícia me parece bem calmo para uma pessoa como você. –expliquei, sabendo que ela continuaria insistindo que eu arranjasse um nome provisório.
— Lúcia é um nome doce para alguém tão sádica como ela. –comentou, fazendo-me rir.
— Amélia é um nome feliz. Diferente de mim. –falei automaticamente, mais para dentro que para fora.
— Jaime parece ser alguém francês e elegantemente gay.
— Bi. -sussurrei, rindo.
— Como vocês estão? –perguntou, abrindo suas órbitas num olhar interessado.
Era uma pergunta difícil de responder. Mas ela a fazia todas as vezes que tinha oportunidade.
— Bem, eu acho. Ele é... imprevisível.
— Isso não é bom? –animou-se.
— Assustador, na verdade. –balancei a cabeça, sem dizer que sim, nem que não. Apenas tentando tirar o pensamento da mente. — Ele é difícil.
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...