Astronaut

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Notas iniciais do capítulo

Nós finalmente chegamos naquele ponto da história que qualquer parágrafo mal colocado e qualquer desvio pode acarretar em um desandamento e uma falta de coesão e coerência enormes no final da fanfic. E eu procuro sempre trazer o melhor que eu posso pra vocês, porque vocês não merecem menos que isso. Se não for pra dar calo nos dedos e bug na cabeça, eu nem escrevo haha!
Falo mais a respeito disso nas notas finais.
Espero que gostem <3

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"Porque esta noite eu estou me sentindo como um astronauta

Mandando S.O.S desta minúscula caixa
E eu perdi todo sinal quando decolei
Agora estou preso aqui e o mundo me esqueceu
Posso, por favor, descer? Porque estou cansado de ser levado para lá e cá
Posso, por favor, descer?
Então, esta noite estou chamando todos os astronautas
Todas as pessoas solitárias que o mundo esqueceu
Se ouvir minha voz, venha me resgatar
Você está ai fora?
Porque você é tudo que tenho!" Simple Plan - Astronaut.



Forcei meus pulsos amarrados, sentindo minha pele arder em fricção contra as cordas apertadas. Já não era capaz de sentir meus dedos, esses adormecidos pela falta de circulação sanguínea, assim como meus pés, no mesmo estado de imobilização. Aquele desconforto prisional era ridículo comparado a dor lancinante que sentia em meu rosto. Fios de meu cabelo desgrenhado grudavam junto ao suor e sangue retirados após horas e mais horas intermináveis de interrogatório que, até aquele momento, não havia sido nada esclarecedor para ambas as partes.

O infeliz que me torturava era um dos homens de Fabrízio. Ficava claro para mim todas as vezes que ele rasgava seu italiano com sotaque siciliano, argumentando e pedindo por minutos a mais e prometendo para seu chefe que retiraria respostas de mim. Respostas essas que, por mais que eu tentasse buscá-las, era-me impossível dizê-las. Eu as não sabia. Eles não compreendiam e julgavam-me mentirosa. Voltavam a me bater. Golpe após golpe, de mão fechada, contra meu rosto. Minhas têmporas sangravam em companhia ao restante de feridas abertas em minhas bochechas e o gosto metálico se acentuava torrencialmente em minha boca, cobrindo meus dentes com o sabor levemente salgado. Sequer conseguira enxergar nitidamente. Não me era preciso um espelho para saber que o inchaço dos olhos já tornara minha visão deficiente.

Meu estômago reclamava em fome e, simultaneamente, enjoo. Enjoo por meus sentidos ressaltados, pelo odor forte de sangue, suor e ferrugem, pela ansiedade, pelo medo e o desespero. Enjoo pela repulsa que se alastrava em mim todas as vezes que aquelas mãos pesadas caíam sobre mim e me obrigava a encará-lo, a responder perguntas que eu não sabia. Pelo castigo que vinha após cada resposta negativa.

— O que ele planeja fazer? -inquiriu ríspido. Já havia perdido a conta de quantas vezes ele me falara aquela maldita frase.

— Eu não sei!

Crispei os olhos, antecipando outro golpe.

— Pare de mentir para mim!

— Eu não estou mentindo! Eu não sei de nada! -gritei mais em raiva do que angústia. Seus olhos escuros se semicerraram para mim enquanto sorria amargamente, descrente com minha suposta teimosia. Abruptamente ele puxou meu cabelo agressivamente, torcendo minha cabeça de encontro a sua, que se inclinara proximamente a mim.

— Eu vou repetir essa pergunta até você resolver responder, vadiazinha. -soprou. Forcei meu autocontrole a não demonstrar a dor que sentia.

— Você não vai conseguir tirar nada de mim. Já lhe disse que não sei de que merda está falando e mesmo se eu soubesse, não diria nada a um babaca como você. -rebati entredentes.

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