A Natural Woman

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"Olhando lá fora a manhã chuvosa
Eu costumava me sentir tão não inspirada
E quando percebia tinha que encarar outro dia
Oh, isso me deixava tão cansada
Antes do dia que te encontrei
A vida era tão desagradável
Mas seu amor é a chave para minha paz mental" Aretha Franklin - A Natural Woman



 Tom me guiou para dentro do restaurante sem aparentar preocupação. O aconchego de seu toque na base de minhas costas em tempo que passávamos entre as mesas vazias, rumo a uma especialmente reservada próxima ao vidro fez-me endurecer o tremor das pernas diante dos olhares de reconhecimento que recebíamos. Tornei-me alheia à atenção desnecessária, direcionando minhas pupilas sobre a decoração estarrecedora do local. A ambientação era espetacular. Extensas mesas de madeira polida com brilho caramelo adornavam o centro, oferecendo seis lugares para convidados em maior número; acompanhando as paredes translúcidas, pequenas mesas para duas pessoas estavam dispostas como um pedacinho íntimo e especial do estabelecimento. Ainda não satisfeitos com a beleza exótica da paisagem inteiramente coberta de neve, abajures que aparentavam terem sido resgatados da Segunda Guerra Mundial iluminavam aos arredores num jogo de luz e sombra bastante peculiar e agradável.

— Aqui dentro é ainda mais bonito do que lá fora, puta que pariu. –exclamei involuntariamente, atraindo a ligeira atenção dos demais. — Perdão. –sussurrei em seguida, tendo a risada baixa de Hiddleston como acompanhamento.

— Sim, principalmente na primavera. –adiantou-se ao afastar a cadeira para mim. Sentei-me, agradecendo seu cavalheirismo. Assisti-o desabotoar seu paletó antes de reivindicar o assento em minha frente, ajeitando-se de forma veementemente cortês. — É incrível a mudança que esse parque faz nessa estação do ano. Tudo o que se pode ver são piqueniques sobre o gramado, debaixo das árvores carregadas de frutas. Crianças jogando migalhas de pão para os patos no lago. Uma visão agradável.

— Um comercial de margarina. –gracejei.

— Ou você pode simplificar desse modo. –riu, pegando o cardápio. — Já tem algo em mente para comer?

— O que há de bom aqui? –perguntei com interesse, apoiando meus cotovelos sobre a superfície.

Tom estreitou os olhos para a lista elegante em suas mãos, encarando-a em quase inquisição. Pude notar um brilho de satisfação em seu rosto ao fazê-lo.

Bouillabaisse comme à marseille acompanhado de uma garrafa de Château Bellevue Saint-Émillion está bom para você? –questionou em seu francês impecável, fazendo-me cruzar as pernas em reação imediata. Embora não fizesse a mínima ideia se aquilo era realmente um prato ou um xingamento à minha pessoa, respirei fundo.

— Espere um momento, você pode repetir isso novamente? Para o tradutor. –fiz menção em apanhar o celular na bolsa, induzindo um sopro de diversão em Hiddleston.

— É um caldo enriquecido de frutos do mar. Muito apetitoso, caso queira minha humilde opinião. –explicou.

— Eu pediria pra você não ser o apresentado de sempre e se limitar a falar palavras fáceis, mas o seu francês faz minha calcinha pedir socorro. Mesmo que esteja falando sobre um prato de caranguejos, lulas ou... quaisquer que sejam os componentes disso.

— Fico feliz em desconcertar suas peças íntimas. –deu-me uma piscadela cafajeste. — Tudo bem, nada de frutos do mar. Talvez Ratatouille pareça melhor pra você?

— O rato do desenho? –repliquei.

— O prato, Amélia. –foi firme, apesar de descortinar seus lábios presos em sorriso contido. — Você não o conhece? Berinjela, abobrinha e tomate...

Lanterna dos AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora