Dive

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"Estas águas podem ficar um pouco agitadas
Mas eu tenho experiência
Não importa o barulho da tempestade
Enquanto eu souber que você está aqui comigo
Desprendendo-se da sua inocência
Vejo que as paredes podem cair
Até que eu esteja tão no fundo, estar na altura da minha cintura
Mas prometo, garota, que não tenho medo" Usher - Dive



Contemplei a luxuosa estrutura. Composta por altas colunas e pilares de grande diâmetro que sustentavam as mais altivas paredes forradas de amplas obras de arte semi-iluminadas por um jogo de luz monocromática oscilante entre o amarelo e o turquesa, o primeiro salão jazia sobre um largo e brilhante piso bem polido de parte nua e outra coberto por um elegante carpete bordado de figuras geométricas. O teto era forrado por pequenos retângulos espelhados, assim refletindo distorcidamente nossas imagens enquanto marchávamos abaixo dele. Havia me esquecido do quão imponente era o tal clube. Sentia-me muito pequena naquele local em especial. Muito, muito pequena.

O salto de Lúcia fazia um ruído viciante ao tocar no chão. Abafado, oco. Andava de cabeça erguida, girando suas íris âmbar por todo o novo território. Era como uma predadora sensual com quinze centímetros a mais. Trícia, ao meu lado, limitava-se a encarar os quadros pintados e a decoração exagerada do clube, muito encantada com tudo àquilo. O balcão de bebidas era iluminado por uma luz branca que nascia de baixo para cima, dando um efeito em cada recipiente de bebida e os copos pousados dos clientes que ali se acomodavam. Estava em sua capacidade máxima. Muitas pessoas. Já me arrependi de ter vindo. Pares e mais pares de olhos viravam-se para me observar caminhar rumo aos lugares vagos ao redor do mesmo balcão. Meus pés doíam dentro do salto que somente usava quando vestia minha identidade de submissa. Malditos sapatos. Infelizmente, os únicos que combinavam para aquela ocasião. Lúcia nunca os tinha visto. Aplaudiu-me de pé ao nos encontrarmos em frente ao pub, reforçando o seu discurso de como eu parecia trocar de personalidade quando me era conveniente. E permaneceu discursando por longos cinco minutos, pois aparentemente já havia se esquecido de como eu aparentava quando não era a habitual pessoa mal humorada presenteada por olheiras. Mal podia me lembrar da sua reação ao fitar o vestido que Trícia tinha me obrigado a vestir. Não sabia se me sentia lisonjeada por sua surpresa ou muito sem graça com a mesma surpresa.

Sentamos as três na ponta do balcão. Tocava uma música bem alta ao fundo. Voz rouca, batida ritmada, letra explicitamente sexual. Ok, eles não estão de brincadeira hoje. O bartender trouxe-me um copo de suco de laranja que havia pedido antes que eu pudesse me interessar pelo conteúdo da canção. Lúcia estreitou seus olhos para mim.

— Não beberei nada alcoólico hoje. –ditei, apontando para meu suco. — Eu concordei em acompanhá-las na bebedeira, mas sem precisamente ficar bêbada.

— Eu sabia que sua concordância em vir estava boa demais para ser verdade. –semicerrou os cílios, acusando-me. — Bem, Tri e eu beberemos por você. –virou o pescoço rumo ao mesmo bartender. — Whiskey duplo, por favor. –pediu. Ele deu um largo sorriso para ela antes de atendê-la. Espero que ele saia dos sorrisos e invista. Não aguentarei vê-los olhar perdidos em sua direção e não puxarem conversa.

— Então o chefe arranjou um assistente. –Trícia iniciou, cruzando os braços sobre o balcão. Concordei com um movimento de cabeça. — Isso só agrava minhas teorias. Primeiro a tal aquisição hostil e agora um estagiário. Algo definitivamente está acontecendo naquela empresa.

— Isso é evidente. –deliciei-me com minha bebida. — Difícil vai ser entender o que tá acontecendo.

— Se o Martini contratou um estagiário, certamente é porque ele está precisando. Certo? –afirmei com a cabeça novamente. Ela continuou. — E se ele está precisando, devo arriscar que tem pouco tempo livre para suas obrigações. Apelou para auxílio.

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