"Então porque você tem que ficar parada aí parecendo ser a resposta agora?
Parece pra mim que você deveria estar perto.
Eu preciso de você agora, você acha que pode encarar essa?
Você já me tirou a limpo que eu estou perdido e sem esperanças.
Sangrando e decepcionado, apesar de eu nunca ter dito;
Eu fico desolado. Nesse tempo louco.
Eu me sinto idiota, mas acho que estive compreendendo.
Eu me sinto feio, mas sei que ainda "acendo sua chama".
Você está ficando mais fria agora, desequilibrada, zangada, virada ao avesso.
Mas será que o tempo louco te derrubou?
Então, irá você parar aí, irá você me ajudar?
Nós precisamos estar juntos agora." Matchbox Twenty - Mad Season
Era a minha primeira semana no hospital. Embora me sentisse muito melhor, meu médico havia pedido no quarto dia para que eu ficasse um pouco mais em observação. Aquela era uma forma educada de dizer 'Hm, nós temos o dever de analisá-la um pouco mais. Acabamos descobrindo em seu histórico que você é louca. Que segurança temos ao liberá-la? Você fará tudo de novo'. Nem mesmo precisava ouvir todo o seu monólogo para enxergar seus motivos ocultos em relação à minha alta e também não desejava repudiar suas intenções. Toda a minha mente gritava para que ali eu permanecesse até que alguma chama de conforto se acendesse em mim. Sair do hospital não era o meu maior desejo, pois uma vez que fora estaria novamente confinada à minha solidão em meu apartamento. Dias inteiros de licença médica para que eu ficasse estacionada em minha cova de defunto literário. A monotonia de minhas horas no maldito quarto me dera a possibilidade de refletir sobre como minha vida se erguia no exato momento. Eu me lembrava de como pedia por paz. Agora, aparentemente, eu a tinha.
Não tinha Jaime. Ainda que minha cabeça tivesse pairando sob sua despedida e ainda buscasse respostas nas entrelinhas do que ele tanto se esforçara em me dizer, o que agora me restava era apenas a simplória sensação de preocupação. O italiano construíra dedicadamente sua viagem; não mandara nenhuma informação sua desde sua despedida, nenhuma ligação e nenhuma mensagem. Trícia também não ouvia falar de nada na empresa. Ele estava simplesmente desaparecido.
Assim como Tom. Mas, ao contrário de Jay, Shakespeare trocava algumas conversas rápidas comigo ao passar dos dias. Eram mensagens aleatórias. Diálogos aleatórios. Assuntos de uma simplicidade tão imensa que me julgava estar debatendo com um amigo de longa data. Ele simplesmente tinha o maior acervo de assuntos do mundo. Era a pessoa mais deliciosamente comunicativa e atenciosa que já imaginara ter o prazer de conhecer. E idiota. Sobretudo, idiota. Bardo, ele tinha questões filosóficas sobre máquinas de lavar. Eu não entendia como suas ideias insanas contagiavam as minhas, porém, definitivamente com ele eu usufruía de um parceiro para qualquer pensamento que passasse por minha mente. Tom era divertido. E tão sincero, às vezes. Por mais que eu apreciasse aqueles instantes mágicos de seu humor, frequentemente eu me via analisando cada frase em busca de alguma oscilação sentimental de sua parte. Ficava muito apreensiva ao ter a impressão que as achava. Me pegava pensando no que ele estaria nutrindo em sua cabeça ao escrevê-las. Depois de tanto esforço em desvendá-lo, as peças de seu quebra-cabeça de personalidade começavam a se juntar involuntariamente. Um ponto eu tinha entendido em todos os diálogos que nós tínhamos: ele sempre começava bem. E sempre terminava apático.
Obviamente isso me rendeu muitos minutos de reflexão. O que está acontecendo por lá? O que está causando isso em Tom?
Na manhã da segunda-feira, Dra. Vivian aportou em meu quarto com uma feição pragmática em seu rosto jovial. Reconhecia aquele olhar objetivo como se deles viessem todas as minhas fontes de repreensão materna que eu tivera em todos os meus anos. Era uma expressão facial nostálgica. Não pude deixar de sorrir ao vê-la se sentar na mesma cadeira que dias atrás Natasha se acomodara ao me observar. Dra. Vivian também me parecia querer fazer muitas perguntas.
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...