"Eu estou livre e pronto
Então nós podemos ir fundo
O que você acha de guardar todo seu tempo para mim?
Sem mais olhares
Eu sei que fui pego
O que você acha de manter uma companhia firme?" Hank Williams - Hey Good Looking
O sol acabara de nascer no horizonte, preenchendo as poucas áreas escuras do céu tracejado de linhas douradas e avermelhadas; Tom e eu nos encolhíamos em um abraço apertado de frio, aproveitando das últimas chamas da fogueira que teimamos em acender novamente. Vestidos com nossos respectivos 'pijamas' e secados pela querida toalha de mesa, sentíamos um pouco menos de desconforto que antes. Sentia seu peso sobre mim, até então servindo de apoio para seu queixo no topo de minha cabeça enquanto me acomodava em seu peito e enrolava suas pernas entre as minhas, friccionando o tecido de sua calça na minha, aquecendo-me à medida que fazia seus rápidos e divertidos movimentos. Detalhando nossa posição, ressaltava-se sua força braçal. Tom estava tão diferente do homem que conheci. Os músculos de seus braços me cobriam num enlaço apertado e isso aparentava se salientar ainda mais quando ameaçava me mover.
— Você deve estar com metade do meu cabelo na sua boca. –remexi-me, tendo a desconfortável certeza que ele começava a se armar após ser deixado se secar naturalmente, sem qualquer produto para mantê-lo modelado.
— É um bom travesseiro, Little Lion. –murmurou contra meus cachos desarrumados, enfiando seu nariz em meus fios, gracejando.
— Gosto muito de te ver, leãozinho... –cantarolei em motejo, lembrando-me imediatamente de uma passagem do livro 'Dominados', onde o Sr. Farias zombava do cabelo de sua parceira ao cantar após uma cena de BDSM. — Caminhando sobre o sol...
O arfar quente do sorriso de Tom me fez deitar a cabeça em seu ombro; isso facilitou minha visão ao vê-lo entortar o pescoço e receber seus dentes em volta do lóbulo de minha orelha, logo depois ecoando um estalo de um beijo.
— Hmm, eu definitivamente acho sexy você falando português. Por favor, continue.
— Você é o sexy aqui, meu querido –continuei no mesmo idioma, enfatizando a única palavra que ele realmente entenderia. — deliciosamente. Pra caralho.
— Espero que tenha dito coisas boas. Porque me pareceu. –ansiou, puxando outra risada baixa. — Des milliers de baisers, des milliers de millier un à un de mes lèvres à tes lèvres déposés...-cantou, devolvendo-me também a incerteza de outra língua. Minhas entranhas entraram em colapso.
— Será que você precisa mesmo competir comigo até em línguas estrangeiras? –entreguei-lhe um olhar de indignação que evidentemente o satisfazia bastante. Podia ler seu gracejo em seu olhar, que, irritantemente brilhava em ousadia.
— Eu necessito manter o meu posto aqui. Nós estamos em constante competição desde o dia em que começamos a brincar de nos conhecermos.
— E essa jogatina está se tornando mais íntima do que eu esperava. –refleti, embora lidasse com uma felicitação em meu interior. Olhando-o nesse momento, com sua postura mais pessoal possível; cabelos arrepiados, pijamas, pós-banho e pós-sexo não me era tão assustador como pensava que fosse ao decidir aceitar seguir em frente com sua ideia de continuarmos juntos, apesar de todas as limitações que nos envolveriam. Seguíamos com artilharia pesada. — Fizemos sexo em uma praia. Esse é um ganho seu ou meu?
— Pontos compartilhados. Foi você quem começou a se despir em minha frente.
— E você disse que iria me foder por todos os dias que permaneceu na mão.
— Você citou Marquês de Sade. Em um gemido.
— Você deveria se preocupar quando eu decidir pôr em prática o que ele disse, não somente citá-las. Porque, Shakespeare, me crucifixa a ideia de ter certeza que você está escondendo algo importante de mim e isso não é muito bom para minhas condições mentais.
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...