Bitter End

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"Anos demais de cicatrizes de batalha
E agora estamos quebrados
E todas as palavras que você disse
Esteve pendurado na minha cabeça para o tempo
E todas as linhas que cruzamos
A barra finalmente que está aberta
Como uma mil pequenas dores porque a luz
Doce amor, meu amigo mais antigo
Chegamos ao fim amargo?" Rag'n'Bone Man - Bitter End.


[PONTO DE VISTA DO JAY]


Meu braço despencou sem forças, em ato involuntário quanto a paralisação de meu corpo. Encarei os olhos negros de Michael, que escancaravam a plenitude de seu julgamento, observando-me com a sobrancelha levemente levantada em indagação.

— Seus esforços foram em vão. -murmurou, venenoso.

Dei-lhe as costas, exasperado, buscando em vão afrouxar a gola de minha camisa, porém o tremor em minhas mãos impedia qualquer movimento específico. Procurei palavras para despejar, mas somente um ofego forte escapou de minha boca, tão desesperador por ar que fui forçado a encostar-me contra a parede. Inferno, inferno, inferno! Ela não... tudo, menos ela. Engoli em seco, barrando o ímpeto irresponsável de permitir que um ataque de pânico me dominasse. Minha cabeça fodida precisava resetar toda a situação para enfim programar um momento de resolução. A voz longínqua e embargada num timbre choroso ecoava em baixo volume através de meu celular, repetindo incansavelmente meu nome. A voz de minha mãe.

— Jaime, responda-me! Você ainda está aí? Filho! Por favor! -implorava.

O ambiente cinzento se alastrava ao horizonte da varanda de meu apartamento, exprimindo a beleza rústica do inverno de Roma como se o lamurio daquela visão concordasse com o meu humor e procurasse se adaptar à minha presença. Ou talvez eu estivesse manchando sua beleza acolhedora com meus demônios. O que deu errado? Por que a levaram? Estou me permitindo ser manipulado por eles, obedecendo-os, fazendo merdas que não suporto para protegê-la. O que mudou? O que querem? Por que ela, porra?!

— Não vai respondê-la? -Michael se aproximou, carregando consigo toda a prepotência em sua postura falsamente elegante. — O que está pensando, hospedeiro? Nada deu errado no plano. Você sabe que se seu pai continua no poder até hoje, é por conta de seu dom de estratégia. E, às vezes, não ter estratégia é o suficiente para conseguir vencer. Não há justificativa lógica para o sequestro da Amélia. Ele só o fez, porque ele é assim.

— Deixe-me em paz. -resmunguei.

— Você sabe que estou certo. -insistiu, mas o ignorei.

— Jaime, por favor, me responda -Milena começava a perder a força em seu timbre. Aproximei o aparelho eletrônico do rosto, mirando-o sem saber a razão. Parecia um objeto tão inútil. A porra de um objeto cuja única função era somente alertar problemas.

— Vai deixar sua mamãe sem respostas?

E dizê-la o quê? Que eu preferia que ela tivesse sido pega no lugar de Amélia? Que eu não seria esse fodido se ela tivesse me levado com ela quando criança? Que a última pessoa que eu queria falar naquele momento era a minha maldita mãe que assistiu o sequestro da mulher por qual fui ao inferno e, agora, tudo parecia em vão?

— Por que a deixou ir? -rosnei.

Ela choramingou.

— Ela me obrigou a isso. Eu não queria, filho, eu juro que não... -soluçou. Podia notar a angústia em suas palavras, mas, ainda assim, preferia ignorá-la. — Ela queria que eu ficasse e avisasse você sobre isso, pois imaginou que fosse a única forma de salvá-la.

— Isso me parece constante em sua vida. -cuspi.

Jim surgiu abruptamente, arrancando o smartphone de minhas mãos.

Lanterna dos AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora