"Você pode me ajudar? Ocupar o meu cérebro?
Preciso de alguém para me mostrar as coisas na vida que eu não consigo encontrar
Eu não consigo ver as coisas que trazem a verdadeira felicidade, eu devo estar cego
Faça uma piada e eu darei um suspiro e você rirá e eu chorarei
Felicidade, eu não consigo senti-la assim como amar para mim é tão irreal" Avenged Sevenfold - Paranoid
Clínica Psiquiátrica Saint Henry, Lincolnshire, Inglaterra, 27 de agosto de 2003.
— Tire as mãos de mim! Deixe-me em paz!
O grito rouco pegou-me de surpresa, obrigando-me a erguer minha cabeça da caixa de ferramentas que checava. A meia luz que iluminava o pequeno teatro da clínica projetou a sombra esguia de um grupo de pessoas; por estar sobre o palco, pude enxergar o primeiro atravessar a porta acima da plateia e adentrar rapidamente pela rampa, correndo e esgueirando-se entre as muitas poltronas que ali se dispunham.
— Não iremos machucá-lo! –avisou a voz de um enfermeiro que seguidamente surgiu pela mesma abertura. Moveu a cabeça em várias direções, observando para onde seu alvo havia se escondido.
— Parem de agir como se eu realmente acreditasse em algo que vocês dizem! –respondeu-lhe alto. Direcionei meu olhar rumo à voz de timbre receoso. Apertando minhas pálpebras, identifiquei o brilho metálico de uma armação de óculos contra o mesmo projetor que eu tentava consertar, fazendo-me abandonar a chave de fenda que tinha em mãos e andejar ligeiro e pular o palco. Jaime?
— Ei, ei! –chamei seus perseguidores, erguendo as mãos. Eles me notaram. — O que aconteceu?
— Dra. Vivian deseja o paciente junto aos demais no pátio principal. A festividade irá se iniciar e todos devem estar lá. Inclusive você, mocinha. –um deles me respondeu. Bufei.
— Ele tem um nome, não o generalizem como paciente. –ralhei, ainda movendo minhas pernas em distância ao palco.
— Não sabemos sob qual nome ele está agora. –o mais baixo rebateu, cruzando os braços em ansiedade.
Encarei a sombra de Jaime com dúvidas. Pelo modo que fugia desjeitoso e pedia para que o deixassem, estava lidando com David. Ele quase nunca emergia. Isso era um chamado de emergência.
— Livrem-no dessa perseguição! Ele está assustado, não estão percebendo?! –censurei o mais altivamente que podia. Com uma abertura de distração da parte dos enfermeiros, corri até o encontro dele e segurei-lhe a mão. Estava gélido como um cadáver.
— Srta. Santiago, afaste-se dele. Você não pode se aproximar de garotos. –o mais alto anunciou, crescendo uma súbita raiva em meu interior.
— Novak! Meu sobrenome é Novak! Não tenho mais uma família! –vozeei. Involuntariamente apertei meus dedos em volta da mão suada de David, recebendo também o firmar de seu toque. — Eu pareço ter medo dele? Vão embora!
Os dois soltaram o ar pela boca em típica reação frustrada. Eles tinham muito durante o dia. Conseguiam me frustrar com suas frustrações.
— Olhe para nós! Somos loucos, não carne de caça! O que podemos fazer? Um suicídio em massa ao nos atirarmos daquele palco medíocre?!
— Não pense na probabilidade. –o mais alto replicou. Preciso aprender seus nomes urgentemente. Conversar com dois desconhecidos é cansativo.
— Vão se foder! –xinguei-os. — Chamem a Vivian se quiserem! Junto dela, tragam os seguranças. Tragam o anestesista. Tragam a porra que quiserem. –virei-me de costas para eles, colocando-me diante do rosto alarmado de David. Seus olhos tremulavam por trás dos aros de quadrados dos óculos de lentes espessas, evidenciando seu pânico. — Você está bem?
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Lanterna dos Afogados
ChickLitSe adequar à sociedade e aos padrões neurotípicos jamais foi uma tarefa palpável para Amélia, que carrega sobre seus ombros fardos demais para se suportar. Após o término do relacionamento mais intrínseco que tivera e alimentando a certeza que nunca...