Tu Me Vuelves Loco

24 5 0
                                    

"Não sugira extravagâncias com teu sorriso
Não me cegue a glória em cada movimento
Que seu jogo me mortifica
E a vida toda se complica
E não queira saber as coisas que eu invento" Frankie Ruiz - Tu Me Vuelves Loco


Eu não saberia dizer com convicção como estava minha aparência diante do espelho a minha frente enquanto não me visse refletida nas íris curiosas de Tom. Escolhi meu vestido com dúvidas do que poderia significar o 'vista-se bem' que ele dissera, embora não tivesse plena certeza se era apenas um aviso para 'nada extravagante' ou 'vista-se muito bem, você vai sair com um astro mundial', embora soubesse da humildade que ele tinha para esses assuntos. De qualquer forma, ele era mesmo um astro mundial. O aspecto que mais me causava pânico todas as vezes que ele me convidava para passar um pouco de tempo em sua companhia fora dos territórios que conhecíamos: o seu apartamento, o meu e o pub.

Buscando um modo de nutrir todas as possíveis possibilidades, cobri-me com um vestido longo de alça e estampa discreta em cores marrom-alaranjadas, onde decaindo meu tronco jazia a marcação de uma faixa negra que se interligava ao caimento frouxo de sua saia cor pastel. Se comparecesse a um show de indie, estaria totalmente entrosada. Entretanto, a vestimenta tinha sua elegância. Definitivamente não me sentiria uma total deslocada seja lá onde Hiddleston me levasse. Só precisava me encorajar para conhecer a tal pessoa misteriosa cuja ele desejava me apresentar. Antes das 21h00min meu estômago reclamava em reação a ansiedade, me atrapalhando enquanto lutava para modelar meus cachos sem que parecesse que havia acabado de sair de uma tormenta no deserto. Engoli meu coquetel de remédios alguns minutos antes do horário, certificando-me de que não iria esquecê-lo e que sairia do prédio com uma base de preparo para encarar o que Shakespeare planejava fazer.

Às 21h30min, irritantemente pontual, recebi sua mensagem de aviso para descer. Reconheci a sombra de seu Jaguar estacionado embaixo da mesmíssima árvore de antes e, gracejando em seu encontro, caminhei pela calçada imitando uma dança desengonçada tendo a certeza que ele me via. Instantaneamente avistei-o abrir a porta e sair, colocando suas mãos na cintura em tempo que me recebia com um largo sorriso. Uma armação de aro quadrado brilhou sob o reflexo da luz da lua. Ergui os braços, reproduzindo uma postura de rapper. Tom levantou dois dedos de sua mão direita e bateu-a sobre o peito, formando o cumprimento. Apressei meus passos para encontrá-lo e antecipando meu impulso de abraçá-lo, ele agarrou minha cintura e encostou-me contra a lataria de seu carro, acariciando seus lábios nos meus.

— Eu pedi para não me matar. –sussurrou.

— Mas eu não estou matando, até me comportei bem. –apoiei minhas mãos em suas costas, inclinando-me para beijá-lo na bochecha. — É um pouco difícil se arrumar quando não se sabe para onde está indo.

— Você está encantadora. Não acho que conseguiria acertar tanto como acertou se vestindo hoje. –elogiou, suscitando uma queimação desnorteada em meu rosto.

— Analisando o seu traje, estamos lidando com outra noite requintada. –deslizei meu toque à sua gravata de seda, sentindo seu tecido roçar entre meus dedos. — Estou começando a ter vontade de segurar você por aqui.

— Sem dominação na rua.

— Foi você quem me prendeu entre o carro e seu corpo. –limpei a garganta. Soltando o ar preso por sua boca, Tom se afastou com semblante divertido. Guiou-me pelo pulso até o outro lado do veículo e abriu a porta para mim, ainda de expressão bem apessoada em seu rosto.

Ele se ajeitou no banco do motorista, pregando suas grandes mãos no volante altivo do Jaguar. Estranhamente eu gostava de ouvi-lo rugir ao dar a partida; uma mistura de rouquidão e discrição, entretanto sem deixar de se mostrar sua potência. Como um leão sob a pele de um gato.

Lanterna dos AfogadosOnde histórias criam vida. Descubra agora