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Tinha finalmente conhecido as meninas. Admito que elas me intimidavam bastantante, até porque elas eram perfeitas no tiktok e fora dele. Afastei um pouco esses meus pensamentos, e tentei voltar a prestar atenção na conversa.

- a gente podia pedir um taco - Addison disse deitada no sofá - ou alguma coisa doce.

- pede logo um taco de chocolate - Dixie sugeriu.

- será que tem? - a garota se interessou mais - vou pesquisar.

- vai ficar quanto tempo aqui? - Charli perguntou amigável.

- ah... - tento pensar numa resposta de imediato - acho que só essa semana.

- mas já? - Dixie falou com uma cara dramática.

Pra falar a verdade, eu iria ter que ficar durante 3 semanas, mas não queria parecer muito invasiva.

- vou fazer ela ficar rapidinho, vocês vão ver - Avani sorriu.

De repente, meu celular começou a tocar desesperadamente no meu bolso. O nome da minha avó brilhava na tela, me fazendo pensar em mil coisas que poderiam ter dado errado com minha irmã.

- eu vou atender, licença.

Andei apressada até a varanda, já com as mãos suando.

- vovó, tá tudo bem? - perguntei rapidamente.

- na verdade não - a voz dela estava agitada e o local parecia ser bem movimentado pelo número de vozes que falavam atrás - estou no hospital e...

- ai meu Deus - fico preocupada - o que aconteceu? - ela fica um pouco em silêncio - vovó? Responde!

- é a Mia - ela fala com peso - ela passou muito mal de manhã e agora tá aqui internada. Seria muito bom pra ela se você...

- qual o endereço? - corro pro quarto de Avani, entrando pelos fundos pra que ninguém me visse.

Assim que ela passa tudo, pego uma bolsa de Avani e coloco uma roupa mais adequada. Eu não iria de pijama pra um hospital.

Mando mensagem pra minha amiga, avisando da situação e que eu iria ficar fora por um tempo.

Sai pelos fundos da casa e quando nem pensava direito de tanta preocupação, acabei trombando com Tony no portão. Ele tinha chegado de algum lugar, que deduzi ser uma academia ou algo do tipo.

- tá tudo bem? - ele notou minha inquietação - quer ajuda ou...

- agora não, Tony - passo por ele e vou pra rua - só não fala disso pra ninguém, por favor.

- ei, o que tá acontecendo? - ele começou a vir até mim.

- Tony, fica - falo brava - não é nada pra você se preocupar.

- tem um carro aqui, se quiser eu posso te lev...

- tchau, Tony.

Quase que correndo, sumo da visão do garoto e peço um uber com as mãos tremendo. Que ótimo! Uma bela hora pra ter um ataque de ansiedade.

Depois de alguns minutos de desespero, finalmente o uber chega.

***
Minha irmã estava dormindo na maca com dois fios perfurando seu braço. Minha avó tinha saído pra comprar alguma coisa pra gente não morrer de fome.

Eu estava sentada numa cadeira que tinha na salinha de Mia, só ouvindo o aparelho e apreciando a visão horrível da garotinha de 8 anos internada.

Não era surpresa minha mãe não estar aqui. Aposto que ela foi a primeira a saber disso, mas como sempre não deu a mínima. Ela ainda tem uma mãe, lembrei da minha mãe falando. Uma piada pra mim.

Eu e minha avó ficamos ali durante várias e várias horas, até Mia acordar. Fui a primeira a ir até ela e segurar em sua mão, que estava bem fraca.

- Suzu? - a garotinha disse baixo e um pouco animada em me rever.

- eu não ia te deixar aqui sozinha, pequena.

- a mamãe tá aqui?

- não, mas isso não importa muito - falo depressa - já tá melhor?

- um pouco... eu to com muita dor de estômago, mas vai passar - ela fala confiante - aposto que foi uma das comidas da vovó - ela dá um sorriso fraco, me fazendo sorrir pela primeira vez naquele dia.

- eu ouvi, sua pirralha - minha avó fala da cadeira.

Eu e ela damos uma risada travessa com o comentário da senhora.

- ah! Já ia me esquecendo... - Mia volta a falar - tenho um presente pra você.

- Mia...

Ela se estica até a mesa ao seu lado e pega uma pedra ainda suja de terra e me dá.

- pra sua coleção de pedras.

- pra nossa coleção - corrijo. Fico olhando pra aquele mineral tão simples, mas que me fazia sentir muitas coisas.

E foi naquele momento que eu me dei conta de que minha família mesmo era eu, minha avó e minha irmã. Se meus pais fossem de fato parte da família, eles iriam se importar o suficiente em vir aqui.

- amei... - aperto a pedra.

A garotinha sorri satisfeita.

Acabei passando a noite no hospital com Mia, pra deixar minha avó dormir um pouco em casa.

Mesmo estando apoiada na parede e sentada naquela cadeira nada confortável, foi uma das noites em que mais dormir bem.










lost on u☇ // Tony LopezOnde histórias criam vida. Descubra agora