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Minha mãe estava medicada e dormia profundamente. Sua respiração era calma, quase que imperceptível e seu braço era repleto de fios que se ligavam a alguns aparelhos.

Já estava de noite e Mia e minha avó tinham saído pra comer alguma coisa, me deixando a sós no quarto.

Eu não conseguia parar de me culpar por tudo o que disse ou o que pensei da minha mãe no passado. Eu podia jurar que nunca mais iria gostar dela e que a minha vida seria bem melhor com ela longe de mim. Mas isso foi até vê-la sedada e respirando por aparelhos.

Nós duas nunca fomos amigas e nunca cheguei a considera-la minha mãe por tudo o que ela fazia com a gente, mas naquele momento o que eu mais queria era abraça-la e pedir perdão por tudo o que falei. Só queria minha mãe de volta.

Fiquei sentada na poltrona, abraçada a minhas pernas enquanto encarava a parede branca, ainda muito arrasada. Fechei os olhos e me recostei no móvel, deixando minha mente me levar dali.

A face de Tony surgia na minha memória, junto com seus sorrisos e abraços. Mas principalmente o "eu te amo" que ele havia me dito antes de eu ir embora, no qual eu não correspondi por teimosia. Me senti mais horrível ainda ao relembrar do seu semblante quando o expulsei de casa.

- por quê que você tem que ser tão idiota, Samantha? - perguntei pra mim mesma.

- Suzu? - minha mãe acordou de repente, me tirando do meu mundo particular.

- graças a deus! - me levanto rapidamente e vou até ela, que ainda não conseguia se mexer direito por conta das dose altas de medicamento que recebia - tá melhor? Como se sente? Quer que eu chame a enfermeira?

Ela nega, e me olha com um certo pesar.

- o que foi? Tá com alguma dor ou...

Ela volta a negar e respira fundo, desviando seu olhar de mim como se tentasse juntas forças pra falar alguma coisa.

- mãe, tá tudo bem? - puxo um banco que tinha ali e fico do seu lado, querendo aproveitar o máximo de tempo possível antes que ela voltasse a dormir - a Mia e a vovó saíram, mas já voltam. Eu posso mandar um recado pra elas se você quiser - forço um sorriso - elas devem chegar logo.

Ela permanece em silêncio, me olhando com aquele mesmo olhar abatido que pensei nunca receber de alguém como ela. Fiquei em silêncio também, tentando decifrar cada gesto. Eu tentava de tudo pra não me sentir ainda mais um lixo de ser humano.

E de repente ela abriu um sorriso fraco de lado, ficando com os olhos marejados e segurando mais forte na minha mão. Seu olhar era sincero e profundo, o que me fazia estremecer por dentro.

- me desculpa - ela fala baixo.

- não precisa se...

- eu sinto muito por tudo - ela me ignora - eu não sabia como lidar com toda a demanda da nossa família e... - ela faz uma pausa, deixando algumas lágrimas tímidas caírem - eu fui uma tonta de não ter valorizado vocês e de não ter aproveitado os momentos em família...

- mãe...

- eu nunca quis magoar ninguém e tudo que fiz ou falei... - ela volta a parar pra tentar se recompor - eu sinto muito mesmo, Samantha. Eu não fazia ideia do tesouro que eu tinha em casa e só fui perceber isso quando me desfiz dele - ela limpa o rosto - e veja só, fui parar numa cama de hospital - ela ri nervosa - patético eu sei.

Sinto meu coração apertar.

- e eu não espero que você me perdoe, até por que tudo o que eu fiz pra você foram coisas horríveis. Nunca cheguei nem perto da mãe que você merecia ter e nunca fui capaz de te demonstar todo o meu carinho ou cuidado, até porque não era isso que você recebia em casa. Mas só quero que saiba que eu me arrependo por tudo e espero que um dia você possa me dar uma segunda chance pra recomeçar aquilo que já era pra ter acontecido há muito tempo. Eu realmente sinto muito, filha e vou entender se você precisar de tempo pra pensar sobre isso.

Sorri, me dando conta de que já chorava como uma criança. Tentei me controlar, mas não conseguia.

- eu também sinto muito - falo com uma voz trêmula - eu achava que sendo a "filha rebelde" tudo iria melhorar, mas... - volto a chorar e tento respirar fundo - até te ver aqui nesse estado... eu achei que iria te... - eu não conseguia falar direito - eu estava com muito medo, mãe e me sentia um monstro por ter te falado tudo aquilo e te tratado como um zé ninguém. Eu...

- Suzu...

Parto pra um abraço, me enterrando em seu pescoço e sentindo o peso que tanto sentia ir embora com num passe de mágica.

- me desculpa - falo baixo - eu fui tão idiota e...

- tá tudo bem - ela alisa meu cabelo - vai ficar tudo bem...

Respirei fundo, finalmente me sentindo parte de uma família.













lost on u☇ // Tony LopezOnde histórias criam vida. Descubra agora