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Minhas bochechas já doíam de tanto que tinham queimado no sol. Eu e Tony tivemos a piscina só pra nós dois durante o dia inteiro, e a casa também. Um pessoal tinha saído pra resolver algumas coisas do vídeo clipe e o resto tinha ido passear ou passar o fim de semana na casa dos pais.

Gravamos todo tipo de tiktok. Dancinhas, povs, vlogs etc. Não achei que era possível me divertir tanto num aplicativo.

- eu não vou dançar isso - falei quando nós dois já estávamos do lado de fora da piscina.

- não é nada demais, Suzu - ele ajustou o celular na mureta que tinha ali.

- jogar a bunda não é nada?

- depende do ponto vista - ele fala esperto, se posicionando do meu lado.

- Tony...

- só mais essa e a gente para de fazer tiktok, tá? - ele promete.

O fuzilo com o olhar e cedo ao seu pedido. O temporizador marca 3 segundos e nós dois jogamos a bunda no mesmo instante, me fazendo rir da idiotice daquilo.

- o que eu to fazendo da vida? - me pergunto.

Ele ri também, vendo o resultado final.

Ficamos mais um tempo na área da piscina e depois fomos tomar banho e trocar de roupa. Admito que não estava muito animada pra ligar pra minha mãe, que com certeza iria falar mais do meu pai, justificando cada palavra mentirosa dele.

Usei o moletom de Tony, que era bem maior e mais confortável do que o meu e fomos pra sala de TV, que pra variar estava uma zona. O garoto só usava seu short de dormir e escolhia algum filme pra nós dois.

Me permiti reparar em cada detalhe dele. O jeito que seu cabelo estava bagunçado ou que seu colar brilhava contra sua pele, agora bronzeada pelo sol. Tudo nele era perfeito. Ele era perfeito.

Tony escolhe um filme aleatório e vem até mim. Ele deita sua cabeça no meu colo, enquanto eu brinco com seus cachos, os bagunçando ainda mais. Mal presto atenção no filme. Meus pensamentos estavam na minha mãe e nos motivos pelos quais ela queria tanto que meu pai voltasse.

Tony toca no meu nariz de repente, me tirando do transe.

- oi - respondo.

Ele sorri e revira os olhos.

- você é teimosa demais - ele diz - tenta esquecer isso um pouco. Por favor...

Inspiro e balanço a cabeça, afastando minhas paranóias dali.

- tá... - falo somente.

Tony sorri mais satisfeito com minha tentativa e volta a assistir o filme. Mas ainda sim, não deixava de esconder minha preocupação.

***

Meu pai estava em casa. Minha mãe e Mia sorriam ao seu redor, todos usando branco, menos eu, que parecia suja de terra.

Ele acariciava a pequena enquanto falava que a amava, falando o mesmo com a minha mãe, que sorria feito boba. Eles pareciam não notar minha presença, mas mesmo assim pareciam ótimos sem mim. Sorridentes e unidos, como uma família de verdade.

Eu tentei chamar a atenção deles, mas nenhuma voz saía da minha boca. Tentei ir até a rodinha ridículas deles, mas também não conseguia sair lugar. Começei a ficar desesperada e uma sensação de sufoco começou a apertar minha garganta.

- sabe o que eu quero de presente mamãe? - Mia perguntou com uma voz calma demais.

- o que? - minha mãe sorriu como nunca tinha visto antes.

- que a gente acabasse de vez com ela - Mia apontou pra mim.

Agora eles me viam. O sufoco aumentou.

- ela? - meu pai grudou os olhos negros em mim e Mia assentiu.

- acho uma ótima ideia, meu amor - minha mãe permanecia sorridente - Joseph... dê as honras.

Meu pai pegou uma faca e veio andando lentamente até mim, com aquele mesmo olhar sinistro. Eu tentava gritar e fugir dali, mas meus pés não mexiam nem um dedo se quer.

Olhei desesperada pras duas, que se despediam de mim e saíam alegres pela porta. Meu pai se aproximava cada vez mais até...

Acordei no meio da noite num pulo com o coração acelerado e nem reparei que lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu tremia e não parava de pensar no rosto maligno de meu pai.

- Suz... - Tony se mexeu ao meu lado e assim que me viu em completo pânico, se sentou rapidamente - ei, ei... o que foi? - ele se virou pra mim, mas eu permanecia paralisada de medo - Suzu? - ele segurou em minha mão - céus, você tá tremendo muito...

Ele ia se levantar pra acender a luz, mas eu o impedi, segurando na sua blusa. O garoto me olhou preocupado, mas resolveu me obedecer e se sentou.

- foi só... - eu me acostumava com a sensação de ter voz novamente e lutava contra as lágrimas idiotas - só um pesadelo... não precisa se...

- Suzu... - ele me puxou pra si, me fazendo desabar de vez. Eu parecia uma criança chorando por causa de um pesadelo tonto - já passou, tá bom? Seja lá o que você tenha sonhado... Não era real.

Pra mim era bem real. Quase podia sentir o hálito do meu pai.

Respirei fundo, me apertando ainda mais contra seu peito, desejando nunca mais sair de perto dele. Sentia como se esse fosse o único lugar do mundo em que realmente estaria segura. Longe do meu pai e protegida de qualquer coisa.

- quer que eu pegue um copo de...

- não! - corto rápido - só fica aqui - me aconchego mais - por favor... - minha voz volta a falhar.

- tá tudo bem - ele diz tranquilo - não saio daqui.

- obrigada...














lost on u☇ // Tony LopezOnde histórias criam vida. Descubra agora