Elena

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Elena

Eu estava desarrumando minhas malas no apartamento. Coloquei meus pertences pessoais como roupas, sapatos, bolsas em um guarda-roupa. O apartamento tinha uma sala, um banheiro, um quarto, uma cozinha americana. Havia uma sacada no meu quarto onde eu podia avistar a rua. O apartamento era mobiliado e tinha até uma TV.

Eu não gostei nenhum pouco dessa cidade que eu considerava chata, patética e desprezível. Eu preferia a agitação de Porto Alegre.

Olímpia tinha uma área de 802,7 km². Havia cerca de 62,3 habitantes por quilometro quadrado. Cerca de 54.037 humanos viviam naquele fim de mundo chamado Olímpia. Parecia o lugar perfeito para se retirar, um pequeno refúgio discreto em um lugar que poderia muito bem não existir. Eu não esperava me apaixonar por uma das pessoas da cidade, no entanto.

Eu não pretendia passar o resto da minha vida naquele lugar. Eu tinha alguns planos melhores. Desejava cursar faculdade de ciência da computação. Eu queria ser dona do meu próprio destino. Não tinha vontade de ter uma vida medíocre. Eu não queria depender de ninguém. Eu era egoísta e individualista. Acaso eu poderia precisar de outro além de mim?

Além de eu estar em uma cidadezinha entediante, eu ainda me hospedei em um prédio residencial de quinta categoria. Os apartamentos eram minúsculos e não tinham área de serviço. Eu teria que lavar roupas em uma área comum nos fundos do prédio. Eu lavaria minhas roupas sob o olhar de outras pessoas. Era só o que me faltava.

Eu fui para o meu quarto. Nesse momento, o meu celular tocou. Na tela, aparecia o numero de contato da minha mãe. Eu atendi:

- Alô, mãe.

- Alô, filha. Você já chegou em Olímpia?

- Sim. Eu acabei de chegar. Eu estou agora em uma hospedaria. Não é um lugar cinco estrelas, mas é confortável.

- Você não parece tão feliz pelo tom da sua voz.

- Se eu não precisasse de um emprego com urgência, eu não teria vindo para cá. Aqui é um tédio.

- Por favor, volte. Não quero que fique longe de mim por tanto tempo. Seus irmãos também sentem muita falta sua.

- Eu voltarei para a casa se o gerente do posto de gasolina não me contratar após a entrevista. Nem sei se eu vou conseguir esse emprego. Talvez eu volte.

- Eu te ligo mais tarde.

- Até logo.

Ela desligou o telefone no outro lado da linha. Eu coloquei meu celular no criado-mudo.

Eu abri o meu diário e comecei a registrar meus pensamentos em suas páginas. O diário é um bom amigo para pessoas que são um pouco introvertidas ou que não têm conhecidos nos quais elas possam confiar. Eu podia me refugiar no diário para compartilhar algumas circunstâncias difíceis.

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