Stefan

4 1 0
                                    


Stefan

Eu parei em um supermercado à noite. Era uma área tranquila, com poucas pessoas circulando. Era quase dez horas da noite. Eu morava por lá há anos e nunca me deparei com elementos realmente criminosos por lá, então me senti seguro em ir à loja sozinho naquela noite.

Eu comecei procurar algumas coisas nas prateleiras. Quando eu estava colocando sacos de leite no carrinho, senti um vulto se aproximar. Eu me virei. Fiquei supresso ao olhar para o sujeito que estava a cinco metros de distância de mim. Eu vi um par de olhos verdes. Sem emoção, eles me analisaram. Eu me senti nu, como se não houvesse nada em mim que esses olhos não pudessem ver. Esses olhos sabiam quem eu era, sabiam tudo sobre mim. Eram os olhos de Damon. Eu não tinha certeza se devia falar com ele ou não.

Fiz contato visual com esse cara irritante. Eu sentia inveja e medo dele. Além disso, eu o odiava, pois ele era tudo o que eu não era. Damon tinha uma personalidade muito forte. Ele é enérgico, inteligente, bonito e sabia o que queria. Ele praticamente sempre conseguia o que queria com sua ousadia. Eu era muito tímido na época.

Seus olhos estavam absolutamente colados em mim. Não de uma maneira passiva, mas como se ele estivesse me avaliando por algo.

Algo nele disparou avisos na minha cabeça enquanto eu pegava os itens pelos quais havia parado. Normalmente era o tipo de pessoa que anda pelas lojas sem rumo, fazendo questão de percorrer cada corredor apenas para ver o que está à venda. Naquela noite, porém, senti uma necessidade premente de entrar e sair da loja o mais rápido possível. Algo na parte de trás da minha cabeça me disse para ficar de olho naquele cara sinistro.

Eu estava tentando ignorar o cara quando meu celular tocou. Era Vicki. Eu respondi a sua mensagem de texto e novamente tivemos uma discussão. Ela me chamou de burro e filho da puta. Eu estava farto e gritei: "Vá para o inferno!" e desliguei o celular. De repente, todos os olhos se voltaram para mim, o que me deixou um pouco desconfortável. Esquivando-me, comecei a olhar para baixo.

— Sua namorada? — um homem perguntou suavemente.

— Não — eu respondi e depois me arrependi de ter dito isso a um estranho.

Damon havia se movido no meio do caminho e estava conversando com uma jovem. Ela estava balançando a cabeça e oferecendo respostas. A moça parecia hipnotizada diante dele assim como Elena e tantas outras mulheres que cruzavam o caminho dele. A garota se afastou dele após falar com Damon. Agora, o crápula estava me observando de novo. Quando passei por ele para sair com minhas compras, ele me parou, agarrando meu ombro.

— Olá, Sr. Stefan. Eu não esperava te ver por aqui a essa hora — disse ele, sorrindo.

Depois de um breve segundo encarando o sujeito esquisito, eu perguntei:

— Você viu Elena hoje?

— É claro que eu vi. Nos fomos ao cinema. Foi divertido. Finalmente, encontrei uma coisa valiosa nessa cidade insignificante: Elena. Eu só permaneço aqui por causa dela — disse ele, sorrindo.

Eu estudei aquele sujeito esquisito por alguns segundos. Ele não tem bochechas rosadas. Eu vi sua pele era verde clara e os cabelos castanhos que combinavam com suas olheiras. Seu peito não se move como o de uma pessoa normal quando respira. Eu pude ver o orgulho brilhando em seu rosto estúpido. Ele parecia arrogante e destruidor de corações. Eu franzi a minha testa diante dele.

— Você deve estar feliz. Conseguiu o que quer. Você tem Elena enquanto eu...— falei, tentando disfarçar o meu ódio. Se eu tivesse completado a frase, eu teria derramado minhas lágrimas na frente dele.

— Por que você não diz logo que está morrendo de ciúmes? — ele perguntou estufando os lábios. — Pode gritar e me xingar por eu ter lhe roubado sua princesa. Mostre o seu ódio e desgosto. Quero ver você sofrer para deixar de ser um pusilânime.

— Elena nunca foi de se envolver com estranhos — eu disse, encarando seu olhar penetrante. — Ela sempre foi cautelosa ao selecionar as pessoas com quem se relacionava. De repente, ela começou a se envolver tanto com você que até mudou a maneira de pensar. O que você fez com ela? Que tipo de lavagem cerebral você fez com ela, seu maldito?

— Eu não tenho obrigação de lhe dizer o segredo do meu poder sobre ela — disse ele sorrindo. — É só uma questão de tempo até eu me casar com Elena. Quando esse dia chegar, eu vou levá-la comigo para bem longe daqui e você nunca mais a verá. Elena será minha um dia.

Puxa, ele precisava se gabar tanto? Não suporto o som da voz dele tocando nos meus ouvidos. Porque esse cara não pode ficar de boca fechada? Eu realmente senti vontade de dar um soco na cara dele. Mas, fingi que nada aconteceu.

— Eu tenho que ir — eu suspirei.

— Não finja que você não a quer em cima de você — disse ele, sarcasticamente.

— Eu te odeio — eu resmunguei com raiva.

Ele me trouxe mais perto dele. Olhamos nos olhos um do outro. Seu olhar penetrante me fez estremecer. — Eu também te odeio — disse ele. Sua voz era firme.

Damon me soltou. Meus olhos piscaram por alguns segundos. Eu suspirei, dando um passo para trás.

Se eu fosse você, tomaria cuidado ao andar por essas bandas nessa hora, Sr. Stefan — disse ele. Damon bufou uma risada. — As lendas dizem que muitos demônios vagam por essas ruas à noite. Geralmente, esses seres se passam por humanos. Muitos falam que essas criaturas usam um encanto para atrair as vitimas para a morte.

— Eu não acredito nessas superstições e lendas que só servem para as crianças — eu dei de ombros. — O povo dessa cidade gosta de inventar essas coisas para assustar os outros.

— Às vezes, algumas lendas são baseadas em fatos. Não subestime essas histórias — ele disse, sorrindo.

Dizendo isso, ele simplesmente se afastou e desviou o olhar. Eu não disse nada depois. Eu suspirei, revirando os olhos. Eu me retirei da loja. O local ficava a cerca de 30 minutos de carro da minha casa, e eu sabia que, para chegar ao meu destino, eu teria que caminhar ao longo de ruas não iluminadas. Por um momento, senti que alguém estava me seguindo. Olhei para trás e não vi ninguém. Eu refleti sobre as coisas que Damon me disse. Eu estava cada vez mais convencido de que ele não era coisa boa. Havia algo de errado com aquele sujeito esquisito. Eu tinha impressão de que Damon podia ver até a minha alma. Ele percebia os meus medos e inseguranças apesar de não conviver comigo todos os dias. Damon podia ver todas as brechas da minha armadura.

Eu achava que não mereço ser amado. Esse era o núcleo da minha insegurança. Temia ser rejeitado e abandonado. Eu me perguntei se eu seria bom o suficiente para merecer o amor de Elena algum dia.


SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora