Lázaro

5 1 0
                                    


Lázaro

Minha mãe costumava trazer o seu ficante para a nossa casa. Nesse dia, ela estava bebendo vodka com o Sr. Oliveira na sala do apartamento enquanto eu estava preso em meu quarto, estudando diligentemente para os testes da escola. Eu tentava me concentrar nos exercícios de matemática.

O relacionamento deles era o mais duradouro de todos os que minha mãe já teve. Antigamente, ela trocava de ficante a cada dois meses. Eu queria tanto que ela fosse como as outras mães. Há muito tempo eu sentia vergonha dela. Minha mãe bebia muito, fumava e tomava pílulas assim como o seu novo ficante. Os dois eram farinhas do mesmo saco.

Minha mãe bebia duas vezes por dia (ganhava 1800 por mês de trabalho e gastava entre 150 e 200 com bebida).

Em um momento, fiquei entediado, saí do meu quarto e espiei na esquina. Minha mãe estava no sofá, o que era normal, com duas garrafas de vinho e o Sr. Oliveira ao seu lado. A televisão estava ligada. O homem parecia um pedinte. Sua barba esfarrapada emitia uma vibração assustadora, e eu estava com medo. Fizemos contato visual frio e seus olhos pretos acastanhados me deram calafrios. Eu voltei para o meu quarto.

Ouvi risos, mas não demorou muito para que as risadas se transformassem em choro, as conversas se transformassem em gritos. A rapidez como passaram de amor ao ódio em questão de segundos me assustou. Houve alguns gritos mais altos e um barulho de objeto caindo. Algo ou alguém caiu, não havia como eu descobrir o que era sem me aventurar no corredor. Eu olhei na cozinha, nenhum sinal deles lá. Então ouvi uma porta se fechar atrás de mim. Eu me virei e senti arrepios subir minha espinha como uma descarga elétrica passando pelo meu corpo. O Sr. Oliveira se sentou no final do corredor.

O que aconteceu depois não era esperado. O Sr. Oliveira me chamou para sentar com ele. Fiquei confuso. Eu me afastei olhando para trás. Mais uma vez ouvi: "Lázaro, venha aqui, por favor", Ele estava tão bêbado que mal podia se manter de pé. Sentei-me ao seu lado, o Sr. Oliveira olhou para mim e disse: "Okay, é hora de você ir para cama. Agora me dê um beijo de boa-noite". "Ele quase caiu, mas voltou rapidamente. Quando eu estava prestes a me levantar, ele me agarrou e me beijou de uma maneira que me deixou enjoado, era o tipo de beijo entre um namorado e uma namorada. Sem saber o que fazer, entrei no meu quarto.

A confusão se transformou em tristeza. Com o tempo, eu percebi que o que havia acontecido estava errado.

Eu olhei meu despertador. Eram 23 horas e 40 minutos. Guardei todos os cadernos e materiais escolares que estavam em cima da mesa. Logo após, eu desliguei a luz do teto e liguei a do abajur. Assim que me deitei na cama, eu caí no sono.

***

Abri os olhos e senti que havia algo perto do meu travesseiro. Mas de repente, a coisa parou de se mover. Eu ignorei isso. No começo, pensei que fosse apenas uma pequena lagartixa. Mas não!!! Moveu-se novamente. Algo chegou tão perto do meu ouvido que eu podia sentir a respiração de alguém e entendi que não era uma lagartixa doméstica com certeza. De repente, a coisa tocou minha orelha direita. Seus dedos frios deslizaram em volta da minha garganta. Eu definitivamente não estava sonhando. Eu estava literalmente tão assustado que não conseguia me mexer. Era uma sensação estranha. Eu realmente não consegui me mover, mas senti algo.

SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora