Damon

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Damon

Eu encontrei Elena na praça à noite. Eu a cumprimentei com um aperto de mão embora eu quisesse beijá-la na boca, mas eu não podia me aproximar demais dela sem sentir desejo de sugar seu sangue.

Eu tenho olhado nos olhos dela o tempo todo porque nunca vi olhos tão escuros com tanta luz neles. Eu acho que os deuses tiraram a cor do oceano e a colocaram nos olhos dela. Elena usava uma saia longa que ela gostava e uma blusa rosada.

— Oi senhorita, desculpe-me por estar atrasado — eu disse. — Você está bonita como sempre. Você serve como modelo ideal da beleza. Sua beleza irradia como a de um sol.

Ela corou ao ouvir isso e suas bochechas inchadas ficaram mais rosadas.

— Obrigada. Você faz com que me sinta a mais linda do mundo.

— Mas você é linda.

— Podemos ir ao meu apartamento se você quiser — ela disse.

— Sim, isso será bom — eu respondi.

Ela sorriu para mim. Então, decidimos passear pela rua tranquila. Lentamente segurei suas mãos. Vendo seu rosto corado, eu sabia que ela também queria que eu fizesse isso. A garota mais bonita da minha vida estava ao meu lado. Depois de um pouco de conversa, nós chegamos em frente ao residencial cisne negro. Um grupo de homens estava lendo os jornais em frente ao edifício. Os fofoqueiros da cidade estavam nas portas das casas, comentando as últimas notícias.

Então, as memórias antigas voltaram à minha consciência. Aquilo era como um pesadelo enquanto acordado. O verdadeiro agora desapareceu naquele momento. Parece que tudo está acontecendo novamente.

Histórias de invasões de soldados paraguaios retornaram às pequenas cidades, aterrorizando os homens elegíveis para alistamento como eu. Uma ansiedade severa atormentou os soldados em potencial, enquanto as notícias do derramamento de sangue e das lutas atrozes chegavam até o povo que morava na minha cidade natal. Certo dia, um grupo de oficiais bateu nas portas das casas para recrutar soldados. Eu me lembrava como se aquilo tivesse acabado de acontecer. Eles chegaram à casa da minha família em uma tarde ensolarada de sexta-feira. Estes me entregaram um documento de alistamento. Meus pais estavam lá. O oficial disse:

— Você está convocado. Aliste-se no posto militar mais próximo.

Consuelo, minha irmã e Sandra, minha mãe, choraram descontroladamente. Meu pai as abraçou nesse momento. Assim que o oficial foi embora, eu fechei a porta. Minha mãe disse, chorando:

— Isso só pode ser um pesadelo. Como aqueles canalhas podem enviar os filhos dos outros para a morte?

— Você tem que escapar desse alistamento. Essa guerra não é sua — disse Consuelo.

— Quem vai lutar no meu lugar? — eu perguntei sarcasticamente. — Papai que já está velho e mal se aguenta nas pernas? Um escravo que nós nunca tivemos? Um irmão mais velho que eu jamais tive?

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