4 - A Primeira Transformação

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- Está preocupada de novo? - Jung Kook esticou a mão para me entregar um pedaço de coelho e eu peguei. Precisava comer carne, antes que a hipotermia causasse mais problemas. Já não sentia muito bem as pernas.
- Precisamos tirar a Mallya de lá Jeon. Ela deve estar sofrendo dia e noite e nós estamos aqui comendo e livres! - Bufei, sentindo as costelas doerem com o desabafo, a fogueira que Kook tinha feito estava quente, mas eu ainda sentia muito frio. Era um lugar tão gelado onde nós estávamos que eu tinha medo de cuspir e colar alguma coisa em algum lugar. Levantei os olhos novamente, encarando a lua, refletindo minha impotência, tinha que dormir, estava exausta demais pra caminhar, o problema seria tentar distrair a cabeça pra cair no sono por pelo menos algumas horas. Meus pensamentos estavam tão distantes e disparando tão rápido em tantas direções diferente misturadas entre uma angústia de arrependimento e uma saudade avassaladora.
Comi a comer a carne, me sentindo culpada ainda por ter matado aquele coelho por sobrevivência, mas me esqueci dele depois de deitar ao lado de Kook dentro do que podíamos chamar de barraca, eu tinha feito o melhor que pude pra montar um abrigo temporário, mesmo que não tenha ficado tão grande. Jung Kook estava com o corpo quente e desse jeito eu torcia pra temperatura fria não me atrapalhar pra dormir, o problema seria achar a posição, eu estava a uns dois dias sentindo uma dor insuportável nas costelas, como se meu corpo estivesse ficando pequeno para os meus ossos. Talvez fosse um problema adquirido por causa dos graus abaixo de zero. Torcia pra conseguir me recuperar depois que fosse pra um ambiente mais ameno.
- Você quer conversar? - Jeon se ofereceu me tirando dos meus devaneios distraídos e preocupados, se aproximando mais de mim, com o cuidado de não me amassar com a pouca distância, e eu não resisti reparar em como sua boca estava perto, e as mãos dele pareciam tão vagas, como se algo dentro de mim se incomodasse delas não estarem em nenhum lugar, só soltas por ai.
- Na verdade acho que não, - Chaqualhei a cabeça tentando afastar o pensamento de que se eu fosse um pouco mais pra frente podia lhe roubar um beijo - Amanhã é um novo dia e vamos andar mais rápido pra chegar logo. - Comentei afastando agora meu olhar dele. Eu já tinha até me acostumado. Ao cheiro masculino e caliente que ele tinha, aos braços me trazendo pra perto no meio da noite, parecia tão inocente. Tão natural. Mas eu não sabia se ia continuar com essa normalidade depois de resgatar-mos a Mallya, talvez isso fosse esquecido, eu ainda estava magoada com Mark, mesmo que meu coração quisesse me trazer uma nova vontade. Um novo talvez... Eu não tinha certeza do que isso podia se tornar. De certa forma por mais que o ódio falasse mais alto, eu ainda gostava de Mark, e agora achava que estava começando a gostar de Kook também.
Com um suspiro cansado, deixei o assunto de lado, bem quando senti a costela direita latejar, parecia que as inflamações estavam doendo ainda mais. Apoiei a mão em cima e tentei respirar fundo, mas estava doendo ainda mais. Eu tinha que aguentar, eram só mais 30km até o reino do Mark, já estavamos quase chegando pra ajudar a Mallya. Eu tinha que ser forte.
- Vamos dormir então, já que não quer conversar hoje. - Ele se recostou perto de mim, deixando que eu respirasse o mesmo ar que ele, podia sentir como seu coração estava batendo forte naquela pouca distância em que estávamos, mas resolvi não comentar. Ele se aproximou mais, tentando discretamente se arrumar do meu lado sem esbarrar muito, mas o que aconteceu foi completamnete o contrário. Seu peito colou no meu e eu não aguentei. Ele estava tão perto, a boca dele estava tão perto. Eu ameaçei me aproximar, e me arrependi logo em seguida. E se eu estivesse presumindo errado?
Quando recuei, Jeon me agarrou pelo quadril e me puxou. Pra cima dele e da sua boca, roubando um beijo voraz dos meus lábios, de um jeito que eu nunca senti antes. Sem choque, sem falta de ar, sem nada eletrizante com perigo de me matar. Só a boca gelada dele e seu hálito suave. Os lábios macios e tão experientes me faziam aquecer o corpo inteiro.
De repente todo aquele frio sumiu, como num passe de mágica e eu senti uma sensação gostosa passar pelo meu corpo inteiro como se eu estivesse me expreguiçando de manhã. Estava aquecendo mais.
Jung Kook entrelaçou suas pernas nas minhas, me beijando e passando sua língua na minha, era volúpia demais pra eu me concentrar, só conseguia desejar mais, querer mais.
Quando Jeon agarrou meu quadril subindo pra minha costela senti os primeiros ossos, sair e voltar no lugar e em seguida um estralo alto ecoou ao nosso redor. Eram meus ossos, estavam quebrando, e a dor era tão insuportável que eu nem aguentei respirar.
Jeon me soltou alarmado achando que tinha me ferido e eu cai pro lado no cobertor arquejando de dor, tentando puxar ar, mas o baque no chão quebrou mais alguns ossos.
Agarrei o ombro de Jeon, desesperada com tanta agonia, e ele me encarou apavorado sem saber o que fazer, tentou sentar, e quando me puxou pra ajudar eu flexionei as costas no chão, mais ossos, o que tinha sobrado das costelas estavam me dilacerando por dentro.
- Alícia o que está acontecendo?! Seus olhos estão vermelhos!!! - Jeon se desesperou abrindo a porta improvisada da barraca e eu grudei as unhas no chão, agora conseguindo respirar e soltei um grito agudo quando começei a sentir os ossos da perna quebrando. Meu corpo parecia estar se quebrando sozinho.

- Jung Kook-

Fui atrás da Alícia assim que saiu da barraca, seus ossos estavam fazendo voltas dentro da pele dela, como se estivessem tentando sair pra fora.
Se eu não tivesse certeza, podia jurar que ela estava se transformando em um... Meu Deus era isso mesmo...

PRISON IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora