- Alícia on-
A sensação excruciante de ossos se compartimentando e se partindo em estilhaços e pequenos fragmentos fez a dor da pancada que eu tinha levado da coisa parecer brincadeira.
Tinha alguma coisa errada e eu sabia o que era. Aquele mesmo gosto na boca de adrenalina, o sangue pulsante fazendo meus ouvidos ficarem mais despertos. Eu podia sentir a transformação chegando. Estava tão perto que eu podia sentir os ossos puxarem, quase como um misto de dor e prazer se moldando até se tornarem um só e desfazer o encanto. Porém não sabia se seria uma boa ideia se transformar, já havia o que especulavamos que era um lobo e um baita de um lobisomem envolvidos. Brigando lado a lado com a morte.
Tínhamos que fazer alguma coisa antes que... Quase que adivinhando a Mallya me deu um toque no ombro e então se levantou depressa, alçando um pulo que com as ajudas das asas a fez ir do outro lado da rua. Ela agarrou a espada e partiu pra cima da coisa ao mesmo tempo que Mark. Foi o momento exato de GD se afastar e os dois enfiarem suas espadas no corpo da coisa. Com força imensa. Semicerrei os olhos com a incerteza de que a coisa sairia viva. E por mais incrível que pareça depois de um grunhido intenso eu escutei os cascos raspando no chão e a Mallya gritou. GD já tinha se envolvido de novo. A fera, por mais incrível que pareça havia pegado Mark e a Mallya pelo pescoço, jogando eles pra longe mesmo com as espadas fincadas em seu abdômen. Como as duas patas dianteiras ele puxou as espadas pelo cabo para fora de seu corpo e jogou elas longe.
Ele estava olhando pra mim. Os olhos amarelos vidrados, eu podia sentir o peso daquele olhar carregado de ódio. Não tinha nada ali, nenhuma humanidade pelo menos. Ele só parecia um monstro, por dentro e por fora. E estava na cara que eu era a próxima presa que ele tinha escolhido pra essa noite.
GD já estava vindo na direção dele, mas a coisa foi rápida demais, já estava vindo correndo na minha direção em pé como se fosse um homem, as longas unhas negras afiadas como navalhas estavam sedentas pelo meu pescoço. Mark já estava se levando e a Mallya procurando mais uma vez pela espada, mas estava na cara que não daria tempo. Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu tinha...
- Alícia!!! - A voz da Mallya gritando na minha cabeça estava girando em círculos.
Senti todos os ossos queimando por dentro do corpo de novo, querendo rasgar cada parte de pele e jogar o lobo pra fora, mas até eu me transformar seria tarde demais. Tarde demais...
De repente, meu corpo estremeceu e meus ossos antes de começar a salientar pra quebrar debaixo da pele foram interrompidos. Tinha alguma outra coisa vindo de dentro, pronta pra se soltar. Mais uma vez a sensação de pânico e a quentura no corpo e o sangue pareceram se moldar e alinhar dentro da minha cabeça. Quando eu percebi o que estava acontecendo a coisa já estava em cima de cima, pronta pra descer as garras afiadas na minha garganta. E então eu levantei, com força total dando um gancho de direita no bicho. O meu corpo todo se revoltou contra ele lançando tanta energia que por um instante achei que pudesse cozinhar a rua inteira com tanta quentura que saia de dentro de mim. Quase que a mão fechada grudou o punho no queixo dele. E foi o que causou um grande incêndio, das minhas mãos direto pro corpo da coisa. Começando a explodir, começou pelos dedos e garras, os ossos e a pele se desmancharam como se fosse areia e cinzas e explodiram e em seguida o mesmo ocorreu com os braços dele.
A coisa recuou pra trás ganindo, até começar a pegar impulso e correr. Correr em pé, com os cascos batendo e soando no asfalto até se afastar o bastante pra nos sentirmos aliviados o bastante pra se entregar ao chão frio.
Eu caí de joelhos no asfalto. O corpo todo não estava mais doendo, mas eu sentia tanto calor e tanto poder que a cabeça doía. Só de esfregar a mão no pescoço ela estava voltando molhada de suor, sangue e fogo.
E nada estava mais como eu enxergava, minha visão turva estava tentando se adaptar, mas tudo que eu enxergava parecia repleto de sangue e fogo alaranjado. Eu estava enxergando tudo vermelho e tinha fogo na minha mão, fogo de verdade saindo por entre os meus dedos, e quanto mais eu chaqualhava as mãos pra apagar, mais acendia. Estava aumentando mais rápido.
Meu coração começou a arder por dentro dando solavancos no peito. Eu tinha que parar, tinha que apagar o fogo.
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PRISON III
KorkuO Fim está próximo... Mergulhadas num mar infinito de pesadelos, Mallya e Alícia vão ter que encarar uma doce cruel verdade, que nem mesmo o destino poderia ser capaz de mudar. A morte se aproxima, e agora mais do que nunca as meninas vão ter que...