27 - Transição

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  - Vamos começar. - Falei, pegando o livro da mão de Jimin.
  - Você tem certeza que está bem o bastante pra isso? - Indagou ele e eu assenti, tentando não pensar tanto no assunto, podia sentir o nó na garganta me sufocando. A Alícia estava lá parada inconsciente de novo, só que agora em uma grande mesa de concreto, os cabelos negros esparramados pela pedra dura e gelada.
  - Qual página que é? - Indaguei e Jimin fez uma cara de preocupação.
  - É ele quem vai te dizer, lá no fundo da sua mente, e vai ser ele mesmo quem vai cobrar o preço.
  Com as instruções de Jimin eu assenti e apontei para porta, incentivando que ele se retirasse pra dentro do castelo, para que nos deixássemos apenas eu e a Alícia no jardim, mais ninguém podia participar do que ia acontecer. Tinha que ser algo só nosso.
  Tentei quase inutilmente esquecer o Tae, tentando deixar ele escondido dentro da minha cabeça, mas não consegui. Ele estava inundando cada pedacinho do meu consciente. Me deixando mais frustrada ainda, e se o livro se apoderava dos meus pensamentos pra me guiar pro feitiço, eu tinha que estar concentrada na Alícia, e não nos meus problemas.
  Me concentrei naquele livro pesado sob meus dedos, me lembrando daquela sensação bruta e rústica de quando eu e a Alícia o encontramos naquela floresta, aquela visão da minha mãe... Como eu podia imaginar... Onde o Tae estava quando minha mãe lutava pra salvar a minha vida e a dela? Talvez preso sendo torturado pela mãe do Mark? Ou será que estava em algum outro lugar esquecido das suas responsabilidades?
  Chaqualhei a cabeça lutando contra os pensamentos numa última tentativa de me concentrar e encarei o livro, virando as páginas, até chegar na página dez eu achava que ele estava em branco, não tinham linhas, nem palavras, nem figuras, não tinha absolutamente nada naquele livro, virei ele do avesso. O material rústico e gélido passeando pelos meus dedos lentamente, até que eu comecei a folhear ele, de fora a fora, como se fosse um caderno de escola. Foi quando meu dedo começou a arder, e uma gota de sangue bem viva caiu sobre uma das páginas. Na mesma hora eu parei de folhear para lamentar o dedo, e larguei o livro, que caiu aberto aos poucos, como se fosse num passe de pura mágica, foi se revelando, pincelando as páginas com a gota de sangue, que se achatava e se desmanchava em imagens coloridas, figuras sombrias e macabras, e umas escrituras manchadas apareceram, do borrado se moldando a palavras na minha língua, o que simplesmente mais parecia um encantamento do que um texto de verdade. Se é que eu tinha alguma noção do que realmente podia ser um feitiço.
  E como em qualquer filme de bruxa que a gente assistia na tv eu raciocinei que devia falar o que estava escrito ali em voz alta, afinal eu não fazia ideia do que realmente tinha que fazer, ali não tinha instruções claras como quando se fazia um bolo.
  - Seres divinos, Seres das Trevas, me favoreçam! - Gritei bem alto, falando em alto e bom som - Apareçam com a sua magnitude! Me despojem do seu poder, eu lhes rogo! - E de repente quando eu pensei que aconteceria alguma coisa, qualquer coisa que fosse, o vento jogou todo o meu cabelo na minha cara por simples insatisfação. É, estava bem na cara que não era igual os filmes da tv, muito menos igual as séries.
  O que será q eu tenho que fazer?
  Comecei a ler tudo de novo, todas aquelas palavras sem essência, ficando precisamente na Alícia, no seu rosto, na sua dor quando me pediu ajuda, naquela dor gritante, o desespero nos seus olhos de lobo. Foi só eu terminar de pensar, e olhar para ela que aquelas palavras que eu não tinha dito, mas pensado, que o chão tremeu embaixo dos meus pés, quase me derrubando. O que foi que eu fiz! É uma terremoto!!!!

- Mark on-

  Terminei a coleta e já estava na porta do quarto da Alícia olhando para o nome escrito na porta enquanto pensava, a Alícia nunca mais ia me perdoar por matar a Mallya, mas seria um sacrifício necessário para sermos felizes sozinhos. Eu tinha que fazer. Ela tinha que entender que meu amor por ela era maior, eu tinha que tirar ela do caminho, mesmo que colocasse ela no meio do caos em Helltown.
  - Um dia você vai entender meu amor ... - Sussurrei, tão baixo quanto podia e adentrei o quarto, encontrando ela deitada naquela cama, mais pálida que um morto, o rosto despido de qualquer traço ou sinal de maquiagem.
  Os cílios fazendo sombra em suas maçãs do rosto, ela estava tão graciosa, fazia jus a beleza das ninfas. Toda aquela delicadeza feroz, aquele ardor quase incalculável de magia emanando da sua pele como se fosse uma febre que não passava. Algo tinha que ser feito meu amor...
  Acariciei seu rosto, me inclinando apenas o suficiente para lhe roubar um beijo e então me endireitei novamente. Pondo minha mão sobre o seu peito, devolvendo a ela à vida.
  - É uma dádiva meu amor, você não vai virar uma múmia, você vai sobreviver.

PRISON IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora