6 - A Primeira Alma da Profecia

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- Mark on-

  Chamuscado, dolorido e com uma leve sensação de que ainda tinha alguma parte do meu corpo em chamas, eu tateei o livro amaldiçoado. Tão difícil de obter...
  Foi difícil me livrar daquela besta fera que a Mallya me deixou de presente, mas depois de tudo que eu tinha feito, não podia deixar um Dragão atrapalhar o meu caminho, mesmo sendo o Dragão do ódio da Rainha dos Dragões.
  Passei os dedos pelo livro e o botei aberto nas mãos, saindo da frente do espelho na escrivaninha, onde refletia a imagem da morte em seu aspecto mais sombrio.
  Tinha uma tarefa importante pra fazer, e não podia deixar pra depois.
  Passei pelo salão de torturas onde tinha sobrados os destroços da última briga tida no local e atravessei o corredor entrando na biblioteca. Na melhor das estantes havia um portal, e eu iria precisar dele para passar para o velho mundo da minha amada Alícia, quem sabe até a veria de relance. Pra ela devem ter passado três dias em seu mundo, mas no meu se fez uma quinzena. Ela deveria estara abalada ainda, triste com a morte da amiga, procurando um jeito de me achar e acabar com a minha raça. Tomada de ódio. Isso a deixava ainda mais linda. E a fazia mais incapaz de prever meus passos em todo o plano.
  Empurrei a estante de livros dando acesso a parede falsa que escondia meu acesso para o outro mundo, e atravesse a fita que nos dividia, descabidamente confiante de onde iria parar.
  E foi dito, e feito.
  - A quanto tempo... - A voz dele invadiu o cômodo assim que pisei na madeira rangendo da velha casa, e ele estava me esperando.
  - Eu quem o diga. - Escancarei um sorriso cheio de dentes, olhando para o sujeito do outro lado do quarto, que estava sentando numa cadeira de rodinhas, mexendo nas mexas azuis do cabelo.
  - Acredito que por estar me esperando aqui você deve ter novidades para mim. - Supus, dedilhando sobre o livro, com a foice da morte na outra mão. Estava com pressa, mas ele sabia exatamente que notícias eu queria. E não ia demorar pra me dar.
  - Não está errado, tenho informações que vão te interessar até demais. - Ele sibilou, se levantando da cadeira - Mas você sabe que tudo tem um preço, e você ainda não pagou o meu.
  - Tudo no seu tempo meu caro. - O rodiei, saindo da porta do guarda roupas para ir até ele, o olhando firme. - Mas sabe bem que sem falar, não recebe nada. - Alertei e vi seus olhos me vigiarem com desconfiança. Sociopatas são tão preocupados, como se isso fosse me impedir de matar ele a qualquer momento. Peões que não servem pra nada, são tirados do jogo.
  - Os meninos estão reunindo as máfias outra vez. O cherife abandonou o cargo para ficar de plantão ao lado da filha em coma, e o substituto que vai assumir a decorrência do caso chega amanhã. E pra completar com chave de ouro, a sua amada tentou suicídio assim que você e a Mallya foram pra Nárnia, ela está em coma no hospital da Santa Virgem no centro.
  - A Alícia... Em coma?! - Quase me engasguei com a notícia, então ela estava por perto esse tempo todo? Se o suicídio deu certo ela pode estar nos reinos.  Preciso voltar logo pra acha-la, vai ficar perdida naquele mundo sem ninguém pra ajudá-la a se achar. - E não é Nárnia Jong Up! - Fuzilei ele com irritação e sai batendo a porta do quarto. Preciso cumprir logo a missão aqui pra encontrar minha Alícia, antes que o ódio dos outros reinos caiam sobre o dela e ela nem tenha chance de revidar. Jackson provavelmente se aproveitou da deixa pra armar alguma intriga entre os companheiros com a chegada das duas novas rainhas, e isso vai causar um dano e tanto se eu não arrumar as coisas.
  Inalei o ar frio da noite assim que sai da casa, o ambiente tinha uma leve sobrecarga de maresia. E mesmo assim eu entrei na estrada rumo ao cemitério. Estava na hora de levar a primeira alma que eu matei nesse mundo, direto para o reino dos mortos.

- Alícia on-

  Atordoada.
  Eu me senti atordoada por inteiro, talvez confusa descreve-se melhor minha sensação de fora do meu próprio corpo. Talvez até mais que isso. Mas tinha certeza de uma coisa, a Mallya estava aqui, e estava com tanta raiva de mim que agora não sei porquê eu podia sentir o ódio dela irradiando em cima de mim como se fizesse parte do meus sistema nervoso, a raiva dela parecia estar fazendo a minha se manifestar e crescer no mesmo nível.
  Tentei me levantar, sentindo o corpo e a cabeça tontos de emoção. E me esguerei pela colina, caçando instintivamente por ela, a buscando no meio da neve fofa.
  Eu sabia que tinha me transformado, e também sabia que de alguma forma tinha voltado ao meu corpo, a minha humanidade quer dizer. Algo como isso, nas aibda queria entender porquê a Mallya tinha asas e porquê estava tão brava comigo. E pelo visto eu já ia descobrir, pois ela estava vindo a todo vapor na minha direção.

PRISON IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora