29 - De Volta Pra Casa

40 10 1
                                        

  Uma batida. Duas batidas. Três batidas.
  Meu coração estava esmurrando minha caixa torácica como se fosse apenas uma mera consequência.
  Mais uma vez levantei a cabeça, instintivamente deixando os impulsos me levar mais uma vez a uivar, o corpo chegava a se rasgar de chamas em chamas. A imagem de Mark, de mim nos braços dele estava dilacerando meus pensamentos. Não conseguia me deter mais. Queria destroçar, rasgar e quebrar tudo que pudesse com os dentes.
  Conseguia sentir o cheiro de sangue a quilômetros.
  Eu estava com dor, conseguia me lembrar de ter voltado pra dentro do quarto naquele hospital, o rosto de Mark... Ele estava no chão cheio de sangue. Eu podia ter certeza que tinha feito algo grave com ele, mas não fazia ideia de até onde tinha chegado.
  Mais cheiro de sangue, era como se aquilo me atraísse, eu podia perceber que estava perto, mas não tinha completa noção de onde.
  O chão tremeu debaixo dos meus pés, eu podia sentir cada almofada da para estremecendo, só de sentir a noite adentro. A floresta parecia se comunicar comigo, desde as corujas até os mínimos animais que se escondiam a espreita, esperando pra saber se era seguro se aproximar. Na situação que me encontrava nem mesmo eu tinha certeza se era.
  Levantei o fuço comprido, farejando outra vez aquele odor irresistível e sobrepunjente de sangue. Estava mais perto, eu conseguia sentir gosto de carne na boca.
  Mais uma vez meus pensamentos me levaram até Mark, se eu tivesse matado ele eu também ia sentir, mas achava que não tinha chegado a tal ponto. Teria sido longe demais.
  Passei por galhos secos, despertando a atenção de outra criatura tão próxima de mim quanto eu podia imaginar. Só dava pra ver seus olhos através das árvores, eram verdes, e estavam cheios de ódio.
  Podia ser uma onça? Eu não sabia dizer se tinham onças em Helltown, pelo menos eu nunca vi uma aqui. Era mais provável que fosse...
  Era na verdade.
  Outro lobo. E eu reconheceria aqueles olhinhos verdes em qualquer lugar. Me lancei sobre ele, mais num impulso instintivo de saudades do que consciente, e quase com um sobressaltou ele me recebeu. Resmungando baixinho e me lambendo.
  G-Dragon. Como senti falta do nosso grupo.

- Mallya on-

  Eletricidade.
  Era como se eu estivesse embaixo d'água sendo eletrocutada viva, não tinha como respirar, eu sabia que tinha algo errado, mas escondi, bem lá no fundo, como se nem mesmo fizesse efeito.
  E por fora eu estava na mais calma paz, como se nada não tivesse acontecido. Eu havia desistido de lutar. Sem a Alícia meu mundo não era e nem será mais o mesmo. Então quem sou eu pra fazer qualquer coisa a respeito? E essa dor? Essa dor angustiante que estava me rasgando por dentro desde o fundo da garganta até a língua. Era como se fosse me rasgar de dentro pra fora.
  Chegava a latejar na minha cabeça.
  - Você tem noção do que você fez?!! - Indagou Jung Kook ainda incrédulo, me olhando com horror enquanto eu encarava as cinzas em cima daquela pedra. Lugar onde antes estivera a Alícia.
  A culpa não era minha, eu tentei salva-la. Eu juro que tentei com todas as minhas forças.
  - Todos queriam salvar ela não é Jeon? Então porque você não fez? Se estava tão preocupado por que não sujou as mãos?! - Indaguei de volta pegando ele pelo pescoço e erguendo, minhas veias pareciam estar queimando por dentro, eu podia sentir as correntes passando de dentro pra fora, era a mesma sensação de estar debaixo d'água com uma causa de peixe, aquela ânsia obscura por comida e o ódio profundo, pareciam me sugar de dentro. Eu podia sentir alguma coisa quase imperceptível se esvaindo aos poucos, vez a vez como se fosse poeira. Mas não era as cinzas da Alícia, eram a minha alma. Eu podia sentir ela se desgrudando do corpo e deixando apenas um casulo vazio.
  Estava uma confusão na minha cabeça, mas ninguém mais além de mim parecia sentir, apenas eu. Enquanto os demais se espantavam pela minha reação.
  Desgrudou os dedos da gola da camisa de Jung Kook e me virei pro castelo, andando depressa para dentro, tinha algo de errado comigo. E eu precisava descobrir o que era bem rápido.

PRISON IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora