8 - Reconciliação de Rainhas

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- Mark on-

  Passei a mão sobre a capa do livro antigo limpando um pouco das teias de aranha que insistiam em ficar grudadas na capa dura. Já era quase meia noite, eu tinha que voltar antes que o dia no outro reino começasse, mas ainda não conseguia aceitar, a Alícia tinha tentado se matar só por causa da amiga. Achei que ela seria menos determinada, devia ter me planejado pra possíveis inconvenientes.
  Tirei o capuz da cabeça e me desencostei da parede do quarto, olhando atentamente para o rosto dela. Estava tão pálida naquela cama sem cor. Abandonada naqueles aparelhos que tapavam suas narinas e sua boca com fios de plástico. O pai dela, largado naquela cadeira de hospital do lado de fora da sala parecia estar desconsolado. Agora não fazia mais sentido essas sensações pra mim. Emoções humanas não existiam pra alguém como eu. Um psicopata de nascença. Eu só podia sentir essas coisas quando tinha ela do neu lado, mas agora... Agora nem ela pode me proporcionar isso mais.
  Com o maxilar enrijecido, eu cobri a cabeça com o capuz novamente e sai da sala pela janela, desaparecendo no meio da noite sem beijo de despedida, nem lágrima de adeus.

- Alícia on-

  - Rápido! - Alguém gritou, parecia a voz do Mark, mas eu não conseguia enxergar ninguém no meio de tanta neve, flocos agressivos estavam descendo dos céus embaçando os vidros do carro, de um jeito que nem o parabrisa se mantinha inteiro.
  - Rápido vamos! - Gritou de novo e eu olhei para a porta do passageiro que estava aberta, estava entrando um frio desolador por aquela porta, e junto com ele eu estava vendo uma mão, era a mão de Jeon, ele estava tentando me salvar, mas do que?
  Eu estava tão confusa, podia sentir o medo crescendo dentro de mim, mas não conseguia entender por quê. O que estava realmente acontecendo?!
  Quando sei por mim, um par de faróis foi avistado diante do parabrisa e depois disso eu não vi mais nada.

  Arquejei, agarrando com unhas e desespero o que quer que estivesse entre os meus dedos, quase sentindo o coração sair pela boca quando aos poucos foi notando que não estava mais onde quer que fosse que minha mente traiçoeira tinha me levado. Era um sonho, pesadelo...
  Engasguei, recuperando a calma lentamente enquanto olhava pra Mallya e pro quarto que estavam ao meu redor. Parecia tão bonito e tão me ordem. As cores neutras nas paredes e as cortinas vermelhas não parecia ter nada a ver com a Mallya, se é que minha dedução não estava errada e aquele quarto talvez não fosse o dela.
  - Outro pesadelo? - A Mallya quebrou o silêncio um pouco acanhada, e eu notei que estava fugindo seu olhar de mim, como se algo estivesse lhe incomodando. E quando tentei sentar percebi o que era.
  Eu estava quebrada.
  - Ai que dor! - Voltei a deitar assim que senti tudo estralando e doendo lentamente.
  - É, eu entendo, acordei com a mesma sensação. - Alegou ela mostrando perfurações onde garras traçadas em cima do seu abdômen e de algumas outras partes.
  - Foi tão feio assim nossa "reconciliação"? - Eu caçoei tentando levantar de novo e senti cortes desde o peito até a garganta, fora o desconforto de saber que tinha perdido uma quantidade generosa de sangue direto de dois finos buraquinhos no pescoço. Chegava a ser doloroso pensar.
  - Vem cá. - Mallya saiu da beira da cama onde estava sentada e me deu apoio pra levantar. Aos poucos conseguimos as duas ficar de pé na frente da cama e como se fosse premeditado começaram a invadir pela porta do quarto antiquado, dois homens com bandejas de um café da manhã bem reforçado e com chocolate e muitas doçuras inclusas.
  - Eu sei que só um café da manhã com chocolate não é o suficiente pra te pedir desculpas por ter criado uma guerra contra o seu reino e ter tentado te matar e quase ter conseguido. - Mallya falava enquanto os serviçais bonitos demais pra serem empregados colocavam tudo em uma mesa de centro que eu nem tinha notado no cômodo. - Precisamos conversar sobre algo que te fará repor as forças, quem causou toda essa confusão foi o Jackson. Creio que ele está armando para causar guerras entre reinos, agora precisamos descobrir porquê.

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