Capítulo 55

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Apesar de toda a alegria por estar em segurança com  Vítor, Dany mantinha o ar preocupado, olhando atenta  o foco de luz dos faróis na estrada embarrada e cheia de obstáculos. Ele trazia as mãos firmes no volante, dirigindo com cuidado. De vez em quando os pneus derrapavam no barro jogando o veículo para os barrancos ou passavam por uma, das tantas poças de lama, da estrada de chão, sujando o para brisa, tornando a visibilidade quase impossível.
Mesmo sabendo que Alice estava bem, não conseguia desligar da figura maligna de Celeste e de Priscila. Momentos antes, tinha entrado em contato com Nanete, avisando que estava bem e que não poderia voltar para casa. Pediu para falar com Rute e deixá-la mais tranquila. A amiga prometeu ajudar a tomar conta dos pequenos e manter Alice fora das mãos de Celeste e da filha, enquanto não voltasse para a fazenda.
Eles estavam no momento, indo para a cidade, mais precisamente para uma casa que os Montenegro mantinham na área central. Ninguém poderia saber da operação que seria deflagrada dali há dois dias. Precisavam manter-se escondidos esse tempo para não dar na vista de Celeste. Afinal de contas, ela achava que Jorge a mantinha no cativeiro até segunda ordem.
Ajeitou melhor o cinto, crispando a testa. Seus músculos do peito doíam e seu corpo parecia ter sido massacrado numa luta desleal. Aquilo se devia um tanto pelo esforço que havia feito para escapar, da caminhada pelo terreno escorregadio na mata e pelos tombos que levara no escuro, até chegar ao paiol, naquela noite. Outro fator era o estado de nervos em que se encontrava. Vítor a olhou de canto.
__ Está bem? Parece que algo dói em você.
__ Os hematomas...- passou a mão sobre um seio, explicando.__Jorge freava bruscamente enquanto estava me levando para o cativeiro, que acabei tendo hematomas onde passa o cinto de segurança. Nada demais, amanhã estarei melhor.Só preciso que isso acabe logo! - suspirou.__ Não aguento pensar que Alice está sem mim. - torceu os dedos nervosa.
__ Aquele filho da puta! - bateu, irado, com a mão fechada na direção.__ Por isso não o poupei! Nesse momento deve estar ajeitando a cara no Pronto Atendimento da cidade!
Dany olhou para ele, concluindo.
__ Por isso os nós de seus dedos estão machucados. Bateu nele, não foi?
Ela notou seu maxilar mexer e apertando os dentes, confessou:
__ O deixei quase irreconhecível! Se não fosse Juarez e Alan,  teria o matado!
__Meu Deus, Vítor, você pode se complicar com isso! 
__ Não pensei na hora. Tenho duas testemunhas, dirão que agi em legítima defesa.- sua voz soou mais baixa.__ Me disse coisas horríveis a seu respeito. Não me controlei. Fiz ele engolir cada palavra que falou sobre você! E se quer saber, não me arrependo nem um pouco disso.
__ O que ele falou?
__ Bobagens, Danyelle. Ele sabe o que fazia na Butterfly e resolveu atirar isso na minha cara. - respondeu nitidamente contrariado.__Falou sobre como você é gostosa...da sua bunda...Perdi a cabeça.
Ela se remexeu no banco, incomodada. Mesmo que ele dissesse que não se importava mais com seu passado, aquilo ainda mexia com seu ciúmes. O passado dela sempre seria lembrado e as palavras de Priscila da conversa do domingo, lhe vieram a mente. Ela mordeu o lábio, falando quase inaudível.
__ Sabe que isso será muitas vezes lembrado, quando alguém quiser te atingir, não sabe? O que eu fazia sempre será jogado na sua cara. Passado não tem como esconder. Ele sempre vai bater na nossa porta. - desviou o olhar para a janela, encarando a escuridão.
Vítor calou e ela não soube se o fez para não entrarem numa discussão ou porque admitia que era uma verdade.
O silêncio imperou uma boa parte do trajeto,uma certa tensão se instalou entre eles,  até que finalmente, chegaram na BR e cerca de trinta minutos rodando, sob chuva forte, entraram na rotatória que levava a  São Miguel Arcanjo.
A cidade, àquela hora da noite, estava deserta e Vítor parou em frente a casa, numa rua transversal à avenida principal. Acionando o controle remoto para abrir o portão, adentrou o pátio cercado por muros altos, pintados de branco. Danyelle pelo vidro, um tanto embaçado, vislumbrou uma senhora, na área da frente. Vítor se desvencilhou do cinto, pedindo:
__ Espere aqui. Vou buscar um guarda chuva para que possa atravessar o pátio.
Ela assentiu, o vendo sair correndo debaixo do aguaceiro, parando na área ao lado da mulher, conversando, abrindo a carteira e lhe entregando algumas notas de dinheiro. Ele voltou em seguida, abrigado pelo enorme guarda chuva preto, enquanto a mulher saía pelo portão pequeno da frente da casa. 
Vítor a protegeu da chuva junto ao corpo, passando um dos braços por seus ombros enquanto caminhavam com cuidado pela grama encharcada.
__ Quem era aquela mulher?
__ É a pessoa que mantém tudo organizado por aqui. A contatei à tarde para que providenciasse o básico para que pudéssemos ficar instalados, até que tudo se resolva.
Danyelle assentiu com a cabeça, enquanto ele abria a porta, dando o lado para que entrasse.
O cheiro da comida caseira fez sua boca salivar. Ela sorriu, se virando  para ele.
__ Acabo de descobrir que estou faminta!- disse  e foi saindo do pequeno hall, entrando na sala.
Seus olhos percorreram o lugar, aquecido pelo fogo da lareira. A decoração com certeza não tinha o toque de Celeste. Aliás era muito pouco provável, que ela, algum dia, tivesse pisado ali. o lugar era muito simples. A casa comum, não era grande, possuindo no máximo, dois quartos, sala de estar e jantar num ambiente aberto e móveis modestos, mas de bom gosto. A mesa já estava posta à espera deles.
Dany sentou tirando os tênis que estava encharcado, os deixando fora do tapete macio, ao lado do sofá .
__ Acho melhor tomar um banho quente, antes de comer. - ele ponderou, tirando o casaco molhado e a camisa respingada de sangue. ___Não vou me surpreender se ficar resfriada. Aqui não tem banheiro no quarto e ele fica no final do corredor. - apontou o local, se agachando  para alimentar o fogo com mais lenha.
__ Vítor...- ela pronunciou seu nome com cuidado, tendo a impressão que as coisas tinham mudado de uma hora para outra entre eles.
 __O que é? - ele torceu o pescoço, levantando o olhar e o cabelo caiu sobre a testa.
A imagem dele sem camisa, cabelos úmidos, iluminado pelas labaredas, a mão forte segurando a lenha rachada entre os dedos longos, a boca sensual entre aberta e os alucinantes olhos azuis acinzentados a lhe encararem, quase a deixou sem palavras. Parou alguns segundos, assimilando seus sentimentos. Todos os dias, descobria mais amor por ele dentro de si. A indagação saiu em tom baixo:
__ Fiz ou disse algo que não tenha gostado?
Ele levantou imediatamente se aproximando dela.
__ Em absoluto. Só estou cansado com o dia de hoje. - beijou o alto de sua cabeça, pegando sua  roupa suja e saindo em direção à cozinha.
Dany com aquela reposta automática suspirou e se dirigiu ao banheiro, que também não era muito grande, mas continha tudo o que precisava para higiene. A mulher havia feito seu trabalho com esmero. As toalhas azuis escuras estavam dobradas sobre a bancada da pia, assim também estavam dispostos sabonetes, escovas e shampoos. 
Tirou a jaqueta e logo o vestido, se livrando em seguida da calcinha e do sutiã, os levando para lavar embaixo do chuveiro. A água quente começou a aquecer seus ossos, a deixando um pouco mais relaxada. Por alguns instantes se permitiu chorar debaixo do jato. A lembrança da conversa que tivera com Priscila lhe trouxe uma dor aguda no coração. Talvez, Vítor tivesse subestimado as consequências de assumi-la tão rapidamente. Se um bandido falou de uma maneira que mexeu com ele, imagina como não ficaria diante de seus o amigos e parentes ?
A prisão de Celeste seria um escândalo e tanto, e sua vida pregressa seria exposta a todos. Os julgamentos começariam a princípio  pelas escolhas de Augusto e depois, Vítor, também seria julgado pelas dele quando a história toda viesse à tona, ligando Celeste, Butterfly e ela, como sendo o pivô das descobertas. A imprensa não os perdoaria!
O vapor tomou conta do box durante o tempo que se banhava, de costas para a entrada e de olhos fechados, tirando o excesso de shampoo dos cabelos, sentiu Vítor a enlaçar pela cintura, debaixo d'àgua, sorrateiramente.
__ Está bem?- ele questionou.__ Estava demorando, resolvi entrar também.
Dany se virou, puxando os fios molhados para trás.
__ Mais relaxada, embora seja impossível ficar totalmente tranquila. Um banho sempre é bom para pôr os pensamentos em ordem.Eis o motivo da demora. - sorriu.
__ E pensava em que?- ele passou a mão ensaboada sobre a mancha roxa acima do seio esquerdo dela. O toque reconfortante e a voz carinhosa, lhe deu coragem para a falar. 
__ Pensando que possa estar magoado comigo pelas coisas que ouviu de Jorge... -  seus olhos pousaram no azul dos dele.__Percebi que não espichou o assunto na caminhonete e  seu comportamento está meio elusivo. Se deu conta do que nos espera com Celeste presa e tudo sendo aberto num tribunal?
 Ela o viu torcer a boca num meio sorriso afável.
__ Está criando minhocas novamente nessa cabecinha? - bateu com o dedo indicador em sua testa.__ Fiz minha melhor escolha, não estou arrependido, Dany. Apenas estou digerindo a raiva que estou sentindo de Celeste. - baixou o olhar, exclamando com raiva.__Olha só o que fizeram com você! Está toda arranhada, machucada nas mãos, cheia de hematomas...
Danyelle se aninhou em seu peito, onde a água escorria deixando a pele dele quente.
__ O que importa é que saí viva dessa, nosso bebê está bem e eu estou aqui com você! - declarou. __ Só o que preciso agora, é comer, descansar um pouco e esperar até que a operação da Polícia Federal aconteça. 
__Minha vontade é voltar para a fazenda e expulsar Celeste de lá, como um cachorro sarnento! Nada do que estou sentindo tem a ver com o que possam pensar sobre mim ou sobre você! - lhe assegurou novamente deslizando as mãos sobre suas costas. Entende que eu te amo e que  minha revolta é que se não tivesse conseguido fugir eu teria lhe perdido para sempre? O medo e o pavor de nunca mais te encontrar, ou que pudessem matá-la ou até mesmo, que perdesse nosso filho me fizeram ter sentimentos brutais que ainda estão borbulhando dentro de mim.
__ Desculpa, acho que não estou sabendo lidar com sua inquietação. É que depois daquela conversa com Priscila, tenho que confessar que fiquei um pouco insegura. 
Vítor a apertou ainda mais contra si, suspirando profundamente.
 __Vamos esquecer por enquanto Priscila e suas tentativas mal sucedidas em nos abalar. A última coisa que precisamos é de uma discussão. Precisamos ficar unidos, ok?
Ela assentiu, levantando o olhar para escutá-lo dizer:
__Vamos tomar banho e depois alimentar alguém muito pequeno aqui. - tocou seu ventre e ela a sorriu, agradecendo a Deus por estarem em segurança em seus braços.

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