Capítulo 34

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__ Nunca soube que Celeste tivesse uma irmã! - foi a única coisa que Vítor respondeu depois de ouvir o relato de Dany.
Ele sentou e tirando os calçados, ergueu os pés na mesa baixa que ficava em frente.
Estava boquiaberto com o fato de Celeste ser sócia de um puteiro de luxo em São Paulo.
__ Acha que o padrinho sabe disso, Vítor?- ela indagou parada ao lado da guarda do sofá.
__ Não sei. Celeste sempre me passou ser uma pessoa de classe. Inimaginável, que meu pai tenha casado com uma... - hesitou nas palavras.
Dany fincou seu olhar nele, suspirando. As palavras de minutos atrás, no terraço, se perdiam em meio ao machismo e ao preconceito. Mas Dany já não fazia questão de demonstrar que ligava para as atitudes de Vítor. Mantinha-se fria, apesar de sangrar por dentro, principalmente porque nunca tinha tido outro homem na vida a não ser ele, que jamais acreditou totalmente nisso. Também queria manter a paz para poder sair logo de Brasília. Vítor era, como ele mesmo disse em relação a ela, uma doença também, e jamais conseguiriam alívio se ficassem perto um do outro.
___ Pode acabar a frase sem receios, Vítor! Sei exatamente o que pensa a respeito de mulheres que assim como eu ganham a vida na noite. Espero que algum dia possa mudar esse juízo sobre mim, mas eu compreendo que essas ideias estão arraigadas na maioria dos homens e não poderia ser diferente com você, vindo de um lugar extremamente machista, onde mulheres, como eu, servem para diversão e as recatadas para formarem uma família. A maioria dos homens são hipócritas. Gostam de uma surra de sexo na cama, mas quando chegam em casa não admitem que a esposa se comporte com uma devassa. Isso acontece desde que o mundo é mundo.
Ele abriu a boca e fez menção de tentar remendar, contudo Dany ergueu a mão pedindo para parar. Sinceramente, não tinha mais a mínima disposição para uma luta fosse ela verbal ou física. Estava esgotada emocionalmente com toda aquela situação.
Continuou o assunto, como se as palavras que ficaram suspensas no ar, nunca tivessem a intenção de serem proferidas por ele.
___ Vítor, se o padrinho sabe, escondeu bem.Talvez, ele a ame tanto que não fez muita diferença ela ser ou não uma mulher da vida.- concluiu.
Ele para amenizar os ânimos a puxou pelo pulso, a desequilibrando fazendo com que caísse por cima de seu corpo no sofá.
Dany tentou se livrar do abraço másculo em vão, ele a segurava com possessividade e inclinando-se, fez com que seus lábios roçassem gentilmente os dela. O beijo era estranhamente diferente dos que costumavam trocar dias atrás e Dany sentiu-se estremecer ante aquele carinho. As lembranças de um Vítor num verão distante na fazenda vieram à tona.
Seus lábios passearam com delicadeza por cada canto de sua face, até que ele os afastou e num sussurro, as palavras sendo ditas de um modo calmo e sincero, a surpreenderam:
__ Desculpa! Obrigado por em vez de se zangar, estar procurando compreender. Mesmo tendo passado muito tempo longe do sul, o sangue gaúcho do machismo ainda corre nas veias. Quero mudar, Dany. Preciso mudar!
__ Vítor, por favor.- pediu quase num gemido, embora seu coração gritasse seu amor em todos os espaços de sua mente. Tentou sair para um lado, mas suas mãos a impediram com gentileza.
__ Espera! - fixou seus olhos nos dela. Eles tinham um brilho intenso e Danyelle podia sentir sua respiração muito próxima. ___ Não fuja!
A sensação da vibração de seu corpo junto ao dela, acendia a velha chama do desejo. O queria demais, mas não poderia fraquejar. Vítor jogava com suas emoções e sabia, se quisesse, como ganhar aquele jogo.
Observou que uma veia pulsava loucamente em seu pescoço demonstrando que estava tão mexido com a proximidade quanto ela. O desejo nunca poderia ser negado entre eles e ambos tinham consciência de que bastava um toque ousado ou um beijo mais ardente e sensual e tudo estaria perdido em relação as suas decisões. Fechou os olhos para fugir do magnetismo azul daquele olhar que examinava atentamente suas reações.
__ Se meu pai sabe, isso conta ponto. - sorriu de leve, como se estivesse aliviado, beijando a ponta de seu nariz. ___ Se descobrir sobre você, não poderá te julgar... - afrouxou o aperto, passando uma das mãos em seus cabelos enrolando uma mecha nos dedos.
Ela abriu devagar as pálpebras, emolduradas pelos grandes cílios, cobertos pela camada de rímel, que os deixavam ainda mais curvados, pedindo novamente com jeito. Tinha medo de seu corpo não racionalizar suas emoções.
__ Deixe-me sair. Não estrague o que acabamos de construir lá em cima. Precisamos nos curar, Vítor...
Ele suspirou e Dany aproveitou para se desvencilhar, rolando para o lado e sentando, tentou manter a calma. O olhou de canto, enquanto disfarçava a sua falta de ar. Vítor tinha crescido sob o calor de seu corpo e não fez questão de disfarçar o quanto seu pau clamava por ela.
Dany ajeitou os cabelos e continuou a conversa. A narrativa sobre Celeste e as suposições sobre ela retomaram o rumo do objetivo do encontro.
__ Na hora, em que ela me ameaçou, confesso que fiquei com medo. No entanto depois, me acalmei. Talvez isso, seja um trunfo para ela me deixar em paz.
__ Vou investigar direito esta história. Existe alguma coisa por trás de tudo. Que ela tenha sido alguma prostituta ou dona de um bordel, ok. Contudo o estranho é ter continuado, mesmo depois de ter casado com meu pai.
__ Laura irá pedir a Miguel para fazer isso, afinal a irmã de Celeste vendeu a boate a ele.
__ Perfeito. Acho que posso conversar com o namorado de sua amiga. Os contatos certos e dinheiro abrem todos os caminhos. Nada fica escondido.- virou a cabeça, que estava recostada nas costa do sofá, a olhando. __Se bem que você, que era o que mais queria achar, sumiu feito nuvem de vapor!
__ Você não me achou, mas Celeste sabia o tempo todo onde eu estava. Acho que ela, como você mesmo diz, fez uso da magia do dinheiro para me manter afastada de você.
__ Tão claro como água! - exclamou. __O detetive é nosso velho conhecido...ela pagou para que escondesse o seu paradeiro de mim. - sorriu amargo, concluindo.
Dany deu de ombros como se aquilo não importasse mais.
__ Dadas as circunstância parece bem óbvio. - proferiu o encarando, pensando por um instante, com a mão escorada no encosto do sofá, segurando a cabeça.
__ E por acaso você também não está fazendo o mesmo com meu advogado?
Vítor não se vez de desentendido, confessando.
__ Você, se estivesse no meu lugar faria o mesmo. - afirmou categórico.__Como manteria você junto a mim se não fosse jogando sujo? Pedi que adiasse para protocolar o seu pedido na justiça. Ele concordou mediante um agrado...me deu um tempo de um mês.
Danyelle balançou a cabeça em reprovação.
__ Poderia ter feito jogo sujo também....poderia, Vítor, mas não o fiz. Só queria te esquecer! Porque sempre doeu muito, entende? Eu te amei demais...mas nada justificaria, te obrigar a ficar comigo por estar grávida. Eis, a diferença!- falava tranquila, passando a impressão de que agora, estivesse aceitando as circunstâncias.
__ Tanto trabalho para nada. Se tivesse pensado em me conquistar...talvez, estivéssemos vivendo outra vida agora.- disse denotando tristeza na voz.__ Agiu por vingança. Acabamos assim, ambos machucados e pior, envolvendo duas crianças que não pediram para sofrer. Alice e Enzo são irmãos e o amor entre os dois iria brotar naturalmente, bastava que nós dois convivêssemos como pessoas civilizadas.
Ele se ajeitou, virando o corpo para ficar de frente para ela. Uma nuvem escura escondia o brilho de seu olhar.
Danyelle completou.
___ Agora, Vítor, a solução é que vivamos em paz. Nossos filhos merecem isso. Vamos deixar de lado nossas dores e aprender com nossos erros.
Ele se aproximou e Dany temeu pelo que passava em sua mente. O amava tanto, que chegava a sufocar e acreditar nas palavras dele ditas a pouco, no terraço, era uma tentação. Vítor esticou o braço e tocou sua barriga com a ponta dos dedos, numa leve carícia.
___ Vamos dar tempo ao tempo. Eu ficaria imensamente feliz se pudesse me dar uma outra criança. Eu perdi tanta coisa quando você se foi...
Danyelle pousou a mão sobre a sua, seu calor ultrapassando a barreira do tecido do vestido que usava.
___ Viveu a magia de uma gravidez com Priscila, não é nada muito diferente.
___ Eu amo meu filho. No entanto, ainda não vivi isso com a mulher que amo de verdade.
Dany trancou a respiração e levantou bruscamente, fugindo das palavras que por tanto tempo quis ouvir, mas que agora, soavam tão superficiais diante de tudo o que ele a tinha feito passar. Como acreditar num homem que não lutou e que não pretendia lutar para ficar ela? Não, com certeza, ele estava confundindo seus próprios sentimentos. Quem ama de verdade, move montanhas para estar junto.
O que Vítor sentia não poderia ser considerado amor. Ele precisaria fazer mais em relação a ela do que apenas dizer palavras.
Controlando o coração, disfarçou com um sorriso.
___ Se por ventura estiver grávida, você será a primeira pessoa a saber. Eu prometo.
Vítor assentiu.
"O fato de abrir o que sinto não surtiu efeito em suas atitudes. Ela não me ama, apenas está sendo diferente de mim em atitudes, as quais me fizeram perdê-la. Nada do que aconteça fará Dany mudar." - ele concluiu com tristeza, levantando.
___Quer ir embora?- indagou como se fosse um convite.
No bem da verdade, queria correr dali, chorar, beber, arrancá- la de sua mente e do seu coração, mesmo sabendo que depois de tudo isso ela ainda continuaria feito tatuagem sobre a pele, como nos três últimos anos, e sempre latejando dentro dele. Ela já não sentia o mesmo de antes. Confiou cegamente, que Dany se sujeitaria ao seu amor e que nunca deixaria de amá-lo, e agora, diante da circunstância, concluía que nada é para sempre. Nem mesmo o forte amor que nutriu por ele. Dany tinha deixado de lhe amar e precisava digerir isso.
Danyelle respondeu com um tom de sem importância na voz.
___ Se você quiser, não me oponho.
Ele balançou a cabeça concordando.
__ Parece que já resolvemos tudo. Você foi objetiva em tudo e acredito em suas narrativas. Só resolvermos a data de sua ida de volta e tudo voltará ao normal em nossas vidas.
Dany se virou, ficando de costas, não queria que ele visse o quanto suas palavras e a inevitável volta mexiam com seus sentimentos
___ Pretendo ir na sexta, junto com Laura, mas queria rever Enzo e temo que isso não seja possível...talvez, Priscila e Celeste não concordem.
__ Na verdade, isso quem decide sou eu. Podemos sim, passarmos uma tarde juntos, nós quatro. O que acha?
__ Se pudermos, gostaria. Sabe, por mais que Enzo tenha sido o motivo de nossa separação lá, no passado, gosto dele. Sei apartar os fatos. Enzo não tem culpa de nada, apenas mais um inocente nessa loucura toda. - ela virou, se deparando com um Vítor estranhamente diferente, que a encarou dizendo:
__Teríamos formado uma família linda se não fossem nossas desventuras.
Danyelle sorriu conciliatória.
___Teria sido o maior prazer ser madrasta daquele menininho adorável. No entanto, as coisas não são como sonhamos.
Você me culpou por ter ido embora e eu te culpei por ter me rejeitado. Enfim, nada poderá ser mudado em relação a nós. Não depois de tudo. Foram bons, os momentos que vivemos juntos, Vítor, mas acabaram. Tomamos a decisão certa e estou feliz que chegamos a um consenso.
Vítor baixou a cabeça, fixando o olhos no chão por um momento, e assim que a levantou, seu semblante trazia uma espécie de súplica subentendida na suas expressões. O olhar procurou o dela e ficaram por alguns segundos, cada um, procurando algo perdido dentro deles. Até que as palavras saíram, quase que sussurradas da boca sedutora dele.
___ Gostaria de ter uma última noite com você!
Danyelle arregalou os olhos em surpresa com aquelas palavras.
__ Como é que é?
__ Estou falando grego por acaso?- ele emitiu um meio sorriso.___ Disse que quero uma noite com você. A última e depois tudo será encerrado entre a gente.
__ Está louco! - negou com a cabeça.
__ Estou. - confirmou. ___ Você foi a melhor loucura que cometi na vida. Pense. Será uma despedida. Somos adultos, nós desejamos e vivemos um romance. Uma só noite para depois, tudo voltar a ser como era, antes daquele verão.
Danyelle mordeu a boca com força, queria pôr a razão ante a emoção, mas seu coração batia descompassadamente e seus neurônios não faziam as sinapses necessárias para se opor ao pedido.
Vítor se aproximou mais, segurando seu queixo entre os dedos, delicadamente. O olhar, de azul profundo, desmontando suas defesas mal construídas.
___ Uma noite com Alexandra. Nunca tive que suplicar por nada neste mundo e sei que estou indo longe demais, mas se quer que a deixe em paz como homem que sou, faça o que estou te pedindo. - deslizou, queimando sua pele, com a ponta dos dedos, até a tatuagem da borboleta, perto da nuca, acariciando o desenho.___ Uma noite com a mascarada e nada mais!
___ Vítor...- ela suspirou, sentindo-se tentada a dizer sim.
O modo como a olhava e de como fazia o pedido, fez com que seu corpo acendesse e suas pernas fraquejassem. Contudo, a razão ainda lutava com a emoção.
___ E o que eu ganho com isso?
___A certeza de que poderá tomar as rédeas de sua vida. Sei que não irá voltar a dançar nunca mais naquele palco. Então, dance para mim, como Alexandra; encarne seu personagem e realize minha fantasia. Realize o desejo daquela noite mal acabada, na Butterfly. Só assim terei a certeza, de que o que sinto por você não é um mero desejo de possuir algo que me foi negado. Posso estar confundindo meus sentimentos.Quem sabe o que sinto, não é apenas desejo pela mascarada, que me encantou naquele palco?
Dany procurou sinais de brincadeira naquelas palavras, porque sinceramente, era inacreditável o que ele lhe pedia! Era insanidade em último grau! Quando ele disse ser uma doença, achou que fosse uma metáfora.Contudo parecia muito assustador tudo aquilo.
___Presumo, então, que não sou a mulher que você ama realmente. - riu amarga. __ Será como um último teste. Quem concordaria com essa loucura? Não sou um brinquedo usado numa terapia infantil! - ela se indignou.__ Me leve embora! - pediu com autoridade.
Vítor segurou seu pescoço com delicadeza.
__ Pense. Preciso disso, entende? Irá fazer parte da minha cura!
Dany se desvencilhou dele e correu os olhos à procura de sua bolsa com desespero.
"Que ingênua! Nada do que sai da boca dele pode ser levado a sério quando fala de sentimentos! Ele tinha dito que ainda não havia vivido uma gravidez com a mulher que amava e esse" ainda" mudava todo o contexto da declaração e abria seu entendimento. Não era ela a mulher.
Se dirigiu à saída e apressada, entrou no elevador. Antes que pudesse pensar direito, um braço impediu que a porta se fechasse totalmente e Vítor pôs os dois pés para dentro.
__ Estou te dando a liberdade, a guarda de Alice e desta outra criança, que por ventura tenha no ventre para sempre. Não me negue a minha liberdade também!
Danyelle o encarou, parecia transtornado. Deus, o que poderia acontecer se juntasse forças com a louca da Celeste?!
__ O que acontecerá se não aceitar?Envolverá Alice de novo nessa loucura toda?
Ele riu calmo e se achegou, escorando a mão espalmada no inox frio, acima de sua cabeça, de modo que ela ficou encurralada entre seu corpo e a parede.
__ Provavelmente está pensando que irei me vingar...
__ Posso pensar de outra forma depois de tudo? - proferiu esforçando-se para manter a calma. __ Acabamos de entrar em um acordo e uma hora depois, você me faz essa proposta.Como posso confiar num homem como você, totalmente instável!!
__ Tem algo que gostaria de enfatizar: não irei me vingar! Dei minha palavra que está livre. Não ousarei usar de métodos não convencionais para tê-la novamente. Eu busco a cura, Dany, a cura pra essa loucura que sinto!Preciso dessa noite com a mascarada!!
A porta abriu, para alívio de Dany, que caminhou apressada por entre as pessoas no saguão do hotel, parando lá fora, respirando com dificuldade, até que ele acertasse as contas na recepção.
O pedido insano martelava em sua mente sem parar.
Durante todo o trajeto, o silêncio imperou. Danyelle não se atrevia dirigir-lhe a palavra e a mudez só foi quebrada quando estacionaram em frente ao outro hotel.
Danyelle pousou a mão na maçaneta para sair. Vítor a impediu, acionando a tranca elétrica.
__ O que foi agora, Vítor? - indagou exasperada.
__ Quero uma resposta!- seu tom de voz era de quem falava sério.
__ Não sei. Preciso pensar. Dormir com você novamente, não estava nos meus planos.
__ Um jantar e uma noite.- disse categórico.
__ Quando?- ela suspirou.
__ Aí, você decide. Antes de ir embora...ou depois que já estiver em São Paulo...Pode escolher o lugar, num hotel, numa praia...num dos quartos da Butterfly...qualquer lugar, desde que me dê o que peço. Lembre-se, não será você...foi o que me disse, que quando dança, Alexandra toma conta de seu corpo.
__ Não sei. É uma decisão difícil.- o encarou.__ Preciso me acostumar com a ideia.

Gente!!
Estou com problemas na minha internet. Escrevi e perdi duas vezes o capítulo.Não gravou. Este contém alguns erros de Português, não levem a mal. Quis publicar antes que aconteça alguma coisa.

Para Sempre No Meu Coração🔞‼️Onde histórias criam vida. Descubra agora