C A P Í T U L O 43

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Pov ★ Anna

É Halloween!

Essa era frase que mais ouvi durante o dia.

O dia que havia sido frustrante demais!

Minha cabeça girava enquanto terminava de fazer uma boa maquiagem na Moana Anny. Sua fantasia era pura delicadeza e eu tinha medo de não a deixar com um bom esfumado nos olhos.

Eu não pretendia a acompanhar para pedir doces, Ian levaria boa parte de seus amigos.

Finalizo sua maquiagem mostrando um joinha para indicar que já havia acabado.

— Por qual razão está tão calada?  — questiona meu silêncio.  Me sento no puf ao lado da penteadeira com o olhar triste.

Hoje tivemos uma reunião geral com a equipe de torcida, reuniões gerais me parecem notícias ruins em terra, quase nunca é coisa boa. Foi justamente o que aconteceu, não tínhamos uma treinadora, a equipe parecia exausta com os ensaios de Sarah e isso dificultaria nossa classificação para uma possível etapa estadual, além do grande jogo está mais próximo e com ele vinha o confronto das duas equipes de torcida para saber quem continuaria em frente.  Não tínhamos nada fácil pelo caminho.

— Alguns problemas na equipe. — resumo tentando sorrir.

— Vocês são uma ótima equipe,  vão consegui resolver. — disse se levantando com os olhos presos ao seu reflexo no espelho. Os olhos negros persistiam em avaliar se havia qualquer pequeno detalhe fora do lugar. — Agora, temos que ir. — concluiu andando em direção a minha cama para colocar as sandálias.

— Eu não vou com vocês. Sinto muito.

— Por quê? Até o Ian vai. — questiona ajustando a tira da sua rasteirinha.

— Justamente por isso, Ian e eu não estamos nos falando. 

Assumir a total infantilidade de Ian em voz alta parecia um absurdo, por isso prefiri não nomear culpados. Mas era ridícula a atitude dele. Eu menti, sim fiz isso, porém quem nunca fez? O pior de tudo é não saber se sua irritação é pela mentira ou pelo carro.

— Vai por mim, não por ele. É Halloween! Provavelmente seu último em Houston, sei que quer fazer faculdade em outro Estado e apoio isso,  mas não quero que se proíba de experiências legais por não estar falando com seu namorado. — ela sorriu, o sorriso genuíno da pequena Annyta Sanderson. — Te espero lá em baixo.

★ ★ ★

Anny tinha um bom poder de convencimento sob mim, era impossível a garota não me manipular para fazer algumas coisas.

Ian estava sorridente do outro lado da rua tentando arrumar o cabelo do irmão. Aquele sorriso leve e espontâneo que o deixava mais atraente que o normal.
Meu nervosismo surgia apenas com a sensação de o sentir perto. Perto o suficiente para avaliar suas bochechas avermelhadas pelo banho quente recente. Os cabelos desgrenhados permaneciam intactos e combinavam com seu ar despojado da noite. Mas era simplesmente perfeito,  sua naturalidade sempre foi perfeita, apesar das falhas.

— Hum... Então, cadê seu escudo capitão Steven?  — pergunto quando paramos na frente deles.

Steven sorriu e tirou as mãos de Ian do seu cabelo.

— Não achamos, mas mamãe disse que é uma demonstração de amor pela América. O ruim só é a máscara que parece bagunçar meu cabelo. — reclama encarando a máscara na mão do irmão mais velho.

Peço a máscara na tentativa de resolver o problema.

— Você é o capitão América mais bonito que já vi. — tento organizar seu cabelo de uma maneira delicada, era sedoso e o brilho me lembrava o do irmão.

— Prontinho. — digo finalmente finalizando a máscara em seu rosto, aperto suas bochechas debaixo daquela máscara e ele faz uma careta. Conseguindo se livrar do meu aperto Steven corre em direção a Anny para conversarem coisas de crianças e eu acabo ficando frente a frente de Ian.

E ele estava perdidamente lindo. Mas ainda me ignorando. Seus olhos encaravam qualquer coisa, exceto a mim.  O que era extremamente engraçado, porém infantil. Só que eu não iria o deixar agir como se eu fosse uma vilã. Ele pretendia sair de perto quando o impedir segurando seu braço.

— Algum problema? — foi a primeira vez que seus olhos estavam sob mim.

— Eu é quem pergunto. Algum problema?

— Comigo nenhum.  — se finge de sonso.

— É tudo pelo carro? — suspiro derrotada por está fazendo aquela pergunta.

O bendito carro!

—É claro que é pelo carro. — responde sarcástico.  — A merda da minha preocupação é pelo carro. Eu sabia que você estava mentindo, mas chegar uma mensagem para mim dizendo que o carro estava em área de risco, como se estivesse indo para um tsunami ou coisa do tipo, eu só pensei no que tinha na sua cabeça em ir com suas amigas para um lugar perigoso. — bufou irritado.

— O mundo é um lugar perigoso. — digo sorrateira o sentindo bufar novamente. — Eu já pedi desculpas pelo carr...

— Você não entende? Não é pela droga do carro! Minha preocupação era com você e suas ideias malucas. E se tivesse acontecido algo com vocês? Algo grave, Anna? — suas mãos tocam minhas bochechas com cuidado, como se temesse machucá-las. Ele sempre fazia isso e era caótico para mim, eu estava tentando me desapaixonar, só que a cada dia tudo fica mais intenso. Tudo dentro de mim parece ficar intenso.

—Minha preocupação era com você. — sussurra com seus lábios quase tocando os meus. Nossas respirações se uniram assim como nossos lábios, havia conexão ali, nada era recente, nossos corpos tinham harmonia e química, nossos lábios se encaixavam. Entrelaço meus braços em seu pescoço acariciando sua nuca. Seu gosto era de menta, como eu amo menta!

A noite escura de um 31 de outubro me parecia o pior cenário para uma "reconciliação". Era Halloween e as travessuras rolavam soltas por todo bairro, os enfeites não eram românticos, mas o oposto disso. Só que lá estavam Ian e eu de mãos dadas caminhando pela rua cheia de crianças gritando "doces ou travessuras" como se não houvesse amanhã. O amanhã que não gostava de pensar. O amanhã que era incerto. O amanhã que traria suas próprias dificuldades e de alguma forma me ajudaria a tomar decisões que precisavam ser tomadas, como a de ser sincera não só comigo mesma, mas com ele. As cartas precisavam ser expostas e eu não sabia no que isso seria bom ou ruim.

Anna - depois de você Onde histórias criam vida. Descubra agora