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Deidra só não caminhou de volta para o quarto na pontinha dos pés porque corria o risco de derrubar a bandeja com seu novo jantar, que esperava poder compartilhar com o príncipe, caso ele estivesse acordado.

Ela havia tratado dos ferimentos dele, curado seus cortes e enfaixado seu braço, que não estava quebrado, mas sim deslocado de uma forma tão dolorida quanto. Também tinha tirado as botas e a camisa dele, perdendo-se por um longo instante ao contemplar os músculos definidos do torso, embora não devesse ter feito aquilo.

O último dos problemas que ela podia ter naquele momento estava parado na porta do quarto: a ama. Deidra quase esbarrou nela, mas conseguiu retomar o controle a tempo.

— Que susto! — ela gritou, reequilibrando a bandeja. — O que você está fazendo aqui no escuro? Me emboscando?

A aia pôs a mão nos quadris, nada intimidada.

— Para quem é tanta comida? — ela indicou a bandeja com o queixo. — E por que esta porta está trancada?

Deidra sentiu o rosto queimar e em seguida gelar quando percebeu o quão precária era sua situação. Bastava alguém entrar em seu quarto, pegar o príncipe em sua cama e os reinos de Dalriada e de seu pai enfrentariam ou a guerra, ou um casamento às pressas. Ela sentiu o peso da chave do quarto em seu busto, já que a pendurara numa corrente e desde que descera para jantar, carregara-a consigo para todos os lugares.

A ama também percebeu o novo esconderijo da chave e estendeu a mão.

— Dê-me!

— Não! — Deidra se afastou, a bandeja oscilando com o movimento súbito. — É meu quarto, posso trancá-lo se eu quiser e quando quiser!

A ama a encarou sem se convencer.

— Você está escondendo alguma coisa — declarou.

— Ama! Como ousa?

— Dê-me a chave!

— Vou chamar meu pai... — Deidra ameaçou.

Mas a ama avançou, aproveitando-se que Deidra, com sua bandeja, não conseguiria se defender, puxou a corrente, erguendo triunfalmente a chave enquanto marchava uma vez mais para a porta.

— A culpa cairá toda sobre mim se você estiver aprontando alguma coisa ou escondendo alguém. — A mulher insinuou, arqueando as sobrancelhas ao olhar por sobre o ombro um instante antes de abrir a porta.

— Quem eu estaria escondendo? — Deidra gritou, avançando como se quisesse se colocar entre a mulher e a porta, mas estava ciente de que não importava o que fizesse, seria tarde demais.

A primeira coisa que a mulher veria ao abrir a porta completamente, era o corpo do jovem e belo príncipe Sem Coração em sua cama, aparentemente adormecido por conta da penumbra.


Sem CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora