— Você está se sentindo bem, querida? — A mãe a tocou, pousando a mão sobre a sua, sobressaltando-a.
Deidra largou a colher com que vinha remexendo o ensopado do jantar pela última hora e sorriu fracamente.
— Desculpe — ela murmurou, engolindo uma colherada, evitando fazer uma careta ao notar que esfriara. — Eu estava um pouco pensativa.
"Sim, pensando no homem que está na minha cama..."
— Algo a preocupa?
— Nada demais, minha mãe. Será que eu poderia jantar em meu quarto? Assim não atrapalho a reunião de meu pai.
A mãe assentiu. Ao redor delas, na mesa, os homens convidados para o torneio dividiam o banquete entre risadas e certa algazarra, contando os feitos do dia. O Sem Coração não estava entre eles. Deidra ficava alarmada se perguntando em que momento começariam a conjecturar o motivo pelo qual ele estava ausente e quando decidiriam procurá-lo, mas ninguém parecia estar incomodado com a falta dele.
— O que aconteceu com o príncipe de Dalriada? — ela sussurrou antes de se retirar, afinal precisava saber a resposta. A mãe arqueou as sobrancelhas.
— Está preocupada com ele?
— Apenas curiosa.
O sorrisinho no rosto da rainha não a agradou.
— Um garoto que serve ao príncipe nos informou que ele estava indisposto depois da caçada e foi se deitar mais cedo.
Foi como se o peso do mundo tivesse saído dos ombros dela, Deidra sentiu que podia até mesmo respirar melhor. O garoto... ele a tinha ajudado, mesmo sem ganhar nada com isso. Lágrimas de gratidão vieram aos seus olhos. Ela fora tão ríspida com ele!
Ao seu retirar, Deidra não foi imediatamente para o quarto, mas sim para a cozinha.
— Loti? — ela chamou, parando perto de uma das mulheres que trabalhava por lá.
— Princesa? — A mulher pareceu surpresa em vê-la e rapidamente limpou as mãos em um pano antes de se aproximar. Algo no tom da princesa já alertava que pediria algo fora do comum. — Precisa de alguma coisa, minha senhora?
— Você conhece o garoto dos estábulos de Dalriada? O que trabalha para o Sem Coração?
— Eu já o vi uma ou duas vezes perambulando pelo pátio, senhora, cuidando daquele cavalo do príncipe que está mancando... mas por quê?
— Gostaria que você lhe entregasse isto — ela passou para Loti uma pequena bolsa de veludo com algumas moedas. Sentia que era pouco, mas não podia dar nada mais ao garoto se não quisesse chamar atenção. — Diga que quem mandou foi o príncipe... não, não diga nada, ele jamais faria isso. Diga apenas que alguém mandou entregar. É, isso! E, Loti, se possível, leve um jantar decente para ele, pode ser?
A mulher parecia desconfiada, mas não questionou e Deidra sabia que ela era de confiança. Loti pegou o saquinho de veludo como se pudesse se queimar com ele.
— Algo mais, minha senhora?
Deidra mordeu o lábio inferior.
— Na verdade gostaria de levar uma bandeja para jantar no meu quarto.
— Eu preparo e levo para a senhora num instante...
— Não! — Deidra se apressou a falar, talvez alto demais. — Eu mesma levo. Vou esperar aqui enquanto você a apronta.
A mulher pensou em questionar, mas Deidra era a princesa, então se calou e correu para fazer o que a soberana queria.
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Sem Coração
RomantizmA jovem princesa Deidra precisa se casar, mas seu caminho vai se cruzar com o impiedoso e cruel príncipe Daren, que todos chamam de Sem Coração. Enquanto Deidra tentar esconder dele os segredos que guarda no interior da floresta, o príncipe estará d...