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Quando adentraram os limites das florestas de Dalriada, Deidra sentiu a diferença do ambiente. Havia animais entre as árvores, sabia que eles estavam ali, mas eram exatamente como o príncipe descrevera; espertos demais para ficar à vista. Se ela quisesse conquistar alguns como fazia em casa, teria de ter muita paciência, demoraria a ganhar a confiança deles.

— O que é que estou pensando? — ela resmungou consigo mesma. Desde o dia anterior vinha cogitando voltar para casa e abandonar Daren, e se não o tinha feito era porque a ideia de conseguir vencê-lo, mudá-lo, era tentadora demais para desistir na metade do caminho.

Ele seria perfeito se fosse gentil e bondoso na mesma medida em que era bonito. Deidra seria a mulher mais feliz do mundo se conseguisse domá-lo.

Dalriada era maravilhosa, sua floresta era mais densa, mais verde, viva, com uma magia diferente daquela que percorria os vales antigos de sua casa. O castelo de Daren erguia-se imponente e antigo na paisagem, pedra sobre pedra, mais rústico do que o castelo de Deidra.

Os caçadores do Sem Coração com certeza não tinham ficado parados em sua ausência. Havia peles dependuradas em cercas a cada metro, ao Sol, e havia cães. Muitos cães, que imediatamente começaram a brigar com os outros que chegavam junto aos cavaleiros.

De um lado beleza, do outro destruição pura. Deidra se encolheu. Jamais tinha pensado que tamanha beleza podia coexistir com tamanha hostilidade.

— Homens! — Daren chamou, virando Meia Noite no pátio. Os caçadores que ficaram na fortaleza se reuniram. — Trago-lhes a princesa Deidra, talvez a futura rainha de Dalriada!

Um coro de gritos a saudou. Um coro de gritos de guerra, é claro, o que a fez sentir-se mais ou menos como a corsa prestes a ser caçada.

Havia poucas mulheres na fortaleza, porém, passado o susto inicial, aos poucos as coisas foram se acalmando e a impressão hostil que Deidra teve amainou. Alguns homens vieram ajudá-la a apear, outros levaram suas bagagens e teve ainda os que acomodaram Padrick em um chalé próximo a floresta, por escolha dele mesmo. As mulheres imediatamente cercaram Deidra.

A cozinheira do castelo, Trudy, tinha bolinhos esperando e histórias engraçadas para contar para a princesa, e foi essa mulher, rústica, mas cheia de boas intenções, quem fez Deidra se sentir em casa.

— A senhora não devia ficar na cozinha! — disse a mulher pela milésima vez, mas parecendo feliz pelo príncipe ter trazido uma futura rainha. Talvez.

Fazia algumas horas que a cavalaria chegara, de modo que todos estavam acomodados e o furor passara. Deidra puxara uma cadeira na cozinha para assistir a mulher cozinhar e ouvir suas histórias, e não tinha intenção alguma de sair tão cedo.

— Daren disse que devo ficar à vontade — ela deu de ombros, sentindo-se realmente à vontade.

— Ah, ele é Daren para você então — piscou maliciosamente a cozinheira, imediatamente mudando o tom. Deidra mirou os pés, corando. — Ora, tudo bem, eu a entendo! — a mulher gargalhou. — Ele é um pedaço de mau caminho mesmo!

— Qual a história dele? — Deidra se atreveu a perguntar. — Quero dizer, ele vive aqui sozinho... só com os caçadores?

— Ah... não — a mulher ficou séria de repente. — Há toda uma história aí. Bem, eu suponho que sempre tenha uma história... Esta era a fortaleza de veraneio do rei, pai de Daren, eles costumavam usá-la apenas quando vinham caçar ou dar festas. A floresta aqui sempre teve muitos animais.

— Então por que Daren vive aqui agora?

— Ele escolheu quando foi coroado príncipe herdeiro — Trudy deu de ombros. — Você sabe que ele não era o herdeiro de Dalriada, certo?

Sem CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora