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Era uma manhã fria e nublada, não o tipo de tempo convidativo para passeios à beira de lagos, mas ainda assim, lá estava ela de braços dados com o Sem Coração, caminhando tranquilamente, fingindo que o vento gelado não açoitava seu rosto e revolvia seus cabelos.

Deidra apertou o xale ao redor dos ombros.

— Irá manter sua palavra da noite anterior? — sussurrou, plenamente consciente do calor que o braço dele lhe proporcionava, da força dos músculos sob seu gentil toque.

— É claro que vou — ele respondeu solenemente. — Ficarei longe de sua floresta e todos os seus segredos estarão em segurança comigo.

Os olhos cinzentos dela voltaram-se para ele, tão lindos, porém tão desamparados...

— Prometo — Daren sussurrou, sentindo que se passasse muito tempo na companhia dela, acabaria domado e manso tal qual um cavalo castrado. Ficaria gentil.

O mero pensamento o entediava, mas olhá-la acendia outros tipos de sentimentos e reações. Daren parou de andar e se virou de frente para ela, as mãos firmes em seus braços para que a jovem não se afastasse de seu olhar intenso, pois sentia que era o que ela desejava fazer.

— Majestade? — ela sussurrou com a boca seca, arrepiada pela proximidade dele. — Algum problema?

— Sim — a resposta fora menos que um sussurro, os quadris dele colaram-se aos dela e Daren abaixou a cabeça até que sua boca estivesse a menos de um fio de cabelo de distância da dela. — Você está longe demais — disse, antes de enfim beijá-la.

Deidra não queria nem pensar na quantidade de súditos de seu pai que tinham visto a cena e não queria raciocinar as implicâncias de se deixar levar — de novo — por um beijo do Sem Coração, mas ele era tão... bom!

E tão mau!

Era quente e forte e passava segurança de um jeito muito, muito errado. Ela sentiu a mão dele apertar seu quadril e subir em um carinho grosseiro por suas costelas até a lateral dos seios sobre o tecido grosso do vestido.

— Por que não se casa comigo? — ele perguntou com a voz rouca e descompassada entre um beijo e outro. Quando a resposta demorou para vir, afastou-a um pouco para olhá-la nos olhos.

Deidra estava sem fôlego, tanto pelo beijo quanto pela pergunta. A possibilidade sempre existiu, mas seus temores de se tornar a noiva do príncipe Sem Coração nunca tinham sido expressas de forma tão direta.

Afinal, por que não se casar com ele?

Tirando o fato de serem pessoas completamente opostas, tão diferentes, as vantagens inegavelmente existiam mesmo que Deidra não quisesse admitir. É claro, ele matava criaturas e ela gostava de criá-las, mas ainda assim ela precisaria se casar mais cedo ou mais tarde e ele precisava de uma futura rainha para seu reino. Dalriada não ficava tão longe e existiam poucos homens que teriam, de fato, coragem para atacar o Sem Coração.

Ela provavelmente jamais teria que se preocupar sobre ser sequestrada durante a guerra ou ter seu castelo saqueado, não enquanto o príncipe estivesse ao seu lado.

E ele era bonito.

Uma alma perdida, é verdade, porém, se conseguisse transformá-lo... Sim, ela conseguia ter um vislumbre do homem incrível que o príncipe seria se alguém se importasse em "colocar um coração nele". Ela podia ser essa pessoa. Já tinha conseguido que ele deixasse os unicórnios e o cavalo branco em paz... Talvez esse fosse seu grande destino, a grande missão.

— Preciso pensar — Deidra balbuciou e os lábios de Daren roçaram os dela uma vez mais.

Os movimentos dele eram despreocupados, como se apreciasse o momento. Não podia negar que tinha se deleitado nos lábios macios da princesa, mas precisava se lembrar de quem estava no controle, por isso deu um sorriso ainda próximo à boca dela e levantou a cabeça, dizendo:

— Tome o tempo que precisar.

Daren a deixou ir, com a mesma facilidade com que a puxara para si.


Sem CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora