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Daren a esperara como prometido e quando ela anunciou sua decisão, ele a rodou no ar com um belo sorriso no rosto, que afastou seus temores e lhe deu certeza de estar fazendo a escolha certa. Talvez o Sem Coração realmente nutrisse estima por ela, talvez ele realmente estivesse se... apaixonando.

Deidra despediu-se da mãe, dos criados e ficou em paz por saber que tinha feito a escolha certa, ainda mais quando viu a satisfação cintilando nos olhos do pai. Ela beijou-lhe as mãos antes que partisse junto de Daren, com a sensação de que não voltaria.

A única coisa ligeiramente incomum fora a escolha de seu acompanhante: Padrick. Deidra esperava que a ama a acompanhasse ou uma das outras damas do castelo, mas quando questionara o pai, ele a puxou de lado e sussurrou:

— Não posso mandar duas mulheres indefesas para a fortaleza do Sem Coração! Caso você não goste das coisas por lá e queira voltar, preciso de um homem para dizer a todos que você manteve-se tão pura quanto no dia em que saiu daqui.

Deidra franziu a testa, olhando enviesado para Padrick arreando seu cavalo. Ele parecia franzino demais para fazer qualquer coisa em relação a Daren, que o esmagaria se quisesse.

Deidra abaixou a cabeça, o destino não estava mais em suas mãos.

— Eu entendo, meu pai.

Então ela partiu com a comitiva de Daren, montada em uma égua de andar ligeiro, maior do que qualquer cavalo que já houvesse montado, mas preparada para acompanhar os demais.

Deidra olhou por sobre os ombros o tempo todo, até não mais conseguir ver o castelo, então passou a encarar a silhueta de Daren um pouco à frente. Descobriu-se nervosa, querendo alguém para conversar em busca de amparo, mas quando olhou ao redor, sentiu-se solitária. Não havia um único rosto conhecido, exceto Padrick e Daren. Como o primeiro mantinha os olhos fechados, mergulhado em profunda oração — em busca de proteção, ela supunha, afinal estavam rumando para o "covil" do Sem Coração —, Deidra incitou a égua a acelerar até emparelhar com o príncipe.

Ele ficou genuinamente surpreso e grato pela companhia inesperada.

— Como se sente, princesa?

— Nervosa — ela respondeu depois de inspirar profundamente.

Daren pareceu manso e apaziguador demais para o gosto dela, mas Deidra se forçou a pensar que isso era resultado de seu nervosismo que a fazia ver coisas.

— Eu garanto que irá gostar de Dalriada, mas é livre para partir quando quiser. — Tinha sido impressão dela ou ele acrescentara essa segunda parte de última hora? Como se não pretendesse dizê-la, exatamente? — Sei que você gosta da floresta — ele continuou depois de uma pausa. — Vai gostar das florestas de Dalriada. São um pouco mais selvagens, mas vão te ensinar muita coisa.

Deidra encarou as próprias mãos nas rédeas.

— Dizem que você matou todos os animais de suas florestas, então agora tem que caçar fora — sussurrou bem baixinho, envergonhada. A ama havia lhe dado aquela terrível informação enquanto terminava de arrumar suas coisas, agora, Deidra sentia que precisava tirar aquela história a limpo.

Daren riu e outros homens próximos dele também, ainda que mais contidos.

— Quem disse uma besteira dessas? — ele bufou. — Sim, tenho animais em minhas florestas, mas eles são mais ariscos, mais espertos do que os dos outros lugares, o que torna a caçada ainda mais interessante — ele acrescentou sombriamente.

Deidra ficou em silêncio por um momento, contemplando a estrada, depois se aproximou de Meia Noite até poder esticar o braço e tocar Daren, que a encarou com uma expressão indecifrável.

— Se eu me casar com você... — ela começou, insegura. — Poderei criar uma... uma espécie de santuário? Um lugar na floresta em que você e seus homens não caçarão? Um lugar só meu, assim... — ela queria falar do poço, mas se o fizesse, forçosamente lembraria Daren sobre o unicórnio e o cavalo branco, e ela queria que ele os esquecesse. Aliás, ele já parecia ter esquecido.

— Um santuário? — Daren ficou pensativo. — Como você o demarcaria? Colocaria uma estátua no meio dele? Uma estátua no meio da floresta e tudo o que estivesse ao redor dela seria intocável, é algo assim que tem em mente?

Os olhos dela reluziram, não tinha pensado em como seria esse santuário, mas a ideia da estátua a agradara. Poderia mandar construir uma em forma de unicórnio, se não fosse abusar demais da sorte e atiçar a cobiça de Daren.

— Sim, algo assim — ela o presenteou com um sorriso, que Daren retribuiu.

— Considere seu.

Isso amainava um pouco os outros medos. O coração de Deidra se acalmou.

Ao seu lado, o Sem Coração cavalgava belo e absolutamente satisfeito.


Sem CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora