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— Pensava em ir a algum lugar? — Daren perguntou, sentindo a reconfortante tensão da corda em sua mão, indicando que no outro extremo dela estava sua presa, sem ter como escapar. O cavalo branco murchou as orelhas como resposta, nem um dos dois desviando o olhar.

— Por que fazer isso? — Deidra bateu o pé no chão, ficando sem opções de como intervir, e se arrependendo no instante em que a dor se alastrou por sua perna.

— Por que não fazer? — Daren rebateu, dando de ombros sem olhá-la. — Vai ser uma bela montaria.

Como o cavalo não fez nenhum outro movimento, Daren relaxou, endireitando a postura e perdendo o ar combativo. Ele se aproximou, mexendo na corda, uma mão grande pousando no pescoço do cavalo que continuou impassível, embora com uma expressão arredia. Seu olhar percorreu rapidamente o local onde o unicórnio se afastara, certamente pensando em segui-lo.

— Tudo acaba depois que se mostra quem está no controle, é uma questão de poder e de ter uma corda resistente — Daren professorou para a princesa, correndo a mão pela coluna do cavalo branco que se arrepiou, mas resistiu a se afastar. — No final das contas, ele sequer é selvagem. Vê? Deve ter fugido de alguma fazenda.

— Ele não é deste mundo.

— Ah não, de novo essa história? — Daren rolou os olhos e usando o que restara da corda do laço, passou-a pelo focinho de Embarr em um cabresto improvisado.

Com sorte, poderia amarrá-lo junto do carvalho e perseguir o unicórnio.

Embarr observou o príncipe enrolar a corda no próprio braço como se pensasse: "Ele é bastante autoconfiante, não? Bem, veremos".

Embarr ergueu a cabeça, rápido demais para o príncipe ter qualquer reação, e o arrastou consigo floresta a dentro sem olhar para trás. Ele iria aprender o que era ser laçado e não ia gostar da lição.

A corda ao redor do focinho de Embarr escorregou livremente, mas o nó em seu pescoço permanecia e na ponta da corda ele sentia o peso do príncipe sendo arrastado por todo o chão da floresta. O vento levava para longe seus gritos de maldição até silenciar-se e foi quando Embarr finalmente parou de correr, não porque quis parar, mas porque a corda se enroscara em algo e impedira sue galope.

Embarr bufou, ofegante, olhando para o trás. O príncipe estava imóvel, enroscado em um tronco caído, seu braço jazendo em uma posição não muito natural acima da cabeça. Maravilha, ele tinha matado um humano. Não ia ser recebido com glórias em casa.

Poucos metros a sua frente, o lago brilhava. Uma libélula fazia ondular a água, beijando-a gentilmente, e ele sem poder mergulhar ali e voltar ao Outro Mundo, preso ao maldito humano!

Seu instinto lhe dizia para sair dali e voltar para casa, seu coração imortal temia a ameaça do deus da floresta, que com certeza não estaria feliz com ele por ter ferido o humano, mesmo que fosse em sua defesa. Embarr deveria ser sempre, em essência, uma criatura pura. Ele sabia que havia consequência para cada mínimo ato.

Embarr olhou rancoroso para o humano preso a ele, ciente de que dali em diante Cernunnus manteria um olhar atento a ambos, tudo se transformava em dívida. Quando a voz de Deidra surgiu, melodiosa e viva como o canto dos pássaros, ele suspirou.

— Embarr? — ela não parecia estar muito longe, Cernunnus deveria tê-la guiado de alguma forma. — Daren?

No matagal fechado do outro lado do lago, uma criatura se moveu. O instinto de Embarr comandou que corresse, mas a corda não permitiu. Cernunnus surgiu das sombras, folhas se prendendo em seus chifres, atravessou a água e com um toque das mãos, fez a corda se desprender do pescoço do cavalo.

Embarr não olhou para trás, a água o chamava. Ainda teve um vislumbre de cabelos rubros aparecendo por detrás das árvores, mas no instante seguinte ele já tinha mergulhado no lago, onde o Outro Mundo o esperava.

Sem CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora