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Embarr o encarava como se fossem irmãos, criaturas sagradas da floresta, raras de se ver. Era delicado como um cervo, com os olhos grandes e uma curiosidade quase infantil. O filho sagrado de Cernunnus. Atraído pela donzela e pela presença do cavalo encantado em seu território, o unicórnio não tinha resistido e veio investigar, mas era jovem e tímido demais para se aproximar. Não deixara mais que meio corpo exposto para além das árvores e esticara o pescoço até quase conseguir mordiscar os cabelos cor de fogo da princesa sem que ela notasse sua presença, absorta como estava.

Sua presença permaneceria desapercebida se não houvesse mais alguém para entregá-lo. Na clareira até então em paz, o cavalo negro com seu cavaleiro furioso chegou em disparada, assustando todas as aves e pequenos animais. Embarr ergueu a cabeça, Deidra afastou-se e o unicórnio, na pressa de sumir de vista, mas com a falta de agilidade que as longas pernas de potro lhe conferiam, enrolou-se no arbusto até cair, demorando-se mais do que devia, dando tempo suficiente para o príncipe avistá-lo.

Seus olhos azuis reluziram com cobiça, as mãos voaram para as flechas na aljava enquanto o jovem unicórnio levantava-se.

Embarr parara de sangrar, a água encantada do poço finalmente estava o curando, então forçou-se a ficar em pé, mais veloz que o jovem unicórnio, colocando-se no caminho do príncipe.

— Daren, pare! — a princesa gritou inutilmente.

O príncipe soltou a flecha. Cavalo branco e unicórnio, com um pouco de sorte caçaria os dois.

Embarr virou-se pronto para fugir, mas parou antes de dar sequer um passo. O unicórnio não desaparecera ainda no manto protetor das sombras da floresta! Lá estava ele com seu chifre brilhante, chacoalhando a cabeça para livrar-se do arbusto em que se enroscara. Como era ingênua a criatura.

— Não faça isso! — a princesa tentou gritar uma ordem, mas o som saiu fraco e indefeso.

O cavalo branco relinchou, tentando acelerar o unicórnio, mas no instante seguinte um puxão firme em seu pescoço forçou-o a esquecer completamente a criatura sagrada.

O humano ousara laçá-lo. Ele olhou incrédulo para a corda e a expressão de triunfo no rosto do príncipe. Embarr fungou, era bom que o humano estivesse preparado para um bom galope.

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