Respirei fundo, segurando firme minha mochila. Aquele era o mesmo hospital que o pai de Bailey havia morrido. O mesmo para o qual minha mãe, também, havia sido socorrida.
Segui pela entrada até a recepção.
- Gostaria de ver Bailey May.- A mulher morena assentiu, analisando algo no computador.
- Shivani?- Me virei observando o pai de Noah se aproximar.- tudo bem, ela está comigo.- A mulher sorriu gentilmente pra mim.
- Como o senhor está?- Perguntei.
- Exausto eu diria. Venho ver o Bailey certo?- meio a contragosto assenti.- Quarto 104, converse com ele, por favor.
- Claro.- Tentei lhe passar confiança.
Suspirei, observando as pessoas espalhadas, cheguei no corredor onde ficava o quarto indicado, haviam crianças em cadeiras de roda, e alguns adultos mais velhos.
Me dirigi ao quarto, entrando com duas batidas na porta.
Bailey parecia concentrado em seus próprios pensamentos.
- Hey.- Ele parecia levemente abatido, descabelado e com olheiras visíveis, muito parecida comigo nos últimos dias.
- Hey.- respondi, me aproximei da cama.- Posso sentar?- indiquei a cadeira em frente a cama, ele assentiu.- Como você está?
- Com medo eu acho.- Encarei minhas próprias mãos.
- O Noah me disse que você machucou o joelho outra vez, mas não veio ao médico, estava com dor desde aquele dia da confusão, não é?- Ele evitou me olhar.- Deveria ter vindo, teria tratado isso logo. Você realmente sabe como fazer alguém se sentir culpada.
- Não tem motivo para se culpar, é passado.- Ele deu de ombros.
- Não estou me referindo a primeira vez que se machucou e sim na segunda vez, foi no dia da peça, não foi?- Vi seus olhos levemente puxados me encararem.- Se machucou para conseguir a chegar a tempo pra me assistir.
- Talvez.- Mordi minhas bochechas internamente.
Me vi sem fala.
Eu não costumava alimentar a culpa, mas nesse caso era complicado.
- Fiquei feliz em ver você.
- Não deveria.
- Mas eu estou. Voltou para a escola?
- Mais ou menos. É meu retorno e último dia.- Bailey se sentou com dificuldade, e fez careta de dor.
- Último dia?
- Eu vou pra Índia em alguns dias.- Vi algo parecido com desespero tomar seu rosto.
- Não brinca com isso.
- Não estou.
- Por favor, não vai.- Engoli a seco, e apertei minhas mãos.
- Acabou, Bailey. Eu só vim para me certificar que ficaria bem.
Ele negou, seu rosto entregava a bagunça que ele havia ficado após minha revelação.
Senti um aperto no peito, e uma vontade de chorar.
- Não pode ir!
-Bailey, eu não tenho mais nada que me prenda aqui, nem ninguém. Eu não quero continuar fugindo, sabe o quanto dói?
- Eu não consigo sem você, depois que isso acabar, como eu vou sair daqui sabendo que você não vai mais estar aqui?
- Acabou.
- Não precisa ter acabado. Eu não durmo a dias, e não é pela dor infernal na minha perna, é porque a possibilidade de não continuar te vendo está me matando aos poucos, se você for embora vai ser o fim. Não, vai!
- Quer saber quando me apaixonei por você?- caminhei até a janela.- No dia em que nos beijamos no estacionamento. Não foi no aniversário da Sabina, ou quando cantou naquela noite no karaokê. Foi bem alí.- Indiquei com o dedo.- Você estava tão vulnerável, e eu me sentia presa naquela versão sua, foi quando vi você totalmente pela primeira vez, quando enxerguei uma parte sua que eu ainda não conhecia.
- O que mudou?- a voz de Bailey era trêmula.
Abracei meu corpo.
- Em você? nada, mas mudou em mim. Eu não consigo mais respirar nessa cidade, todos me julgam, meu pai não me suporta, e a única coisa boa era você. Como me fazia sorrir, ou me sentir no topo do mundo com tudo sobre controle.
- Um erro foi capaz de mudar tudo isso?
Pensei um pouco, e neguei.
- Mas foi os suficiente para ver que nós dois não podemos alimentar isso. Você e eu somos opostos, os opostos se atraem mas nunca se dão bem em conjunto. Está tudo dizendo que não.
- Não precisa ser assim.- Suspirei negando.
- Mas é.- Me dirigi a saída.
- Eu sou apaixonado por você desde a festa da Sabina, até antes, eu não lembro de um dia da minha vida desde que te vi pela primeira vez em que não penso em você.
- Isso machuca Bailey, para.
- Quando meu pai morreu fiquei feliz de saber que era você que estava comigo pra me apoiar.
Senti minhas mãos trêmulas, e meu olhar fixo sobre o mesmo que talvez naquele momento daria tudo para conseguir andar e falar comigo de perto.
- Não posso ter pedido tudo por uma insegurança boba.
- Não perdeu tudo por uma insegurança boba, as coisas mudaram, nós nunca dariamos certo, nossas famílias, minha vida e a sua. Eu tentei te odiar nos últimos dias mas não consegui, mas também não consegui lidar com tudo. Eu estou uma bagunça!
E nesse momento ele se calou, e eu me calei.
Eu sentia todas as emoções naquele quarto de hospital.
Encarei meus próprios pés.
- Se for embora, eu vou ter te perdido pra sempre.
- Quem garante que já não me perdeu?
- Por que você não me engana, não consegue me encarar. Se me encarar e disser que quer mesmo me esquecer então eu vou aceitar, mas se apenas sair por essa porta agora, eu vou saber que tenho esperanças, se ainda conseguir me recuperar a ponto de ir atrás de você.
Quando criança eu era muito boa em comparar coisas, cresci assim, comparando tudo.
Eu adorava comparar a vida com o mar, as vezes calmas, as vezes tempestuosas.
Eu sabia que estava navegando em um mar agitado, mas continuei ainda assim.
Eu não tinha o controle de tudo como achei que tinha.
As ondas foram fortes de mais para me derrubar, nesse momento eu podia escolher voltar para o barco e me aforgar.
Engoli a seco, e sem conseguir encara-lo eu saí do quarto.
Resolvi me afogar.
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24/7 -Shivley Maliwal
FanfictionShivani tem tudo nas mãos. Sempre com tudo sobre controle, desde de sua grande popularidade, aos seus sentimentos confusos. Porém, tudo vai por água abaixo quando uma noite turbulenta, a leva de encontro á Bailey May, com quem vive em conflito na m...