24 (parte 2)

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Respirei fundo, segurando firme minha mochila. Aquele era o mesmo hospital que o pai de Bailey havia morrido. O mesmo para o qual minha mãe, também, havia sido socorrida.

Segui pela entrada até a recepção.

- Gostaria de ver Bailey May.- A mulher morena assentiu, analisando algo no computador.

- Shivani?- Me virei observando o pai de Noah se aproximar.- tudo bem, ela está comigo.- A mulher sorriu gentilmente pra mim.

- Como o senhor está?- Perguntei.

- Exausto eu diria. Venho ver o Bailey certo?- meio a contragosto assenti.- Quarto 104, converse com ele, por favor.

- Claro.- Tentei lhe passar confiança.

Suspirei, observando as pessoas espalhadas, cheguei no corredor onde ficava o quarto indicado, haviam crianças em cadeiras de roda, e alguns adultos mais velhos.

Me dirigi ao quarto, entrando com duas batidas na porta.

Bailey parecia concentrado em seus próprios pensamentos.

- Hey.- Ele parecia levemente abatido, descabelado e com olheiras visíveis, muito parecida comigo nos últimos dias.

- Hey.- respondi, me aproximei da cama.- Posso sentar?- indiquei a cadeira em frente a cama, ele assentiu.- Como você está?

- Com medo eu acho.- Encarei minhas próprias mãos.

- O Noah me disse que você machucou o joelho outra vez, mas não veio ao médico, estava com dor desde aquele dia da confusão, não é?- Ele evitou me olhar.- Deveria ter vindo, teria tratado isso logo. Você realmente sabe como fazer alguém se sentir culpada.

- Não tem motivo para se culpar, é passado.- Ele deu de ombros.

- Não estou me referindo a primeira vez que se machucou e sim na segunda vez, foi no dia da peça, não foi?- Vi seus olhos levemente puxados me encararem.- Se machucou para conseguir a chegar a tempo pra me assistir.

- Talvez.- Mordi minhas bochechas internamente.

Me vi sem fala.

Eu não costumava alimentar a culpa, mas nesse caso era complicado.

- Fiquei feliz em ver você.

- Não deveria.

- Mas eu estou. Voltou para a escola?

- Mais ou menos. É meu retorno e último dia.- Bailey se sentou com dificuldade, e fez careta de dor.

- Último dia?

- Eu vou pra Índia em alguns dias.- Vi algo parecido com desespero tomar seu rosto.

- Não brinca com isso.

- Não estou.

- Por favor, não vai.- Engoli a seco, e apertei minhas mãos.

- Acabou, Bailey. Eu só vim para me certificar que ficaria bem.

Ele negou, seu rosto entregava a bagunça que ele havia ficado após minha revelação.

Senti um aperto no peito, e uma vontade de chorar.

- Não pode ir!

-Bailey, eu não tenho mais nada que me prenda aqui, nem ninguém. Eu não quero continuar fugindo, sabe o quanto dói?

- Eu não consigo sem você, depois que isso acabar, como eu vou sair daqui sabendo que você não vai mais estar aqui?

- Acabou.

- Não precisa ter acabado. Eu não durmo a dias, e não é pela dor infernal na minha perna, é porque a possibilidade de não continuar te vendo está me matando aos poucos, se você for embora vai ser o fim. Não, vai!

- Quer saber quando me apaixonei por você?- caminhei até a janela.- No dia em que nos beijamos no estacionamento. Não foi no aniversário da Sabina, ou quando cantou naquela noite no karaokê. Foi bem alí.- Indiquei com o dedo.- Você estava tão vulnerável, e eu me sentia presa naquela versão sua, foi quando vi você totalmente pela primeira vez, quando enxerguei uma parte sua que eu ainda não conhecia.

- O que mudou?- a voz de Bailey era trêmula.

Abracei meu corpo.

- Em você? nada, mas mudou em mim. Eu não consigo mais respirar nessa cidade, todos me julgam, meu pai não me suporta, e a única coisa boa era você. Como me fazia sorrir, ou me sentir no topo do mundo com tudo sobre controle.

- Um erro foi capaz de mudar tudo isso?

Pensei um pouco, e neguei.

- Mas foi os suficiente para ver que nós dois não podemos alimentar isso. Você e eu somos opostos, os opostos se atraem mas nunca se dão bem em conjunto. Está tudo dizendo que não.

- Não precisa ser assim.- Suspirei negando.

- Mas é.- Me dirigi a saída.

- Eu sou apaixonado por você desde a festa da Sabina, até antes, eu não lembro de um dia da minha vida desde que te vi pela primeira vez em que não penso em você.

- Isso machuca Bailey, para.

- Quando meu pai morreu fiquei feliz de saber que era você que estava comigo pra me apoiar.

Senti minhas mãos trêmulas, e meu olhar fixo sobre o mesmo que talvez naquele momento daria tudo para conseguir andar e falar comigo de perto.

- Não posso ter pedido tudo por uma insegurança boba.

- Não perdeu tudo por uma insegurança boba, as coisas mudaram, nós nunca dariamos certo, nossas famílias, minha vida e a sua. Eu tentei te odiar nos últimos dias mas não consegui, mas também não consegui lidar com tudo. Eu estou uma bagunça!

E nesse momento ele se calou, e eu me calei.

Eu sentia todas as emoções naquele quarto de hospital.

Encarei meus próprios pés.

- Se for embora, eu vou ter te perdido pra sempre.

- Quem garante que já não me perdeu?

- Por que você não me engana, não consegue me encarar. Se me encarar e disser que quer mesmo me esquecer então eu vou aceitar, mas se apenas sair por essa porta agora, eu vou saber que tenho esperanças, se ainda conseguir me recuperar a ponto de ir atrás de você.

Quando criança eu era muito boa em comparar coisas, cresci assim, comparando tudo.

Eu adorava comparar a vida com o mar, as vezes calmas, as vezes tempestuosas.

Eu sabia que estava navegando em um mar agitado, mas continuei ainda assim.

Eu não tinha o controle de tudo como achei que tinha.

As ondas foram fortes de mais para me derrubar, nesse momento eu podia escolher voltar para o barco e me aforgar.

Engoli a seco, e sem conseguir encara-lo eu saí do quarto.

Resolvi me afogar.

Resolvi me afogar

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24/7 -Shivley MaliwalOnde histórias criam vida. Descubra agora