Capitulo 4

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Ao contrario dos momentos anteriores, esse foi rápido, como um flash. Eu mal pisquei o olho e senti uma mão em minha cintura e uma boca colada na minha. Susto. Coração acelerado. Respiração interrompida. E então eu me dou conta. Sempre me falaram que a terceira tentativa é a que sempre dá certo.

O toque dele é suave e o beijo também. Não tem urgência e não é como se um monte de gente estivesse olhando pra gente. Mas nada nesse momento importa. Não quando encontramos o ritmo perfeito. Nem mesmo o fato de eu conhecer ele há apenas algumas horas importa mais. A sintonia e tão forte que é como se nós nos conhecessemos há anos. 

Sua mão na minha cintura é firme, sem apertar. Sinto meu peito subir e descer e meu coração bater mais forte que bateria de escola de samba. Tudo fica devagar e eu sei que o beijo vai durar apenas poucos minutos e por isso não me importo se tem pessoas atrás de nós querendo passar ou se têm curiosos a nossa frente admirando a cena. Pela primeira vez na vida, eu não me importo em ser o centro das atenções.

Sinto o toque, antes forte e firme, ir se soltando e nossos rostos se afastando. Um sorriso, como sempre, brinca em seus lábios e seus olhos tem uma expressão diferente. Eu tento não ficar com uma expressão confusa, nem apaixonada, mas também não posso ser indiferente. No fim das contas deixo que minhas emoções digam por si só.

- É sempre bom deixar uma boa lembrança. – Diz enquanto se afasta um pouco.

- Eu tenho que ir – Realmente eu sou a pior pessoa do mundo em momentos como esse. Talvez seja por isso que eu nunca consegui desenvolver um relacionamento de verdade. Quem simplesmente diz que tem que ir após receber um beijo desses? – Vou te ligar. E você sabe meu nome, pode me procurar no facebook.

 Ele abre um largo sorriso e antes que diga alguma coisa eu desço os degraus do ônibus meio correndo meio andando. Saio sorrindo feito uma boba. Uma coisa é você encontrar um garoto bonito no ônibus, trocar algumas ideias, jogar o papo fora. Outra é você simplesmente beijar esse garoto. Ou, melhor falando, deixar ele te beijar.

- Rebeca! Aqui Becky! – Escuto a voz firme do meu pai, fico perdida tentando encontrar em meio a tantas pessoas o dono da voz.

E então eu o vejo.

Faz anos que não o vejo! Continua quase o mesmo, talvez com pequenas rugas ao redor dos olhos e alguns fios brancos nos seus inúmeros cabelos pretos. Os fios brancos dão aquele charme de coroa em forma e sorrio sem nem ao menos perceber. Vejo que ele está vindo em minha direção e sem me dar conta também estou andando em encontro a ele.

A verdade é que eu amo meu pai. Mesmo com tantas memorias ruins e tantos desgastes em nossa relação o meu amor consegue encher meu coração. As memorias ruins são as que mais predominam em minha mente na maior parte do tempo, mas nesse momento só consigo me lembrar dos bons momentos.

De quando ele foi me buscar na escola e quando cheguei em casa tinha uma bicicleta com um laço enorme na sala. De quando ele me empurrava tentando me fazer andar sem as rodinhas, mas sem nunca me deixar cair. De quando assistíamos Tv juntos. De quando ele me deixava cuidar do seu cabelo e fazer penteados sem nem reclamar quando eu enchia sua cabeça de xuxinhas e creme com aroma de morango.

Nunca tinha me dado conta da saudade que apertava meu peito. Nesse momento ela parece me esmagar por inteira e parece que tudo que eu mais preciso é do seu abraço.

- Filha, olha só pra você – Ele segura meu rosto com as duas mãos e me dá um beijo na testa, depois me puxa em um abraço de forma que meu rosto fique sobre seu ombro enquanto ele passa seus braços por minhas costas. É aquele típico abraço de reencontro entre dois parentes queridos. E eu sinto meus olhos arderem.

Just a Year - (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora