A Cecilia me olha com total desprezo. Ela mexe em uma pequena mecha do seu cabelo e não exprime nenhum sorriso, como sempre faz. Claro que eu sei que todos aqueles sorrisos eram falsos, mas prefiro a falsidade explicita dela a forma como ela me olha. É como se eu tivesse virado um grão de arroz. Sinto meu estomago dar cambalhotas e ela continua me olhando com sua expressão de superioridade.
- O que você quer Cecília? – encosto-me à porta par ater apoio, já que deixei as muletas jogadas em cima do sofá e se apoiar em um pé só é bem difícil. – Sei que minha casa é legal, mas não precisa aparecer sempre.
Ela solta um suspiro debochado e um esboço de risada.
- O que eu quero é bem simples.- Ela solta o cabelo loiro que estava preso entre seu polegar e indicador e dá um passo pra frente, que me faz querer dar um passo para trás. Mas mesmo se eu conseguisse, não faria isso. – Eu já estou sabendo do papelão ridículo que você pagou correndo atrás do namorado dos outros. Para você ver como o mundo é justo, aí está o resultado de correr atrás de gente comprometida. – Ela lança um olhar desafiador para minha perna engessada e eu fico sem palavras por alguns instantes.
- Comprometido? – Solto uma risada sem humor e ela me olha de forma desafiadora. Faz meu estomago se remexer, mas mantenho minha compostura.
- Sim, comprometido. Eu já te falei. O lance do Brian não é você, garota. Toda vez que você aparece algo ruim acontece. E o que o Brian menos procura é confusão e estresse. Por isso ele está comigo. Nos completamos, entende?
- Você está me dizendo que tem orgulho em ser o brinquedo de diversão do Brian? – As palavras saem da minha boca antes que eu possa contê-las. Já imagino a mão da Cecilia em minha cara, fazendo um belo estrago com suas unhas vermelhas afiadas.
- Você não entende. Ainda pensa como uma garotinha de doze anos. – Ela me olha como se eu realmente fosse cinco anos mais nova e eu me sinto encolher. Como essa garota consegue fazer com que eu me sinta tão inferior apenas com olhares? – Depois que essa palhaçada desse trabalho acabar, quero você longe dele. E se algo acontecer na vida do Brian e você tenha a ver com isso, você não vai querer estar por perto quando eu descobri.
Minha boca se abre para dizer alguma coisa, mas eu não tenho o que dizer. Por isso tento manter a melhor expressão de desinteresse que consigo. E então ela se vira e entra no elevador, antes que eu tenha que olhar para sua cara novamente, fecho a porta. Com mais força do que eu gostaria.
A primeira coisa que acontece quando piso meus pés na escola, na segunda, é ser recheada com gritos de “finalmente”. Uma nuvem ruiva me abraça e eu cambaleio para trás, quase caindo.
- Se eu fosse você, não me apoiava tanto em mim. Ao menos que queria levar um tombo histórico. – Consigo falar, finalmente, depois que os braços finos da Penélope deixam meu pescoço.
- Eu passo duas semanas sem vim e quando finalmente volto para a escola você inventa um acidente! – Ela diz enquanto caminhamos até nosso banco no pátio, enquanto esperamos o sinal tocar. – Desculpa não ter ido te visitar, minha mãe me trancafiou em casa.
Por que eu não me espanto com isso?
- Não tem problemas. – Dou de ombros e me sento ao seu lado, no banco. – Perdi muita coisa?
- Bastante. – Ele diz com um suspiro e joga sobre minhas pernas seu caderno. – Está perto das provas já, sua sorte que não teve trabalho nem teste. E, aliás, já terminei o livro. Quando nós podemos começar a planejar a apresentação?
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Just a Year - (COMPLETA)
Teen FictionRebeca mora em São Paulo e está no último ano do ensino médio. Tudo que ela quer é apenas aproveitar esse último ano com sua melhor amiga e se formar logo. Mas o que ela não espera é que seu pai, com quem mantem uma relação conturbada há anos, lhe o...